sexta-feira, 6 de julho de 2012

A LIDERANÇA EVANGÉLICA BRASILEIRA E A POLÍTICA SECULAR: ACERTOS E DESACERTOS


Mais um pleito eleitoral se aproxima e as discussões em torno do envolvimento da igreja evangélica com a política secular ressurgem com toda a força.
Fazer uma análise da real situação num país tão grande como o Brasil é uma tarefa bastante complexa, mas nada que impeça uma breve reflexão, resultado de vivências e observações críticas da realidade.
Indo direto ao ponto, e partindo de uma análise a partir da postura das lideranças evangélicas sobre a questão, percebo pelo menos cinco situações concretas: lideranças corruptas, lideranças comprometidas, lideranças ingênuas, lideranças engajadas, lideranças resistentes, lideranças convenientes e lideranças cuidadosas.
Na primeira situação, a liderança evangélica corrupta já se vendeu e se corrompeu, perdendo todo o escrúpulo, ética, moral e acima de tudo, o temor a Deus. Fazem toda a sorte de negociatas com políticos corruptos, que não a respeitam e se gloriam de tê-la nas mãos.
Na segunda situação, a liderança evangélica comprometida, mesmo bem intencionada, percebe o quanto se envolveu com o sistema e o esquema, pensa numa forma de sair, mas não consegue achar. Nessa situação, os políticos fazem cobranças dos favores concedidos e não aceitam a esquiva do líder em não apoiar os seus projetos políticos e eletivos. Em alguns casos, ameaçam tornar públicos alguns fatos que comprometeriam a reputação do líder evangélico diante da comunidade cristã e da opinião pública.
Na terceira situação, a liderança evangélica ingênua, geralmente não experimentada nas relações políticas, sucumbe diante da sedução dos elogios, das ofertas (dinheiros, títulos, cargos, vantagens, etc.) direcionadas ao indivíduo ou à instituição, e não imagina o que isso lhe custará. Os ingênuos acabam na mão das cobras-criadas e das velhas raposas (travestidos de políticos e assessores, “crentes” ou não).
Na quarta situação, a liderança evangélica engajada declara e insiste que é possível lidar com a política, sem necessariamente estar comprometido com qualquer tipo de esquema, corrupção ou negociata. Argumentam que a presença de representantes nas diversas esferas da política nacional é importante e fundamental para a garantia do pleno exercício da liberdade religiosa. Adotam a posição de defensores dos direitos civis da igreja.
Na quinta situação, a liderança evangélica resistente demoniza, repudia e não admite qualquer relação de proximidade entre igreja e política. Chegam a afirmar que política é coisa do diabo. Neste caso, a alienação é compreendida como santificação. Sustentam sua posição apontando para as experiências negativas de outras lideranças no envolvimento com política e políticos.
Na sexta situação, a liderança evangélica conveniente não se define totalmente. A sua posição em relação ao envolvimento com a política e com partidos depende do momento e das circunstâncias imediatas. Se for para se “queimar” fica de fora. Se alguma possível vantagem, desde que não venha lhe trazer alguns desgaste for sinalizada, ele manifesta apoio publicamente e entra de cabeça no processo. A liderança conveniente é contraditória. Para tal liderança as questões ideológicas são irrelevantes. O seu apoio político a determinado candidato ou partido muda a cada pleito. A alternância de suas preferências depende do que “rolou” nos anos passados, e do que está “rolando” no presente.
Na sétima situação, a liderança evangélica cuidadosa, sendo sabedora daquilo que outros líderes vivenciam, resiste de todas as formas às pressões de fora e de dentro (movidas por interesses pessoais), evitando ao máximo qualquer aliança, pacto ou compromisso com a política secular. Esses buscam a politização da igreja, a educação política dos seus membros para o pleno e livre exercício de sua cidadania. Estão dispostos a cooperar com os poderes legislativo, judiciário e executivo, desde que tal cooperação não promova a transgressão dos princípios imutáveis da Palavra de Deus. Oram pelos governantes, e honram a quem é devida a honra.
Seja qual for o perfil e a situação vivenciada pela liderança evangélica em seu contexto imediato no Brasil (principalmente nos governos eclesiásticos episcopais, como no caso das Assembleias de Deus), algumas questões precisam ficar claras e bem definidas:
- A capacidade crítica dos membros da igreja não deve ser subestimada;
- A liberdade do exercício da cidadania dos membros da igreja não deve ser violentada;
- O coronelismo e o totalitarismo evangélico já faliram;
- O tempo do curral eleitoral eclesiástico já se foi;
- O líder evangélico não é “dono” dos votos da igreja local;
- O líder evangélico pode emitir sua opinião e preferência política, mas não deve impô-la;
- O líder evangélico, no caso de manifestar apoio a algum candidato, deve tentar convencer a igreja em vez de coagir, constranger e ameaçar a mesma; Se a sua posição como líder evangélico em relação à política promove o aumento de problemas, desgastes, divisões e de outros males para igreja local, reveja urgentemente vossa postura e prática.
Não deixe que a política secular comprometa a vossa vocação ministerial. Não permita que o seu ministério caia no descrédito. Não destrua o que foi construído ao longo dos anos. Se você perder a capacidade de influenciar positivamente as pessoas, perderá a sua liderança.
Siga o exemplo de Jesus e dos santos apóstolos, e não relativize os princípios das Sagradas Escrituras.
No temor de Cristo e em oração pela liderança evangélica brasileira, Altair Germano.



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