Se queremos nos manter sempre firmes e vitoriosos na vida, temos de permanecer humildes e agradecidos.
Ninguém gosta de ser perdedor. O último livro da Bíblia, Apocalipse, que trata das “últimas coisas”, traz oito promessas diretamente aos vencedores, nenhuma aos perdedores, mostrando que a vontade de Deus é que triunfemos em tudo. O apóstolo Paulo externava essa certeza com gratidão: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento” (2 Co 2.14).
Destinados ao triunfo, como aprender a conviver com tal destinação para a vitória? Como permanecer fiel e não cair nas ciladas pós-conquistas?
Paulo certamente tomou emprestado essa figura da cultura romana para advertir os cristãos da Igreja de Corinto a respeito da possibilidade da queda após a euforia do triunfo. Ele alertava: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia”.
Quando Roma homenageava um general, após uma campanha vitoriosa, concedia-lhe a máxima honraria do Triunfo. O Triunfador, com cetro e coroa de louros, vestia um manto de púrpura bordado e sentava-se em um carro puxado por quatro cavalos brancos. Era precedido por senadores, rodeado por parentes e amigos, seguido por todo o seu exército e um grande número de cidadãos, conduzido em pompa pelas ruas da cidade até ao Capitólio. Adiante dele desfilavam o conjunto de despojos dos inimigos vencidos, juntamente com os reis aprisionados. Logo atrás, iam as vítimas que deveriam morrer em sacrifício e oferenda aos deuses.
Durante a cerimônia, um escravo tinha a missão de ir logo atrás do Triunfador proclamando: “Lembra-te que és homem! Cuidado! Cuidado! Não caias!”. Era um contrapeso às aclamações da multidão, para lembrá-lo de que era um simples mortal. Enquanto todos ovacionavam o homenageado, o escravo era usado para combater a possibilidade do orgulho que um aparato tão deslumbrante pudesse inspirar ao Triunfador.
Isto fazia parte do protocolo, pois temia-se que, em meio à embriaguez daquela glória passageira, o homenageado poderia se esquecer de sua mera condição humana e, diante de tal pompa e circunstância, vir a pensar que era um “deus”. A advertência servia para que o general se lembrasse que, muitas vezes, depois do Triunfo, havia sempre a possibilidade da queda.
Essa é uma advertência que tem o condão de ser útil a nações, pessoas e instituições. Serve para qualquer aspecto da vida. Veja o exemplo do povo de Israel que, após grandes triunfos (libertação do Egito, passagem pelo Mar Vermelho, milagrosa alimentação no deserto do Sinai) cometeu depois pecados de idolatria e imoralidade, razão pela qual toda uma geração foi rejeitada por Deus e veio a perecer.
A Júlio César foram concedidos dois Triunfos. Outorgaram-lhe o direito de ostentar diariamente os paramentos que um Triunfador só usava no dia do seu Triunfo. Foi-lhe assegurada a sacralidade de tribuno (que tornava sacrilégio fazer-lhe algum mal), sua efígie apareceu em novas moedas, sua estátua foi esculpida a expensas públicas e colocada no Capitólio, no fim da fila dos Sete Reis de Roma. Ele ainda recebeu do Senado os títulos de Pai da Pátria e Imperador.
Diante de tanta glória, descuidou-se de sua segurança e não foi capaz de identificar a conspiração que veio a ceifar sua vida.
Quem não conhece alguma pessoa ou empresa que se tornou arrogante pelo sucesso de um produto ou por um prêmio recebido? Quem não conhece alguém que, depois de uma conquista, se mostrou prepotente e orgulhoso?
Não há entre nós fartos exemplos de pessoas e empresas que se deixaram embriagar pela pompa e circunstância de um fugaz momento de glória e, pouco tempo depois, caíram em desgraça, perderam a importância, faliram?
Quantas marcas famosas, quantos impérios aparentemente indestrutíveis, quantas pessoas que pareciam inabaláveis, quando de repente tudo desabou, acabou em fulminante derrocada, sem que se conseguisse compreender de imediato as razões da queda.
Parece que, de repente, tudo veio abaixo depressa demais, não poucas vezes logo após um triunfo consagrador. Mas eu penso que nenhuma queda é “de repente”. Antes, elas ocorrem porque paulatinamente vamos deixando de ouvir a sábia voz da razão que diz: “Lembra-te que és homem! Cuidado! Cuidado! Não caias!”
A queda vem quando deixamos de ser humildes e pensamos que somos “deuses” intocáveis; porque, com o sucesso, vamos deixando de lado a sensatez e nos tornamos arrogantes e pretensiosos.
Devemos reconhecer, portanto, que “toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes”, sabendo que “o homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” (Tg 1.17; Jo 3.27). Tudo vem de Deus e deve voltar para Ele.
Se queremos nos manter sempre firmes e vitoriosos na vida, temos de permanecer humildes e agradecidos, honrando a Deus pelas conquistas. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. Este é o antídoto infalível contra a queda. Pastor Samuel Câmara
terça-feira, 31 de julho de 2012
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Saudades do Pastor Gentil
Quando minha esposa Ruth era criança, seu pastor era o Reverendo Gentil Medeiros em Barra de São João, Segundo Distrito de Casimiro de Abreu. Um senhor de cabelos brancos, simpático, ex combatente da 2°Guerra Mundial , que após ser reformado pela Marinha Brasileira, tornou-se aos olhos das ovelhas, o Almirante de Deus. Naquela época, os pastores das Assembleias de Deus na Região dos Lagos – Ministério de Madureira, na sua maioria eram sargentos ou sub oficiais da Marinha do Brasil, servindo no quartel em São Pedro da Aldeia. Mais o que nos chama a atenção naquela paraibano de grande estatura, tanto física como moral, era seu amor pelas ovelhas. Quando alguém se ausentava dos cultos regulares por doença, ou fraqueza espiritual, ele prontamente saia em busca da ovelha. Com 4 anos de casado, tive o privilegio de ser pastor auxiliar do reverendo Gentil em Armação dos Búzios, já com idade bem avançada, porém sem perder as características do velho pastor integro que gasta sua vida no apascentar de ovelhas. Gentil Medeiros fez parte de uma geração de pastores respeitados e amados pela igreja e a sociedade local no qual estavam inseridos. Quando morria alguém, lá estava ele oficiando a cerimônia fúnebre e consolando a família enlutada . Nas festas de casamento, 15 anos, bodas de prata e ouro, lá estava o velho pastor acompanhado de sua esposa irmã Carminha. Ele não era administrador de empresas, psicólogo, gerente de banco, ou político. Fizera voto no Altar para ser pastor de ovelhas do Senhor Jesus, Missão para o qual fora chamado após os horrores da Grande Guerra. Hoje não é mais assim. Muitos que almejaram o episcopado, se desviaram do firme propósito de servir a Deus e a sua igreja, para se servirem da gordura e lã das ovelhas e participarem de banquetes no palácio do rei. Quando da reinauguração do templo da Assembleia de Deus em Cem Braças, bairro popular do Balneário Buziano , a foto do velho pastor Gentil foi exibida na parede como prova cabal de seu legado como verdadeiro pastor que combateu o bom combate. Muitos pastores já passaram por Barra de São João e Armação dos Buzios, porém nenhum deles, teve a gentileza no nome e o amor missionário no coração como Gentil Medeiros, o meu pastor. O nosso pastor Almirante. Saudades. Baruck Há Shem! Sergio Cunha.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
A visão de um vencedor
Imagine que você está diante de um professor, na sala de aula, e este lhe apresente uma grande folha de cartolina branca, pintada na parte inferior com um pontinho preto, e lhe pergunte: “O que você estão vendo?”. A sua resposta pode não lhe deixar reprovado no final do ano, mas serve para indicar se você tem ou não a visão de um vencedor.
O ex-Secretário-Geral da ONU, Koffi Anan, algum tempo atrás se reportou a uma situação semelhante acorrida quando ainda era criança, que mudou seu modo de ver os problemas da vida. Um por um dos alunos respondeu que via apenas um pontinho preto na cartolina branca.
Depois que todos falaram, o professor aplicou-lhes a seguinte lição: “Se vocês forem para a vida com essa atitude, serão todos derrotados. Quem enxerga a vida pelo lado pior das coisas, acaba sempre machucado. Vocês se acostumaram a pensar pequeno, a olhar apenas problemas, porque têm uma visão inferior de si próprios. Vejam bem, de fato, há um pontinho preto; mas o que dizer do resto da folha de cartolina? Não é toda ela branca? O ponto preto representa os problemas da vida. A parte branca representa as possibilidades diante de vocês. Mudem sua visão, mudem o modo como se veem diante dos problemas, vejam antes as possibilidades, e se habilitarão a ser verdadeiros vencedores!”.
Constantemente eu tenho atendido a inúmeras pessoas no gabinete pastoral, a maioria cheia de problemas e alquebradas por diversas tristezas, quer sejam causadas por simples erros cometidos ou pecados repugnantes, ou porque alguém de alguma forma os fez sofrer.
Normalmente quem enfrenta problemas tem dois sentimentos básicos que precisam ser enfrentados: um é a estreiteza de mente que teima em deter a visão demasiadamente no passado; o outro, a obtusidade de sentimentos em valorizar demais as coisas negativas.
Os que detém a sua visão no passado e pensam em demasia no que poderia ter acontecido, correm um risco semelhante ao de alguém que caminha numa calçada olhando para trás, ou ao de um motorista que dirige olhando pelo retrovisor do carro, atentando ao que se passa na retaguarda, mas se descuidando do caminho adiante. Ambos têm uma grande possibilidade de uma desastrosa trombada.
A experiência, ou a estrada já percorrida, é uma grande mestra. Os destroços da retaguarda servem apenas como balizamento das lições que aprendemos, mas não servem para nos sinalizar a caminhada à frente. Sejam quais forem os erros que cometemos, ou quaisquer que sejam os erros cometidos contra nós, nosso único caminho é seguir em frente. O que foi e o que poderia ter sido podem servir como advertência, mas é a estrada adiante e seus alvos propostos que devem motivar a nossa atenção.
Quem só enxerga o lado ruim das coisas, perde a capacidade de celebrar e viver o que a vida oferece de melhor. Prefere antes centrar-se no sofrimento e culpar a Deus pelos males do mundo, em vez de se esforçar para melhorar o mundo ao seu redor. Não consegue ver propósito algum nas coisas corriqueiras. Se faz calor, é um “calor infernal”; se chove, é “chuva maldita”; e toda dor demanda logo uma droga que lhe estanque.
Mas a irritação não solucionará problema algum e as contrariedades não alteram a natureza das coisas. Além do mais, os desapontamentos que temos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar – tanto para sermos curados interiormente, como para nos ajudar a ver melhor as coisas e delas tirar proveitosas lições para a vida.
Qualquer que tenha sido o problema, a dor que sentimos não impedirá que o sol brilhe amanhã sobre os bons e os maus, e a nossa tristeza não iluminará os caminhos. É bom lembrar, também, que o desânimo que sentimos não edificará ninguém e as nossas lágrimas não substituem o suor que devemos verter em benefício da nossa própria felicidade. Ademais, as nossas reclamações jamais acrescentarão nos outros uma só grama de simpatia por nossa vida.
É necessário que aprendamos a ver cada situação difícil da vida como uma oportunidade de operação do milagre de Deus em nosso favor. Deus nos ama e se importa conosco, sabe que sofremos e pode nos ajudar. Mas temos que aprender a manter a fé e uma atitude correta diante dos problemas que enfrentamos.
O apóstolo Paulo, a despeito dos embates da vida e de suas limitações pessoais, tinha a visão de um vencedor. Ele dizia: “Uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que adiante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13,14).
A visão de um vencedor não se detém nas experiências trágicas do passado nem nas dificuldades do presente, mas serve-se delas como coadjuvantes de sua caminhada de fé vitoriosa na construção da obra prima de sua própria vida. Pr.Samuel Câmara
FOTOS NA 4°EXPO GOSPEL CABO FRIO
Prs:Sergio Cunha, Adão Thomaz e Jeu Fonseca
Valmir Santos, e Prs:Sergio Cunha e Paulo Gomes Silva
Pr.Sergio Cunha, Josué, e Pr.Nilson Ribeiro
Prs:Sergio Cunha, Robson Monteiro.
Pr.Lucas Deocleciano ladeado pelos amigos
Casal Santos ladeado pelos amigos
Vereador Francisco Souza, Pr.Sergio Cunha e Pr.Messias Valladares
Pb.Rogerio Ranxel Xavier.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Preparados para vencer as lutas da vida
Uma filha se queixou ao pai sobre sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis. Ela não sabia mais o que fazer, estava cansada de lutar e queria desistir. Assim que ela resolvia um problema, um outro lhe surgia. Seu pai, um experiente cozinheiro, levou-a até a cozinha e encheu três panelas com água, colocando-as em fogo alto. Em uma colocou cenouras, em outra colocou ovos, e na última, café em pó. Esperou que tudo fervesse, mas permaneceu calado. A filha esperava impacientemente, imaginando o que ele lhe diria.
Algum tempo depois, seu pai apagou o fogo, retirou as cenouras e os ovos, e os colocou em um prato. Então colocou o café numa xícara. Virando-se para ela, perguntou: “Querida, o que você está vendo?”. “Cenouras, ovos e café” – ela respondeu. Ele a trouxe para mais perto e pediu-lhe para experimentar as cenouras. Ela o fez e notou que as cenouras estavam moles. Ele, então, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela retirou a casca e verificou que o ovo endurecera com a fervura. Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ela provou seu aroma delicioso e perguntou: “O que isto significa, pai?”.
Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, água fervendo, mas que cada um reagira de maneira diferente. A cenoura entrara forte e inflexível. Porém, depois de ter sido submetida à água fervente, amolecera e se tornara frágil. Os ovos eram frágeis e sua fina casca protegia o líquido interior. Mas depois, seu interior se tornou mais rijo. O pó de café, contudo, era incomparável. Depois de fervido, havia mudado a água. “Qual deles é você? Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde? Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café?” – ele perguntou.
Assim é a vida. Fulano parece forte, mas com a dor e a adversidade murcha, perde sua força e torna-se frágil. Beltrano tem um coração maleável e um espírito dócil, mas depois de uma demissão, uma falência, um divórcio ou uma perda qualquer, torna-se ríspido e duro. Até parece a mesma pessoa, mas fica amargo e obstinado, com o coração e o espírito inflexíveis. Cicrano, porém, enfrenta a vida com sobriedade. Embora as coisas se tornem piores, torna-se cada vez melhor e faz com que as coisas em torno de si também melhorem.
Quando interagimos com as pessoas, aprendemos desde cedo a agir e a reagir a certos estímulos, o que inclui as críticas dos despeitados, os maus tratos dos tolos, as insinuações dos maldosos, as provocações dos impiedosos, o desprezo dos insensíveis, e outras coisas. Essas adversidades corriqueiras podem nos tornar mais fortes ou destruir a nossa autoestima e desestabilizar toda a nossa vida.
O que faz a diferença é a nossa resposta, se agimos ou reagimos. Quando alguém reage, está partindo dos estímulos e não de suas convicções interiores. Por isso, é levado na enxurrada de emoções que os estímulos facultam, alterando a sua tessitura interior para responder aos mesmos. Nesse caso, são as circunstâncias que estão no controle, não a pessoa.
No agir pelas convicções corretas, contudo, parte-se da realidade do ser interior, não do que os estímulos externos insistem para que sejamos. Esse é o ponto de partida para que possa manter o senso de equilíbrio. Assim, em função de saber quem é e quais convicções possui, a pessoa recusa-se a retribuir o mal com o mal e se mantém “senhor” de sua própria conduta.
Jesus procedia desse último modo. Pedro testemunhou assim a seu respeito: “Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2.21.23).
Pessoas que só reagem podem até conquistar algo na vida, mas serão reféns eternos de suas próprias amarguras interiores. Aqueles que seguem suas convicções e andam corretamente, mesmo que não consigam tudo, ao final terão a certeza de que ajudaram a melhorar a vida ao seu redor.
Estamos próximos do início das Olimpíadas de Londres, quando milhares de atletas lutarão por medalhas e buscarão honrar seus países. Esses exemplos nos servirão de metáforas vivas a nos indicar, como preconizou Gonçalves Dias, que “a vida é combate, que os fracos abate; que os fortes, os bravos, só pode exaltar”. Oro para que Deus nos ajude a ser fortes e preparados para vencer as lutas da vida.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
A LIDERANÇA EVANGÉLICA BRASILEIRA E A POLÍTICA SECULAR: ACERTOS E DESACERTOS
Mais um pleito eleitoral se aproxima e as discussões em torno do envolvimento da igreja evangélica com a política secular ressurgem com toda a força.
Fazer uma análise da real situação num país tão grande como o Brasil é uma tarefa bastante complexa, mas nada que impeça uma breve reflexão, resultado de vivências e observações críticas da realidade.
Indo direto ao ponto, e partindo de uma análise a partir da postura das lideranças evangélicas sobre a questão, percebo pelo menos cinco situações concretas: lideranças corruptas, lideranças comprometidas, lideranças ingênuas, lideranças engajadas, lideranças resistentes, lideranças convenientes e lideranças cuidadosas.
Na primeira situação, a liderança evangélica corrupta já se vendeu e se corrompeu, perdendo todo o escrúpulo, ética, moral e acima de tudo, o temor a Deus. Fazem toda a sorte de negociatas com políticos corruptos, que não a respeitam e se gloriam de tê-la nas mãos.
Na segunda situação, a liderança evangélica comprometida, mesmo bem intencionada, percebe o quanto se envolveu com o sistema e o esquema, pensa numa forma de sair, mas não consegue achar. Nessa situação, os políticos fazem cobranças dos favores concedidos e não aceitam a esquiva do líder em não apoiar os seus projetos políticos e eletivos. Em alguns casos, ameaçam tornar públicos alguns fatos que comprometeriam a reputação do líder evangélico diante da comunidade cristã e da opinião pública.
Na terceira situação, a liderança evangélica ingênua, geralmente não experimentada nas relações políticas, sucumbe diante da sedução dos elogios, das ofertas (dinheiros, títulos, cargos, vantagens, etc.) direcionadas ao indivíduo ou à instituição, e não imagina o que isso lhe custará. Os ingênuos acabam na mão das cobras-criadas e das velhas raposas (travestidos de políticos e assessores, “crentes” ou não).
Na quarta situação, a liderança evangélica engajada declara e insiste que é possível lidar com a política, sem necessariamente estar comprometido com qualquer tipo de esquema, corrupção ou negociata. Argumentam que a presença de representantes nas diversas esferas da política nacional é importante e fundamental para a garantia do pleno exercício da liberdade religiosa. Adotam a posição de defensores dos direitos civis da igreja.
Na quinta situação, a liderança evangélica resistente demoniza, repudia e não admite qualquer relação de proximidade entre igreja e política. Chegam a afirmar que política é coisa do diabo. Neste caso, a alienação é compreendida como santificação. Sustentam sua posição apontando para as experiências negativas de outras lideranças no envolvimento com política e políticos.
Na sexta situação, a liderança evangélica conveniente não se define totalmente. A sua posição em relação ao envolvimento com a política e com partidos depende do momento e das circunstâncias imediatas. Se for para se “queimar” fica de fora. Se alguma possível vantagem, desde que não venha lhe trazer alguns desgaste for sinalizada, ele manifesta apoio publicamente e entra de cabeça no processo. A liderança conveniente é contraditória. Para tal liderança as questões ideológicas são irrelevantes. O seu apoio político a determinado candidato ou partido muda a cada pleito. A alternância de suas preferências depende do que “rolou” nos anos passados, e do que está “rolando” no presente.
Na sétima situação, a liderança evangélica cuidadosa, sendo sabedora daquilo que outros líderes vivenciam, resiste de todas as formas às pressões de fora e de dentro (movidas por interesses pessoais), evitando ao máximo qualquer aliança, pacto ou compromisso com a política secular. Esses buscam a politização da igreja, a educação política dos seus membros para o pleno e livre exercício de sua cidadania. Estão dispostos a cooperar com os poderes legislativo, judiciário e executivo, desde que tal cooperação não promova a transgressão dos princípios imutáveis da Palavra de Deus. Oram pelos governantes, e honram a quem é devida a honra.
Seja qual for o perfil e a situação vivenciada pela liderança evangélica em seu contexto imediato no Brasil (principalmente nos governos eclesiásticos episcopais, como no caso das Assembleias de Deus), algumas questões precisam ficar claras e bem definidas:
- A capacidade crítica dos membros da igreja não deve ser subestimada;
- A liberdade do exercício da cidadania dos membros da igreja não deve ser violentada;
- O coronelismo e o totalitarismo evangélico já faliram;
- O tempo do curral eleitoral eclesiástico já se foi;
- O líder evangélico não é “dono” dos votos da igreja local;
- O líder evangélico pode emitir sua opinião e preferência política, mas não deve impô-la;
- O líder evangélico, no caso de manifestar apoio a algum candidato, deve tentar convencer a igreja em vez de coagir, constranger e ameaçar a mesma; Se a sua posição como líder evangélico em relação à política promove o aumento de problemas, desgastes, divisões e de outros males para igreja local, reveja urgentemente vossa postura e prática.
Não deixe que a política secular comprometa a vossa vocação ministerial. Não permita que o seu ministério caia no descrédito. Não destrua o que foi construído ao longo dos anos. Se você perder a capacidade de influenciar positivamente as pessoas, perderá a sua liderança.
Siga o exemplo de Jesus e dos santos apóstolos, e não relativize os princípios das Sagradas Escrituras.
No temor de Cristo e em oração pela liderança evangélica brasileira, Altair Germano.
Como será a igreja evangélica brasileira de 2040?
Saiu nos jornais o resultado de uma pesquisa do IBGE com dados interessantes sobre a realidade evangélica no Brasil. O dado que mais nos chamou a atenção é o que diz respeito à categoria evangélica que mais cresce: o “evangélico sem igreja”. A maior parte desse grupo não é de evangélicos “nominais” (os que se autodenominam evangélicos, mas não frequentam uma igreja); antes, é composta pelos que se consideram evangélicos, mas não se identificam com denominação alguma. Longe de ser “nominal” ou “não-praticante”, o evangélico sem igreja talvez frequente várias igrejas sem se definir por uma; ou pode ser que assista a uma igreja durante alguns meses, antes de passar facilmente a outra. Com isso, não chega a se sentir assembleiano ou batista ou presbiteriano ou quadrangular. Existe, então, um setor crescente de pessoas que se identificam como evangélicas, mas não como pertencentes a uma determinada denominação.
Há também outra tendência que logo vai aparecer. Ainda não temos os resultados religiosos do Censo de 2010, mas as pesquisas recentes indicam que a porcentagem de evangélicos continua crescendo -- não no ritmo dos anos 90 (que foi inteiramente excepcional), mas voltando ao ritmo de crescimento que caracterizou os anos 50, 60, 70 e 80. Contudo, esse crescimento um dia vai parar. Tal afirmação não é uma questão de “falta de fé”! Mesmo estatisticamente, nenhum processo de crescimento pode durar para sempre. Percebemos, pelas tendências atuais, que o fim do crescimento evangélico no Brasil pode não estar distante. De cada duas pessoas que deixam de se considerar católicas, apenas uma passa a se considerar evangélica. Além disso, evidentemente, a Igreja Católica não está a ponto de desaparecer. Fenômenos como a Canção Nova e outros testemunham disso; ou seja, há formas de catolicismo que arrebanham muita gente. É verdade que o catolicismo continua diminuindo numericamente, mas principalmente entre adeptos nominais ou de vínculo fraco. Existe um núcleo sólido que não está desaparecendo e que constitui, provavelmente, em torno de 25 a 30% da população. Pelas tendências atuais, será difícil que os evangélicos, que hoje são em torno de 20%, passem de 35% da população.
Tudo isso significa que logo vivenciaremos uma nova fase da religião evangélica no Brasil. Estamos desde os anos 50 na fase do crescimento rápido. (Antes dos anos 50 as igrejas não cresciam tanto.) Crescimento rápido significa que a igreja média tem poucas pessoas que nasceram evangélicas, mas muitas que se converteram, inclusive que acabaram de se converter. Essa situação é privilegiada sob muitos aspectos, mas também tem certas implicações. Quando terminar a fase do crescimento rápido -- provavelmente nas próximas duas ou três décadas --, haverá outro perfil em uma igreja média: mais pessoas que “nasceram na igreja” e menos que se converteram ou que acabaram de se converter. Com isso, muitas coisas mudarão. O perfil de liderança eclesiástica exigida mudará. O crescimento rápido privilegia certo tipo de líder: o que tem um ministério capaz de atrair novos membros. Isso, claro, é muito importante, e sempre haverá espaço para esse tipo de líder. Porém, com a estabilização da igreja, haverá mais espaço para outras modalidades de liderança. E, como sabemos pelo Novo Testamento, os ministérios na igreja são múltiplos e variados. Não devemos ter uma linha de montagem de líderes cristãos com todos exatamente iguais. Temos de abraçar a variedade de ministérios e de tipos de líder evangélico.
Por que no futuro uma variedade de tipos de líder será ainda mais importante? Quando as igrejas crescem muito, a exigência é fazer bem o bê-á-bá, pois há sempre pessoas novas chegando. Entretanto, quando há uma comunidade estabilizada numericamente, com mais pessoas com muito tempo de vivência evangélica, outras exigências ganham força. “Entre a conversão e a morte, o que tenho de fazer? Como desenvolvo a minha fé? Como devo crescer nas mais variadas áreas? O que significa ser discípulo de Cristo em todas as dimensões da vida? O que a fé evangélica tem a dizer sobre as questões que agitam a sociedade?” Haverá, então, mais exigência por um ensino variado e por pessoas que saibam falar para a sociedade em nome da fé evangélica. Precisaremos de pessoas preparadas nas mais diversas áreas de interface com a sociedade; portanto, precisaremos de ministérios cada vez mais diversificados. Esse tipo de líder não aparece da noite para o dia, pois a formação leva tempo. O carisma e o autodidatismo não bastam nesses casos.
Além disso, será cada vez mais importante a questão da transparência: primeiro, porque é uma demanda do próprio evangelho e, segundo, porque (queira Deus!) o Brasil de 2040 terá uma democracia mais limpa e transparente. Os líderes evangélicos do futuro precisarão ter vida pessoal capaz de ser examinada. Haverá menos tolerância para o líder inacessível e opaco, que vive atrás das máscaras. Em vez disso, uma liderança mais exposta e vulnerável será exigida. E as técnicas não ajudam nisso. O que produz esse tipo de líder é um profundo processo de formação pessoal, que leva tempo.
Se não houver pessoas à altura, é possível que, quando terminar o crescimento rápido, em vez de uma comunidade evangélica estabilizada em torno de 35% durante gerações e com um efeito benéfico profundo na vida do país, haja um decréscimo na porcentagem de evangélicos. A curva numérica que agora ascende rapidamente pode cair de forma igualmente rápida. O evangélico ingênuo, que acha que isso nunca poderá acontecer, desconhece a história da igreja cristã, pois isso aconteceu algumas vezes em outros países. Se não tivermos um olhar para o futuro, para perceber os desafios de amanhã e nos preparar hoje para eles, a probabilidade é que esse declínio aconteça.
Portanto, o primeiro desafio de hoje em função do futuro é formar um leque de tipos de líder, com ministérios variados, mas sempre humildes e com vidas transparentes. E o segundo desafio é a recuperação da Bíblia. A identidade evangélica não deve estar ligada meramente a uma tradição que se chama evangélica. Antes, ser evangélico significa a vontade de ser verdadeiramente bíblico, em todas as dimensões da vida com Cristo. E a Bíblia é um grande país, um terreno vasto, que precisamos conhecer por inteiro. Todavia, perdemos muito o sentido de ser bíblico. É raro hoje ouvir sermões verdadeiramente embasados na Bíblia. São mais comuns aqueles que nem sequer partem da Bíblia, ou aqueles em que o pregador lê um texto bíblico para depois falar de outro assunto. É incomum a interação séria com o texto bíblico, em que se deixa o texto falar para depois se fazer as aplicações para a vida pessoal, comunitária e social. É raro porque é difícil. Esse tipo de mensagem requer formação, preparo, pensamento, meditação. Via de regra, na fase atual do crescimento rápido, é mais fácil não fazer tudo isso, se preocupar apenas em ter uma igreja cheia.
Em um futuro próximo, porém, esse enfoque será cada vez mais necessário. Se não recuperarmos a capacidade de interagir com o texto bíblico, de deixá-lo falar a nós e, a partir disso, tirar as implicações individuais, eclesiásticas e nacionais, nos mostraremos irrelevantes. Assim, é possível que a curva decline logo após a estabilização, pois a capacidade de estudar e ensinar a Bíblia é algo que não se constrói da noite para o dia. É necessário exigirmos de nossos líderes que ensinem a Palavra, que interajam profundamente com o texto bíblico, que não fujam! Contudo, o bom ensino na igreja precisa também ser complementado pela leitura individual. É fundamental adquirir menos livros água com açúcar ou triunfalistas e mais leituras que nos embasem biblicamente.
O processo, portanto, tem de começar com os membros comuns exigindo uma melhor qualidade de ensino e de literatura. A nova liderança para fazer frente aos desafios de 2030 e 2040 só vai surgir se houver uma demanda articulada a partir dos membros das igrejas.
Dentro do tema da recuperação da Bíblia, insisto na centralidade dos Evangelhos. Comenta-se que a fé evangélica se tornou prisioneira da cultura religiosa da barganha. Ora, uma das maneiras de superar a cultura da barganha é incentivar a dedicação a uma causa (como fazem os movimentos políticos mais ideológicos). O problema, neste caso, é a persistência ao longo do tempo, a capacidade de continuar dedicado a ela durante décadas e apesar dos contratempos. Porém, existe uma outra maneira de combatermos a cultura religiosa da barganha: encantando-nos com a figura de Cristo, com a humildade amorosa de sua figura humana retratada nos quatro Evangelhos. O melhor antídoto para a cultura da barganha é o fascínio por Cristo, que advém do estudo sério dos Evangelhos.
A igreja evangélica brasileira de 2040 precisará, portanto, de líderes mais diversos nos seus dons, profundos no seu conhecimento e sabedoria e transparentes nas suas vidas; e precisará ter redescoberto o verdadeiro sentido de ser evangélico, que é a vontade de ser profundamente bíblico em toda a nossa existência. Esses dois requisitos existirão se a igreja de hoje tomar as medidas necessárias.
• Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.
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