domingo, 30 de setembro de 2012

SE...

* Se José dependesse dos votos de seus IRMÃOS, nunca teria sido Governador-geral do Egito. Ele chegou lá porque não dependia dos votos do seu povo. Em caso de eleição, certamente seus irmãos votariam em faraó e quem sabe até na mulher de potifar. Não faltam ímpias buscando votos dos eleitos de Javé.

* Se Moisés dependesse dos votos de seus IRMÃOS, nunca teria sido Legislador dos Hebreus e Líder da Saida Triunfal do Egito. Ele chegou lá porque não dependia dos votos do seu povo, que em caso de eleição certamente votaria no Chefe-geral do CEASA EGÍPCIO, para ter assegurado o suprimento de cebolas, pepinos e melões. E com certeza garantiriam a eleição dos magos da corte. O povo de Deus ama eleger magos e até satanistas para serem seus representantes.

* Se Daniel dependesse dos votos de seus IRMÃOS, nunca teria sido Primeiro-Ministro em Babilonia. Ele chegou lá porque não dependia dos votos do seu povo. Em caso de eleição, eles prefeririam os sátrapas. O povo de Deus tem prazer em votar naqueles que mandarão Daniel para junto dos leões e seus amigos para o meio da fornalha.

* Se Ester dependesse dos votos das suas IRMÃS, jamais teria sido rainha na Pérsia.  Ela chegou lá porque não dependia dos votos do seu povo, que prefere eleger vasti no primeiro turno, a fim de manter o ébrio artaxerxes no comando da nação.

* Numa votação feita há dois milênios, os IRMÃOS de Jesus votaram maciçamente em Barrabás, visto que a mídia lhe deu maioria em todas as pesquisas.

Nota: estas reflexões não são políticas e sim espirituais. Nossa fidelidade a Cristo precisa estar acima de dinheiro, empregos, posições, bajulações e fama temporária. Vale a pena viver o que está escrito e prescrito em Lucas 1. 74,75: ...de conceder-nos que, libertados da mão de nossos inimigos, o serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida. Pr.Geziel Gomes

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

José explica: o segredo dos que fracassaram

 “Por que não fui eu o escolhido?”


Essa pergunta, tão comum quando vemos tantos prosperarem, encerra nela um pecado: a inveja. Inveja é uma espécie de rebelião, já que desdiz e desacredita os desígnios do próprio Deus: Se o Todo Poderoso dá algo a um e não há outro, Ele conhece seus propósitos. O invejoso em si crê poder receber o que foi dado ao outro, imagina-se na roupagem e cenário dado a outro, como se fosse capacitado a pilotar a existência alheia.

Ele vê o bem alheio, o talento, a família, o amor, a posição social, e crê plenamente que ele poderia estar ali, vestido naquela vida.

Salvo as injustiças sociais, tão comuns, podemos ver gente se candidatando a ser o que não é, mas fracassando copiosamente. É a você, invejoso incubado, a quem me dirijo.

Você conhece José, o do Egito? Não? Aquele que fez do Egito um dos países mais ricos do velho mundo? Acima dele, só faraó, o presidente. Ele é personagem do primeiro livro da Bíblia, Gênesis (aquele mesmo que fala sobre Adão e Eva, Noé, Caim e Abel, a Torre de Babel, Sodoma e Gomorra). Caso você nunca tenha lido, o livro possui 50 capítulos e só para contar a história desse personagem usou-se mais de um quinto do livro (começa-se a falar sobre ele logo no capítulo 38). Caso você se diga “crente” e não conheça a história... meu amigo... o que anda fazendo em sua comunidade cristã? Porque fazendo papel de crente é que não está: Crente lê bíblia, entende?

Algumas coisas sobre José podem elucidar porque ele conseguiu, e você não:

José soube identificar as coisas sagradas, mesmo sendo coisas pequenas e - aparentemente - infantis.
Ele enxergou a missão que Deus tinha para ele, e ingenuamente, provocava os irmãos com isso. Contava os sonhos aos familiares, como se fosse decreto para os que o rodeavam. Cria ser aquilo algo vindo dos céus, capaz de se cumprir, mesmo sendo apenas visões subjetivas, que poderiam ser causadas por uma feijoada mais caprichada, ou o excesso de vinho ingerido na noite anterior (embora hebreu, até aquele tempo, comer carne de porco ainda era liberada).

Não: José confiou no que ia em seu íntimo e não arredou o pé de sua crença, mesmo quando o mundo todo conspirou contra ele.

E você? É guiado pelo que? Pelo senso comum e racional da maioria, abandonando aquela “intuição”, e mudando a cada oscilação de ventos? A propósito: o que é senso comum e racional? Isso é possível?

José é odiado por sua própria casa. Isso não moldou sua personalidade.
Os principais opositores e inimigos eram íntimos: eis o perigo da inveja, ela ocorre debaixo do mesmo teto (vide Caim e Abel, Davi e Saul). Ele aprendeu isso a duras penas, mas não se deixou envenenar por muito tempo pela possibilidade de vingança quando teve tudo em suas mãos. Os irmãos, que planejaram matá-lo e o venderam como escravo a estrangeiros, poderiam enfrentar um sério castigo, mas José, único, tinha uma visão diferenciada das coisas que aconteciam ao seu redor.

A Psicologia atribui boa parte de nossa tragédia pessoal a experiências de nossa infância. José parece não ter sido notificado disso. Ele simplesmente continuou vivendo, agindo como sabia, mantendo seus valores e suas crenças, atento às oportunidades que o cercavam.

José não permitiu que o estímulo a sua sexualidade ditasse sua conduta.
Longe de casa, vendido como escravo pelos próprios irmãos quando tinha 17 anos, administrando a casa de um egípcio e fazendo-o prosperar. Até a mulher de seu chefe poderia ter, se quisesse: sem compromisso, apenas sexo. Mas José tinha valores pessoais, ordem de prioridades, e a principal era Deus. Não, ele não tinha uma congregação a prestar contas em casos de escorregadelas, não tinha esposa, namoradas, casos que justificassem uma conduta tão rígida. Tudo se definia em não querer desagradar a Deus (o mesmo Deus que não o livrou de ser vendido e não o livraria da falsa acusação da mulher de Potifar, quando rejeitada pelo escravo). Isso lhe custou a liberdade e o emprego.

Sim: José poderia viver muito bem, confortável na casa de Potifar, usando a mulher dele para satisfazer seus eventuais desejos. Seria sossego, seria paz, não haveriam humilhações, prisões, agressões, falsas acusações de tentativa de estupro. A vida seria melhor.

Mas fosse assim, a história de José teria chegado ao fim, ele jamais teria acesso ao presidente do Egito (já que foi através da prisão que o hebreu conheceu um funcionário de faraó, e foi esse quem apresentou-o). Não fosse isso, Jacó, seu pai, e toda a sua família, jamais teria achado sustento na época da grande fome prevista nos sonhos de faraó. Na verdade, sem José, o Egito jamais teria administrado tão bem suas reservas nas “vacas gordas” do sonho. Não haveria suprimento para os sete anos de “vacas magras” e não haveria descendência para o povo prometido.

A fé de José não se guiava por circunstâncias
Dia desses ria com uma frase sobre adolescentes que gostam de falar sobre seu consumo de vodca e whisky, quando seu precioso paladar não suporta um halls preto ou mesmo trinta gotas de dipirona.

Nós, neo-crentes-em-Deus, embora saibamos os versículos que garantem fidelidade eterna ao Grande El-Shaday, não precisamos de nada muito duro para abandonar nossa devoção tacanha a Deus: desemprego, uma relação amorosa fora dos moldes exigidos pela comunidade religiosa onde congregamos, desavenças entre lideranças, perseguições, a “falta de oportunidades no ministério” (acho engraçado essa. Muitos acreditam que sua voz combinada com o púlpito e o microfone é tudo que podem oferecer ao Reino). A lista pode se esticar indefinidamente e creio que muitos dos itens que nos fazem desistir são sugestões do próprio diabo: bebida, cigarro, droga, roupas e cabelos, ou as vezes, um simples “não”.

Não havia, para José, irmãos que orassem com ele – na verdade, os irmãos o odiavam. Não havia amigos, nem igreja, cultos dominicais ou uma bíblia sequer. Nem mesmo de Deus haviam sinais de que as coisas correriam bem. Apenas sonhos de quando criança.

Você, como eu, certamente precisaria de mais do que isso para manter a fé. Mesmo assim, olharíamos as vezes para o céu, com o punho cerrado, nos perguntando “por que ele e não eu?”

Apesar da família ser o que era, José decide honrá-la.
Apesar de tudo, apesar do abandono, do tempo, das agressões. Apesar daqueles malditos parentes já terem dado mostras reais do que são capazes de fazer quando sentem inveja: são um bando de “Cains”, que não se comoveram nem quando o pobre pai sofreu com a mentira de sua morte.
Não podemos dizer que Zaf-Nti-Pa-Ankh (nome egípcio de José, “Aquele-que-alimenta-o-que-vive”) não se sentiu tentado a prejudicar seus irmãos. Prendeu-os sim, mas deu tratamento cinco estrelas no período. Deixou-os angustiados, mas se apresentou resplandecente, e só tinha uma pergunta:
Papai ainda vive?”
O coração do humilhado e abandonado José só tinha espaço para a saudade do pai. Sem rancores, sem remorsos, sem revanches. Isso só é possível de uma maneira:

José soube entender o real propósito de seu sucesso.
Conheço não poucas pessoas inteligentes e prósperas. Entre elas, muitas que creem realmente que essas coisas vem delas, de sua capacidade pessoal e nisso justificam seu sucesso – que nem de longe se assemelha ao de um “José”, mesmo que o Egito fosse apenas uma pequena vila de três quarteirões.

Se você pergunta como enriqueceram, a resposta invariavelmente é que fizeram por merecer, embora não possam responder porque os outros milhares que fizeram exatamente a mesma coisa fracassaram (as vezes, trabalharam muito mais, estudaram bem mais, tem aparentemente muito mais condições de administrar a situação na qual não foram postos).

José sabia. Ele poderia responder a questão da mesma forma que os outros beneficiados pela vida, como por exemplo, Pôncio Pilatos, capacitado governador em Israel, colocado estrategicamente por Deus no cargo para evitar eventuais e costumeiras rebeliões locais: o Senhor precisava de um líder omisso para cumprir seus propósitos na cruz do Filho. Fosse José em seu lugar, jamais desprezaria um sonho e teria reconhecido Nele, seu Senhor. Naquela posição, José não teria sido eficaz – aos propósitos de Deus – como Pilatos.

Você reclama do seu chefe, líder, companheiro, pastor. Você que para, lamentando sobre o destino injusto das vidas à sua volta: será que não entende que existe um propósito maior do que sua necessidade de uma nova TV ou de instalar aquele aplicativo em seu celular? Não compreende que a Ira de Deus (isso mesmo: a Ira) pode estar se manifestando quando temos um completo imbecil na liderança de coisas importantes?

Aprenda com José: no propósito de Deus não cabe amarguras, vinganças. Não há espaço para lamentações e não se pode usar do dom que Ele te deu para manter-se egoisticamente em definitivo.

Não? Você quer manter-se nessa sua posição mesquinha? Fazer as coisas do jeito que bem entender?

Ok...

Mas lembre-se: Deus não desperdiça peças. Se você apresenta ser uma peça defeituosa PARA OS PROPÓSITOS DELE, restam poucas opções: ou Ele te concerta ou descarta, caso se mantenha nessa posição. Talvez Ele te castigue e te abandone aos seus bens e dons, sem que isso faça realmente diferença aos que estão a sua volta.



O Zé, não o do Egito, mas o do Cristão Confuso,  colabora no Genizah sempre que tem chance de passar na redação, e aprendeu com o texto que escreveu mais do que esperava.

por Zé Luís



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Como uma onda no mar... O declínio dos moveres Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/search?updated-max=2012-09-26T04:30:00-07:00&max-results=6#ixzz27i9VqenG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike

De alguns anos para cá, fala-se muito de “moveres” supostamente protagonizados pelo Espírito Santo com o objetivo de despertar a fé dos crentes. Já vivenciei alguns deles, ainda que não tenha me envolvido diretamente.

Antigamente, falava-se de avivamento, e isso mantinha nos crentes certa expectativa sobre a intervenção soberana de Deus na história. Países como o de Gales foram cenários desses despertamentos espirituais, que resultaram em conversões em massa e transformações sociais profundas. Diz-se que graças ao avivamento metodista, a Inglaterra não teria mergulhado numa revolução sangrenta semelhante à vivida pela França na mesma época.

Agora a moda é falar de “moveres”. Segundo seus defensores, seriam “ondas” geradas pelo Espírito, visando o crescimento da igreja.

Tal expectativa nos remete à crença nutrida pelos judeus contemporâneos de Jesus de que um anjo vinha de tempo em tempo agitar as águas de um tanque chamado Betesda. Multidões se reuniam ao redor dele em busca de curas milagrosas. Bastava que as águas fossem agitadas.

Tenho a impressão de que alguns pregadores postulam o lugar de tal anjo. Querem reproduzir artificialmente um “mover” que resulte nos mesmos frutos daquilo que originalmente fora provocado pelo próprio Deus.

Pelo menos já não se atrevem a apelidar tais movimentos de “avivamento”. Embora a nomenclatura seja outra, a expectativa é a mesma. Mas agora, em vez de esperarem por um anjo, esperam por uma campanha, por um encontro face a face com Deus, por uma nova estratégia evangelística, por um modelo eclesiástico adotado por alguma megaigreja, ou mesmo uma revelação inédita.

Lembro-me de ter lido no livro “Igreja com Propósitos” de Rick Warren que os pregadores deveriam ser como surfistas à espera de ondas. Segundo ele, não nos compete produzir as ondas, mas simplesmente surfar sobre elas. Embora seu posicionamento pareça mais razoável do que aqueles que defendem os “moveres” produzidos artificialmente, atrevo-me a discordar dele.

Toda “onda” tem um começo discreto, um ápice fugaz, e um desfecho fatídico. Quem decide estar onde elas começam, aproveita melhor o momento, participando do seu surgimento, desfrutando do seu apogeu, e acabando na sua quebrada na areia. Porém, a maioria entra na onda quando esta está no auge, sem darem-se conta de que quanto mais alta ela estiver, mais próxima estará de quebrar.

Assisti in loco à emergência e ocaso de muitos movimentos. Poderia citar alguns deles aqui, mas não quero ferir os escrúpulos de ninguém. É sempre a mesma estória... Um vai-e-vem que se repete exaustivamente. Para os pregadores surfistas, o importante é aderir à moda, isto é, àquilo que dá certo, que atrai multidões, e, por conseguinte, os recursos para a manutenção da máquina eclesiástica.

O problema é que, semelhante aos moribundos do tanque de Betesda, ficamos com nossas atenções tão voltadas para o tal “mover das águas”, que não percebemos a presença de Cristo entre nós.

Que tal se avançarmos um pouco mais na direção do oceano, para além de onde as ondas começam? Não foi lá que Jesus ordenou que Pedro lançasse suas redes?

Saiamos das águas rasas e da espiritualidade superficial proporcionada por tais moveres, e avancemos na direção do que é permanente, constante, eterno.

No dizer de Paulo, deixemos as coisas de meninos, dentre as quais a inconstância típica da adolescência, e sigamos a verdade em amor, a fim de que alcancemos um crescimento não apenas numérico, mas, sobretudo, qualitativo. Hermes C. Fernandes

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Deus dos derrotados


Todos na vida querem ser um Ayrton Senna, nunca Rubinho Barrichello. Porque desde pequeno somos convencidos que o mundo é dos que vencem. A lei universal da sobrevivência do mais forte sobre o mais fraco já se estabelece muito cedo na concorrência das relações familiares entre irmãos, nas disputas das brincadeiras de rua, e depois no colégio, quando somos compelidos a entrar na corrida desleal de quem é mais inteligente, mais bonito, de quem decora mais, quem tira a nota maior, de quem joga mais, desenha mais, escreve mais, e de quem consegue mais garotas. Na faculdade a história se repete e igualmente na especialização, no mestrado, no doutorado, no trabalho, na repartição, no departamento, na fábrica, no balcão. Sim, você pode argumentar e tentar me convencer que existe o lado positivo disso, que é bom pra incentivar garra e senso de valor.

Mas convenha comigo, sempre a concorrência exalta uns e atropela outros. A sociedade, a mídia e as propagandas de um modo geral estão prontas para enaltecer os capazes e chutar a bunda dos incapazes. E entre uma realidade e outra, os que não são eficazes se sentem totalmente inadequados na tentativa de sobreviver no mundo competitivo. Os obesos, os negros, os feios, os pobres, os improdutivos, os diferentes e os lentos de raciocínio se dão mal em qualquer lugar no mundo.

Infelizmente isso também ocorre dentro da própria igreja. Aqueles que oram mais, que jejuam mais, que “ganham mais almas”, que produzem mais tem maior possibilidade de ganhar mais medalhas de reconhecimento, como o Mutley, o cachorro do Dick Vigarista do desenho da Corrida Maluca, e os que não levam jeito, os que são modestos, os que não tem desenvoltura aprovada pela liderança são vistos como cristãos de segunda categoria, por que na prática só os vitoriosos são recompensados na corrida pela “perfeita santidade”.

O problema é que o fracasso nunca é anunciado no relatório estatístico apresentado a igreja no final do ano e a derrota e o fracasso se tornam resíduos incômodos varridos pra baixo do tapete, e os defeitos e fracassos dos irmãos são restolhos escondidos e entulhados no galpão dos breguessos esquecidos. Alem disso tudo, via de regra a própria igreja é culpada sim, por impor a venda de uma imagem distorcida, de que é composta de crentes invencíveis, infalíveis e cheia de super-crentes destemidos, de testemunho irrefutável.

Em meio a tanto triunfalismo, dá até vergonha mostrar fraqueza de qualquer tipo, e o jeito é se esconder hipocritamente por trás de uma máscara de dissimulação.

Mas enfrentemos a realidade. O que dizer dos segundos lugares, dos que perdem lutas, dos frustrados, dos esquecidos, dos diferentes, dos não privilegiados, dos não reconhecidos, dos que não obtém o desempenho exigido, dos que ficam para trás e não conseguem permanecer satisfatoriamente na corrida dos melhores lugares no mercado de trabalho na sociedade e na igreja? Onde estão eles?

Em contraste a esse embuste descarado, é absolutamente desconcertante descortinar a Verdade e ver que o Deus que é revelado nas Escrituras se mostra como um Deus fraco. Um Deus que se deixa ver desvalido e impotente, e conseqüentemente, um Deus plenamente solidário com a fraqueza humana. Esse Deus corre risco, não se impõe pela força, esbarra no livre arbítrio humano, e é atropelado por obstáculos aparentemente insignificantes, e enfrenta duras resistências como é exemplificado na saga misteriosa de Jacó.

Antigo Testamento, Vale do Jaboque, fronteira de Israel. Madrugada fria, as primeiras nesgas de luz despontam no horizonte, em meio ao lusco-fusco do amanhecer se percebe uma luta marcial entre dois vultos que lutam por horas noite adentro. O Anjo do Senhor, tipificação clara da presença de Jesus no VT, revela fraqueza e cansaço ao digladiar-se com Jacó. O Deus pré-encarnado vacila, resfolega e se deixa vencer, não sem utilizar um recurso derradeiro típico dessas lutas: descola o tendão da coxa do adversário. Jacó sente a dor aguda e claudica desnorteado, orbitando em torno de seu opositor, a coxa dói, uma marca pra toda vida e uma transformação radical, agora é Israel, príncipe que luta com Deus e vence. Um Deus que fraqueja para se fazer vencedor.

Novo Testamento, monte Calvário, imediações da cidade de Jerusalém. Teologicamente, o maior exemplo da fraqueza do Deus Todo-Poderoso é demonstrado ali.

Para quem olhasse de qualquer ângulo, via-se Deus morrendo. O Homem-Deus agoniza, seus cabelos estão emplastrados de sangue coalhado, suas costas esfoladas pelas chicotadas. Paulo chega a mencionar o paradoxo da fraqueza de Deus sendo mais forte que a força dos homens, e a kenosis de Deus se esvaziando como um balão.

Observe! Quer maior identificação com a fraqueza humana do que essa? Quer ver um homem sem glamour e totalmente despido de charme, beleza, ou qualquer atrativo físico? O profeta Isaías o viu assim, sem formosura e nenhuma beleza que justificasse o desejá-lo. Quer ver alguém abandonado, sem fãs e sem pessoas que o admirem? Quer ver alguém tão solitário, caindo vertiginosamente no abismo da mais densa treva de solidão, que o próprio Pai o abandona na hora mais excruciante de sua vida?

A cruz demonstra que Jesus, a encarnação do Amor se caracteriza pela identificação total. E durante sua caminhada pela terra Ele não se acercava de vitoriosos, das pessoas influentes, antes se voltava compassivamente para esse tipo de ser humano marcado pela fraqueza e pelo preconceito, ele andava com párias, com homens e mulheres de reputação duvidosa, prostitutas, publicanos e pecadores. Os fracassados. Os não atrativos, os não populares. Os segundo lugares. Ele bem que podia ter chamado jovens nota dez que conquistaram o último grau na escola rabínica, os graduados. Mas não. Jesus foi atrás de homens comuns, que abandonaram a sinagoga para seguir a carreira simples de seus pais, e se tornarem meros pescadores anônimos. Outros chamados eram subversivos, e outros, odiados coletores de impostos.

Penso que Jesus e seu Pai, à semelhança do pai (Dustin Hoffman) de Greg (Bem Stiler), na comédia “Entrando numa Fria maior ainda”, que se orgulhava dos terceiros, sextos e décimos lugares de seu filho, exibindo em sua sala de estar certificados e quadros comemorativos desses eventos, nosso Pai celestial também expõe na parede de Sua casa, certificados de nossos segundos lugares, marcadores que demonstram nossa sinceridade e esforço de fazer o melhor, (como a menção a Maria de Betânia, que Jesus diz que ela fez o que pode no derramar o caro perfume em Seus pés) e isso com o maior orgulho de paizão. Por que Deus não olha o desempenho ou a performance, mas a verdade no íntimo e a sinceridade do coração.

Sim, agora saiba que não há dor maior, abandono total, desinteresse absurdo e injusto dos homens, preconceito e desrespeito tão acentuados que não possam ser amplamente supridos por esse Deus que prefere mais a fraqueza à facilidade e status de glória humana.



Porque não temos um sumo sacerdote que não possa se compadecer de nossas fraquezas, porém um, que como nós, em tudo foi tentado em todas as coisas, mas sem pecar”- Autor da carta aos Hebreus.MANOEL SILVA FILHO

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A IRA É ESSENCIAL


Neste mundo que tem sido terrivelmente arruinado pelo pecado, onde nada funciona como era para ser e onde o mal, muitas vezes, tem influência mais imediata do que o bem, seria errado não ficar irado. Como você pode olhar de frente para a pobreza e não ficar irado? Como pode considerar o crescimento das doenças sexualmente transmissíveis e não ficar irado? Como pode olhar para a corrupção política, que usa de cargos de governo para o poder pessoal mais do que para a proteção da sociedade, e não ficar irado? Como pode olhar para a taxa de divórcio na cultura ocidental, ou a prevalência da violência doméstica, e não ficar irado? Como pode ver o grande número de sem-teto que vagueiam pelas nossas ruas e não ficar irado? Como você pode ver a confusão de identidade de gênero e a imoralidade sexual que nos rodeia e não ficar irado?
Como você pode ver o estado de nossas instituições educacionais, das artes e do entretenimento e não ficar irado? Como pode olhar para o estado da igreja, que tantas vezes parece ter perdido seu rumo, e não ficar irado? Como você pode lançar um olhar para sua própria vida, sua família e seu círculo de amigos, como pode ver que o pecado emaranha e complica cada aspecto, relacionamento e situação de vida tão perto de você, e não ficar irado? Na vida e no ministério, a ira justa não é apenas importante. Ela é vital.
Como você pode ver a doença, a guerra e a destruição ambiental e não ficar irado? Como pode encarar o fato de que nada em seu mundo é exatamente como era para ser e não ficar irado? É simplesmente impossível você ver a vida com os olhos da verdade, e com um coração comprometido com o que Deus diz a respeito do que é certo e bom, e não ficar irado diante do estado em que as coisas estão neste mundo caído. Em seu ministério, como você pode ver diariamente os danos que o pecado tem causado às pessoas ao seu redor e não ficar irado? Neste mundo caído, a ira é algo bom. Neste mundo caído, a ira é algo construtivo. Neste mundo caído, a ira é algo essencial – desde que esta ira não esteja centrada em você.
As razões certas
Neste mundo caído, as pessoas de caráter e boa consciência deveriam ficar iradas.  Nosso problema em relação à ira talvez seja duplo: não somente ficamos irados repetidamente pelas razões erradas, mas também deixamos de ficar irados com a devida frequência pelas razões certas. O problema é que as coisas que deveriam nos deixar irados, e deveriam então nos mover à ação, simplesmente não suscitam mais a nossa ira. Nós nos acostumamos com a corrupção. Nós nos acostumamos com a pobreza, a moral pervertida da indústria do entretenimento, a quantidade de lares destruídos que estão ao nosso redor, os relatórios diários do crescimento dos males resultantes da depravação sexual em todos os cantos do globo.

Nós nos acostumamos também com o fato de que a Igreja é muitas vezes um lugar onde há divisão e falta de compromisso com a verdade. Nós nos acostumamos com a nossa própria complacência e hipocrisia, as tensões conjugais e a rebeldia dos filhos. Nós nos acostumamos com um mundo arruinado pelo pecado. Até mesmo os líderes espirituais entram no embalo do sono e se tranquilizam com muita facilidade apesar do compromisso ministerial. Coisas que deveriam produzir tristeza e preocupação, que deveriam nos incomodar, passam a ser coisas às quais deixamos de dar atenção e com as quais nos acostumamos.
Aprendemos a contornar os problemas, quase como se eles não estivessem lá. Aprendemos a habilidade de negociar os campos minados. A vida contaminada pelo pecado torna-se parte do nosso dia- a- dia e simplesmente não nos incomoda mais. Desenvolvemos a triste capacidade de não nos importarmos mais com aquilo que deveria quebrar o nosso coração e nos irar. Perdemos os valores e nem sequer percebemos isso. As coisas que Deus diz que não são certas passam a ser certas para nós. Perdemos a capacidade e o compromisso de ser ao mesmo tempo graciosos e irados. Passamos a aceitar o inaceitável e a conviver com aquilo que não deveríamos suportar. Deixamos de lutar movidos por ira justa e aprendemos a ir adiante movidos por complacência injusta. Quando procedemos desta forma, não somos fiéis ao nosso chamado e ao poder transformador e radical do evangelho de Jesus Cristo.
A ira justa não é opcional. Ela é um chamado para as pessoas que afirmam viver para algo maior do que a felicidade e o conforto pessoal, que estão comprometidas com o ministério e professam fazer o que é correto, verdadeiro, amoroso e bom diante de Deus. Você não pode ser semelhante a Cristo e estar livre da ira enquanto viver neste mundo arruinado pelo pecado. Esta ira faz com que você ame a graça de Deus e se esforce o quanto possível para proclamá-la aos outros, sabendo que é só esta graça que tem o poder de corrigir todas as coisas arruinadas que o deixam corretamente irado todos os dias.Paul David Tripp

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Homens que Marcam o Chão em que Pisam



No último dia 25 de agosto, aos 82 anos, morreu Neil Armstrong, astronauta norte-americano, primeiro homem a pisar na lua em 1969 com a missão Apollo 11. Na ocasião, ele proferiu a célebre frase: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.”

De fato, há homens que parecem ter nascido para marcar o chão em que pisam. Eles são singulares, irrepetitíveis, únicos! Gente desta envergadura não se satisfaz em passar pela vida como turista, quer imprimir algo na história da humanidade, deixar seu nome entre os que realizaram coisas significativas uma vez que possuem o desejo de ir além do normal, do banal, do trivial.

Pois bem, pensando em reverenciar e imortalizar seus ídolos, a indústria do entretenimento de Hollywood criou a famosa Calçada da Fama, um passeio ao longo das ruas Hollywood Boulevard e Vine Street na Califórnia que possui mais de 2.000 lajes com mãos e pés de celebridades do showbiz que foram honradas pela Câmara do Comércio.

Curioso, entretanto, é que só as “pegadas” que levaram ao sucesso, a notoriedade, ao performático, ao midiático, ao extravagante, ao inusitado, é que têm relevância e destaque. Pegadas nada mais são do que a história das pessoas “escritas” no chão da Terra, um caminho percorrido onde a poeira acumulada pelos anos esculpiu na alma aquilo que ajudou a construir narrativas pessoais.

Quando penso em tudo isto, lembro de Moisés, o hebreu que conduziu o povo de Israel do Egito até a Terra Prometida. Sim, tenho a impressão que o fato dele não entrar naquele lugar que fora prometido aos Patriarcas talvez tenha produzido uma imensa frustração. Diz o Texto Sagrado que ele apenas viu a terra de longe, e ali mesmo foi “tomado” pelo Deus de seus Pais, o que fez com que seu corpo jamais tenha sido encontrado.

Na sociedade hedonista em que vivemos, homens são reverenciados quando escrevem seus nomes nas “Calçadas da Fama”, ainda que por vezes esta calçada esteja nas “ruas da Lua”! Ninguém se atém as pegadas comuns daqueles que se levantam todos os dias para realizar coisas corriqueiras, tarefas de menor importância, gente que pisa na lama da favela para ir para o trabalho de metrô, às 5:00h. da manhã, que entra na fábrica para ser apenas mais uma peça na grande engrenagem que engole gente e devora o ser.

Pelas calçadas da vida há pegadas de gente boa, muitas delas sobrepostas, mostrando que o caminho de todos os homens é sempre o mesmo. São marcas que ficaram no “diário” daquele dia, na rotina anônima de cada um, pessoas despercebidas, desinteressantes, “astros” que não vendem livros, nem geram mídia, não produzem notícia, nem fazem a “roda” girar, e é pelo movimento desta “roda de moinho” que o dinheiro colhe o seu fruto.

Moisés caminhou 40 anos no deserto. Ele certamente produziu muitas pegadas, mas todas elas foram apagadas pelo tempo e pela areia do solo da Palestina. Elas não ficaram esculpidas senão na sua alma, pois caminhar no deserto faz as pessoas enrijecerem a pele e abrandarem o coração. O deserto não é local para empreender uma carreira de sucesso, é lugar para forjar homens de valor.

A história de Moisés, de certa forma, é semelhante com a minha; quem sabe, com a sua, talvez... Eu já andei muito pelo chão da Terra, mas todas as minhas pegadas foram apagadas pelo tempo, delas nada restou a não ser a lembrança de cada caminho que fiz, tanto os que me levaram a paz e ao bem, quantos os que se constituíram veredas de sombra da morte.

Por isso, quando for avaliar alguém, não o faça pelo simples fato dele ter ou não seu nome em “Calçadas da Fama”, lembre-se do que disse Clarice Lispector: “Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter... calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida”.

Às vezes, os grandes passos de um homem não são transmitidos em cadeia nacional de televisão, nem se notabilizam como os de Amstrong na Lua. Mas tais pegadas, feitas na poeira do chão da vida que se esvai, ao final de um dia comum, acabam por fazer toda a diferença na nossa história, são capazes de mudar não só nossos destinos mas, por vezes, o de muitos outros!

E assim, aprendi com o tempo que o caminho de todo homem deve ser sempre reverenciado e respeitado, pois só ele e Deus sabem o quanto foi difícil fazê-lo, e, ainda assim, ele o fez, não desistiu...Carlos Moreira

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O cenário político no alvorecer do cristianismo e o papel do cristão na política hodierna

Quem me conhece sabe que abomino politicagem e os malabarismos da política partidária. Mas por outro lado, sou muito inclinado a aceitar a boa política, que ajuda as pessoas a viverem na cidade, como diz o apóstolo Paulo, na polis, do modo digno do Evangelho de Cristo, uma política não utópica, que provê maior dignidade as pessoas, que ensina “a pescar”, que fornece acesso à educação, e capacita o cidadão com senso crítico, tornando-o livre, cônscio de seus direitos, e capaz de transformar outros indivíduos, famílias e bairros e mudar o quadro de miséria e ignorância do contexto de uma cidade inteira.

Nosso sistema político está apodrecido até a espinha dorsal e como o pecado que se alastra, está corrompido no seu início, meio e fim. A história política do Brasil nos mostrou que a maioria eleita pelo povo sofrido (que sempre é visto como massa de manipulação e moeda de troca), quando assumiu cargos públicos, inicialmente começou até com boas intensões, mas depois se tornou egocêntrica incontrolável, possessa de ganância, se alastrando no congresso nacional, nos governos e nas prefeituras, nas assembleias e tribunais, como ratos de esgoto insaciáveis, roubando, extorquindo, desviando verbas, malversando o dinheiro público e cometendo todo tipo de bandidagens. O pior é que o dinheiro, a influência e a autoridade que lhes são imputados os resguardam na impunidade, e jamais são condenados ou presos. Essa situação indigna só cresce, em face de pobreza extrema que gera toda sorte de malefícios à sociedade brasileira, um tumor purulento que supura corrupção e desmandos.


— A situação do Império Romano dominando a Palestina.


Por outro lado, para aqueles que são avessos à política e querem uma distância substancial dela, devem ser esclarecidos de que NÃO SE PODE LER O NOVO TESTAMENTO SEM O MÍNIMO DE CONHECIMENTO POLÍTICO e sem ser munidos de uma noção básica quanto à expectativa (política) dos cidadãos que povoavam as cidades da Palestina da época de Jesus e aguardavam a vinda de um Messias Libertador prometido pelos profetas do Antigo Testamento, que viria para acabar com a tirania opressora do Império Romano para sempre.

A história do nascimento de Jesus tão romanticamente contada por professoras piedosas em flanelógrafo, mostrando a família sagrada, o menino Jesus na palha da manjedoura junto como os pastores, bois e burrinhos esconde o pulso latejante do coração pisoteado do cidadão comum que vivia no território de Israel, cuja pirâmide social desproporcional era composta por uma pequena fatia na classe alta com os ricos saduceus, rabinos e sacerdotes do templo, esmagada no meio pela classe média que consistia de negociantes, fazendeiros e artesãos e tendo a base inchada da pirâmide, a esmagadora classe baixa com seus milhões de nômades sem terra, escravos, prostitutas, mendigos, loucos e enfermos de todo tipo, os pobres da terra, ESSES DESPREZADOS QUE FORAM O FOCO PRINCIPAL DA ATENÇÃO E AMOR DIRECIONADOS POR JESUS DE NAZARÉ QUE GEROU OS MILAGRES, A LIBERTAÇÃO E O BEM ESTAR DE MUITOS, MAS TAMBÉM A IRA DOS RELIGIOSOS CHEIOS DE ASSEPSIA MORALISTA. Os cobradores de impostos e publicanos faziam parte da classe baixa, apesar de serem ricos abastados.

Já há muito tempo Israel como nação não provava o que era liberdade. Desde a saída do cativeiro na Babilônia, foram dominados pela Grécia, pelos Ptolomeus (Egito), pelos Selêucidas (Síria) e depois de um período curto de liberdade conquistado pelos macabeus, para depois serem dominados pelos romanos. No tempo de Jesus, as taxas e impostos eram impraticáveis, e o povo não tinha maiores esperanças, a não ser apostar todas as fichas na vinda do Messias que viria libertar o povo da mão despótica do Império.


— A situação religiosa e os partidos políticos na Palestina.


- Os fariseus

Eram os separados do povo, observadores escrupulosos das leis rabínicas e mosaicas, não se aproximavam dos pecadores e impuros cerimoniais. Eram radicais conservadores que não se submetiam aos costumes da helenização, não aceitavam o domínio romano, no entanto, discordavam passivamente sem usarem a força das armas.

- Os saduceus

Eram ricos opulentos, detinham o poder político e religioso, mantinham o rendoso comércio de sacrifícios de animais no templo, controlavam a classe sacerdotal e a guarda do templo. Eram progressistas e tolerantes com a expansão dos costumes greco-romanos.

- Os essênios

Eram os separados do mundo. Não sacrificam no templo de Jerusalém, pois reputavam o templo poluído por um sacerdócio corrupto. Só usavam vestes brancas, considerando-se o remanescente exclusivo dos últimos dias.

- Os herodianos

Eram uma pequena minoria de judeus influentes que pertenciam à aristocracia de sacerdotes saduceus que por sua vez, apoiavam a dinastia herodiana e o governo romano que pusera Herodes, o Grande, como rei “marionete” em Jerusalém. Este, por sua vez, querendo “limpar sua barra” diante da antipatia geral dos judeus, construiu o fabuloso templo que Jesus pisou e ensinou muitas vezes.

- Os zelotes

Em contraposição, os zelotes eram revolucionários radicais, favoráveis à barrocada do despotismo romano, recusavam-se a pagar impostos, tributos e taxas, como subversivos inconsequentes que eram, empreenderam diversas revoltas e rebeliões contra o Império.

- Os escribas

Eram um grupo de profissionais, rabinos, doutores, mestres e advogados da Lei. Interpretavam e ensinavam a Lei do Antigo Testamento e tomavam decisões judiciais sobre casos que eram trazidos no cotidiano para resolverem. Interpretavam os preceitos da Lei e a aplicavam ao contexto da vida diária. A maioria dos escribas faziam parte da seita dos fariseus.

- O sinédrio

O superior tribunal dos judeus era o Grande Sinédrio. Reuniam-se na área do templo todos os dias, com exceção dos sábados e dias santificados. O sumo sacerdote presidia setenta juízes, ou anciãos, vindos dos partidos dos fariseus e saduceus. São “ as autoridades”, o “concílio”, “os principais sacerdotes”, os “anciãos e escribas” mencionados no Novo Testamento.


- O colégio apostólico e suas tendências internas.


Jesus, um rabino.


Jesus era considerado um rabino, pois possuía um corpo de discípulos postulantes, falava com autoridade de mestre sempre pondo à frente de suas assertivas a frase “em verdade, em verdade lhes digo”, falava com estruturas rítmicas fáceis de memorizar através das famosas parábolas e se utilizava de perguntas de retórica devolvendo a pergunta com a finalidade de melhor assimilação das verdades proferidas: “que vos parece?”.

JESUS NÃO APOIOU NENHUM DOS PARTIDOS POLÍTICOS OU SEITAS RELIGIOSAS DE SUA ÉPOCA, ao contrário, sempre batia de frente a hipocrisia religiosa, as injustiças sociais, as atitudes imorais das autoridades, até chamando Herodes de raposa, sempre mostrando os postulados do Reino de Deus demonstrado por ações concretas de transformação social, através de um amor prático operando milagres e defendendo a causa dos desmerecidos, curando-os e elevando sua autoestima e dignidade.
Tendências políticas no colégio apostólico. Os discípulos eram zelotes?

- Mateus e Simão


No corpo de discípulos havia pessoas de posturas políticas bem distintas. Exemplo disso é Mateus e Simão. Mateus era um cobrador de impostos, abertamente um colaboracionista do império romano. Por outro lado Jesus chama um subversivo, Simão, o zelote, absolutamente contra o império romano.

- Pedro e outros


Oscar Culmman defende a ideia de que Pedro tenha um comportamento zelote. Senão vejamos. Pedro era um líder natural de temperamento agressivo entre os discípulos, sempre assumindo a liderança do grupo dos seguidores de Cristo. Um dos possíveis indícios do pensamento zelote em Pedro foi o que aconteceu na noite fatídica do Getsêmane, mantendo uma adaga escondida debaixo do manto (costume zelote), quando estavam prendendo Jesus, desceu a adaga afiadíssima para atingir em cheio a cabeça de Malco, um dos soldado da guarda do templo, e este, tendo desviado por reflexo, foi atingido, mas o golpe atinge somente a orelha. Cullmman também garante que os irmãos Tiago e João não eram apelidados à toa de filhos do trovão, e quando os samaritanos rejeitaram os ensinamentos de Jesus, eles, se tivessem tal poder, mandariam descer fogo do céu para destruir os rebeldes impenitentes, uma atitude típica de zelotes radicais. Mais um: Judas Iscariotes. O nome não significaria “Homem de Keriot” mas pode ter vindo do arcádio Scarius, que significa revolucionário. A atitude de trair Jesus seria mais por decepção ideológica, pelo fato de ver Jesus, que se intitulava o Messias Libertador, pregar um reino de amor, de deposição das armas, de tolerância, de amor incondicional aos inimigos, de dar a outra face e por não treinar e equipar um exército aguerrido capacitado com armas pra enfrentar e vencer as forças do império romano.

-Os discípulos em geral


Mesmo depois da ressurreição, parece que havia um sentimento zelote que permeava latentemente o coração dos discípulos. A pergunta feita pelos seguidores de Jesus em Atos capítulo um representa um incômodo instalado no peito do israelita em geral. Jesus agora detinha todo poder no céu e na terra. Então vem a pergunta que não queria calar: “Senhor (kírios), será esse o tempo em que vais restaurar o reino de ISRAEL?”. Ou seja: “agora que o Senhor ressuscitou dos mortos e tem poder ilimitado, será esse o tempo certo para armares um poderoso exército para acabar de vez com o domínio romanos sobre nós?” Jesus responde que o avanço do Reino de Deus é absolutamente diferente do avanço dos reinos humanos: Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas no mundo inteiro”. O reino de Deus será conquistado não no campo de batalha, mas no campo interno do coração dos homens, isso de forma sutil, como um grão de mostarda que rebenta subversiva e gradativamente no subsolo das consciências humanas e fecunda a terra frutificando liberdade, transformação e vida, sem precisar erguer uma adaga sequer.

- O julgamento de Cristo e Sua condenação


No julgamento de Jesus existe um grande equívoco em relação à Barrabás. Pilatos, o representante do poder romano, consulta o povo, quanto a um costume antigo: por ocasião da festa da Páscoa, soltava-se um dos prisioneiros, conforme o povo quisesse. Naquele momento, havia um preso muito conhecido, chamado Barrabás. Pilatos bradou ao povo: “Quem quereis que vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado O Cristo?. Mas os principais sacerdote e os anciãos persuadiram o povo a que pedissem Barrabás, e fizessem morrer a Cristo”. Todos sabiam que Barrabás não era um simples batedor de carteiras ou um homicida qualquer. O povo preferiu a Barrabás por motivos políticos. Barrabás era um agitador político, um revolucionário, um zelote. Alguém que tinha atitude. Alguém que poderia resolver os problemas sociais da nação. Jesus não. Eis aí um rei fracassado, um boneco de pano nas mãos dos romanos, indefeso, um caniço trêmulo, machucado e sem iniciativa. Vai morrer na cruz como um rebelde comum dentre tantos que foram calados pela foice romana. Soltaram Barrabás, o bom de briga. Pilatos lavra a sentença de Jesus, condenado à pena capital pelo império romano por se intitular rei, concorrendo de frente com o Rei do Cosmos, o César. Mais uma vez o povo ignorava a verdadeira natureza e o conteúdo do Reino de Deus.


- A posição de Pedro e Paulo


Paulo defende a obediência às autoridades constituídas, devendo-se orar, honrar e respeitá-las, mas as Escrituras apresentam sempre um ponto de tensão nessa obediência: se a autoridade ultrapassar o domínio do Reino de Deus e os limites estabelecidos por Deus em Sua Palavra, deve-se então dizer: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. No tempo de Paulo, quem governava com cetro de ferro era Nero, o imperador maluco que queimava cristão pra iluminar seu palácio. Deve-se pagar tributo e honra, mas não obedeça se esse mesmo Estado de forma demoníaca pleitear espaço que não lhe pertence, querendo assumir a posição de Deus, e reivindicar aquilo que pertence somente a Ele. Aí é hora de dizer: Obediência absoluta só a Deus!


Conclusão


Finalmente, quero deixar aqui minha contribuição a respeito do tipo de política que devemos adotar e o que podemos fazer para as eleições que teremos ainda nesse ano de 2012 e após elas.

- Reflitamos. Se o Novo Testamento está impregnado de política, devemos nos munir do entendimento de que Jesus é o Senhor absoluto do Universo, e todas as estruturas e espaços da vida humana são permeados pela presença soberana Dele.

- Então, precisamos estudar o assunto despretensiosamente, livrando-nos da dicotomia nociva que separa o espiritual do carnal, o santo do profano, mentalidade errônea que se instaurou no ambiente cristão ao longo dos séculos, e descobrir que no mundo, tudo é de Deus, todos os espaços da vida estão imersas Nele e que essa área deve ser conquistada pelo Reino da luz e da liberdade.

- Pesquise a vida dos candidatos de acordo com a proposta das plataformas de seus partidos, se são propostas exequíveis e de interesse do povo. Depois, averigue se a vida do candidato corresponde ao cargo que ele está pleiteando, se tem cultura, capacidade administrativa, interesse real pelo povo e pela cidade. Se não houver nenhum deles que preencha os pré-requisitos básicos de honestidade, vote nos que são menos corruptos. Em última instância, anule seu voto, mas não se venda.

- Em seguida, não seja obrigado a reeleger candidatos que já derem provas concretas de incompetência ou que já tenham tido histórico de ações escusas como roubalheira e aproveitamento do dinheiro público.

- Depois das eleições tente acompanhar a carreira política do candidato cobrando e incentivando-o para que cumpra aquilo que prometeu no tempo de campanha eleitoral.

- Melhor ainda, independentemente do que os políticos fizerem, tente se engajar em programas sérios que visam melhorar as condições de pobreza da cidade, junte-se a ONGS, associações ou igrejas comprometidas com a causa do Reino de Deus, que tenham propostas de projetos de cidadania consciente, frentes significativas de ajuda às famílias carentes, planos estratégicos para libertar o povo da ignorância e da pobreza opressiva, provendo cursos técnicos profissionalizantes, bolsas integrais, programas de esporte e Inclusão social. Penso convictamente que são essas as saídas viáveis pra um futuro melhor para o nosso país já tão visceralmente inoculado pelo vírus da corrupção desde as entranhas de suas origens históricas.

- Ore, jejue, pregue, evangelize, compartilhe a graça, de graça, viva o Evangelho com alegria exuberante, e espere com uma fé cheia de esperança grandes mudanças vindas da parte de Deus. O único que pode operar milagres. Manoel dC

Decisões além do óbvio



A Bíblia está repleta de iniciativas e decisões que mudaram a vida de pessoas, países e gerações. Algumas foram complexas - como peregrinar por um deserto, empreender uma guerra ou enfrentar um gigante -, outras foram mais simples - como parar ao longo de um caminho para ajudar um homem caído. Foram, porém, decisões transformadoras.
 
Erramos ao pensar que as decisões são tomadas com base em nossa vontade. Apesar de a vontade exercer um papel fundamental em nossas vidas, frequentemente ela não se mostra forte o suficiente para nos guiar em uma decisão acertada e transformadora. Quantas vezes tivemos sincera vontade de fazer algo notadamente de grande importância e não o fizemos? Decisões são mais frequentemente tomadas com base em nossos princípios - aquilo que determina o que cremos, que resume o nosso sentido de vida e nos impulsiona a fazer o improvável.
 
Lucas, no capítulo 10, apresenta-nos quatro personagens distintos na estrada entre Jerusalém e Jericó: um necessitado caído à margem da estrada, um sacerdote, um levita e, por fim, um samaritano. É nesta pequena história que encontramos o reflexo da nossa própria humanidade: virtudes a serem celebradas e o natural engano do coração que nos impede de ver o mundo com os olhos do Pai. 
 
O sacerdote e o levita possuíam uma função para a qual foram chamados. Eram homens separados para o serviço do Reino e ocupados com as coisas do Reino. Possuíam um salário e também um público que esperava que cumprissem suas funções. Eram os homens do culto, das celebrações e das cerimônias religiosas. Estavam, porém, tão absortos no cumprimento da própria agenda que perderam de vista o motivo da vocação. Eles se esqueceram de que pessoas são mais importantes que coisas, que uma alma vale mais que o mundo inteiro. 
 
Em uma sociedade ativista, consumista e hedônica como a nossa, talvez este seja nosso maior desafio: perceber aqueles que estão caídos, enquanto seguimos apressados para o próximo compromisso. Jesus repetidamente ensinou aos seus discípulos que eles deveriam atentar para os órfãos, viúvas, encarcerados, enfermos, famintos, sedentos, excluídos e perdidos. Jesus, com isso, nos ensinou que devemos ter os olhos abertos para os que se encontram nas margens dos caminhos.
 
Não caía bem a um samaritano ajudar um judeu, opressor do seu povo. Seria ele visto como um entreguista, um colaborador do inimigo, ou mesmo um bajulador de Israel? Ajudar o inimigo não lhe traria aplausos. O certo é que ele estava disposto a sacrificar sua reputação tomando esta decisão transformadora: parar e ajudar a figura mais improvável.
 
Facilmente nos impressionamos com histórias, biografias e ministérios que não impressionam a Deus. Isso acontece porque nos comovemos com resultados visíveis, mensuráveis e que geram prestígio, bem como com processos ligados às multidões, holofotes e aplausos.  Parece-me, porém, que no exemplo de Jesus – e do samaritano – o verdadeiro amor do Pai ocorre com frequência em lugares bem menos frequentados. Lugares onde Jesus encontrou um cego próximo a Jericó, uma mulher samaritana ao lado de um poço e um coletor de imposto odiado pelo próprio povo. Deus vê o coração. Talvez estejamos aplaudindo o sacerdote e o levita, que seguiam rápido, provavelmente para um grande culto, mas Deus se agradou do samaritano que parou.
 
Identidade é um elemento que contribui tremendamente para tomada de decisões diárias. Para aquele samaritano, sua história lhe dizia que aquele caído era seu inimigo e que este dia era o momento da revanche. Mas, parece-me que ele possuía uma imagem real de si mesmo, que ia além da história contada pelos seus pais, sua sociedade, seu sobrenome e seu contexto. Ele agiu como alguém que crê que sua identidade é definida por Deus. Ele não se viu naquele dia como um oponente, mas como um ajudador. Não enxergou o homem caído como um estranho distante, mas como o seu próximo.
 
Talvez a sua história lhe diga coisas tristes a seu respeito. Talvez seus pais, amigos, inimigos, os fatos da vida ou seu próprio inconsciente colaborem para construir em você uma autoimagem baixa demais, alta demais, ou simplesmente irreal. A Palavra nos diz, porém, que em Cristo temos uma nova identidade. Somos os amados do Pai, herdeiros com Cristo, vencedores em Deus, sal da terra e luz do mundo, criados para a Sua glória, alvos preferenciais do amor do Eterno. Somos mais que samaritanos opressos, somos filhos de Deus que podem ter os olhos abertos para os caídos ao longo do nosso caminho. A oração a ser repetida a cada dia, neste caso, é justamente esta: Senhor, abra os olhos do meu coração.Ronaldo Lidorio

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

INVEJA DE PASTOR


Há um fenômeno encontrado entre pessoas que exercem a mesma profissão: a inveja profissional. Homens e mulheres que se odeiam pelo simples fato de se verem como participantes da competição do desempenho profissional. Eles não teriam problema de relacionamento se exercessem atividade diferente. 

É triste observar que esse sentimento pode ser encontrado entre cristãos. Gente que não se gosta por exercer o mesmo tipo de atividade ministerial. A derrota de um traz secreta alegria para outro. A vitória faz adoecer o que se sentiu ultrapassado na corrida por ocupar os primeiros postos no reino de Deus.

O grande problema com esse tipo de sentimento, tão presente na vida de homens e mulheres que deveriam servir de referência de amor para o mundo, é que ele impede cristãos de fazerem parceria em favor do avanço da causa de Cristo. Sempre haverá quem tenha de fazer o papel de coadjuvante. A vida funciona assim. Nem todos estarão à frente do povo na ocupação da terra da promessa, nem todos serão rei em Israel, nem todos pregarão em pentecoste. Como não conseguimos dar nossa glória a outrem -abortamos pelos motivos mais banais- ações em conjunto que poderiam salvar vidas. O que nos divide não é doutrina, mas o desejo de sermos reverenciados, estimados e nos tornarmos o centro das atenções.

Tudo isso é grande futilidade. Um dia essa presente ordem vai passar. Todos compareceremos diante do tribunal de Deus. Os papéis irão se inverter. O que sonda os corações haverá de exaltar o que trabalhou tão somente para trazer felicidade ao próximo e glorificar a Deus. Em suma, este é o que imitou o Espírito Santo, cujo papel não é apontar para si mesmo, mas para Aquele que veio ao mundo para glorificar o Pai. A referência para o trabalho humilde é Deus. Antônio Carlos Costa

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Cristianismo e a Política nas Igrejas


No ultimo dia 05 de Setembro, quase as vésperas do pleito eleitoral de 2012, fui convidado pelo Pr.Jocei Pereira, apresentador do programa Família Soberana na Jovem TV de Cabo Frio, para um debate com o Ex vereador de três mandatos Dirlei Pereira, sobre o voto ético e o cristianismo e a política nas Igrejas. Reconhecemos e lamentamos uma certa apatia em diferença do povo evangélico brasileiro a propósito das realidades sociais e políticas. Estamos conscientes de que diversas razões concorrem para essa apatia e indiferença. Não obstante, identificamos um interesse recente a respeito desses assuntos com uma evidente ação do Espírito Santo, onde deva ser aprofundado e aumentado. Cremos que o cristão seja católico ou evangélico, deve proclamar o senhorio de Cristo sobre o indivíduo, a Igreja, Família e toda a sociedade, onde o poder redentor de Cristo pode transformar todas as esferas sociais econômicas, sociais e políticas nas quais ele se desenvolve. O Cristão nao pode ser um alienado, desprovido de sua responsabilidade social e política. Durante muitos anos no regime militar no Século XX, os evangélicos receberam ensinamentos errôneos de que : Crente nao participa de política, ou política é coisa do diabo, como forma de alienação e profundo sentimento de ignorância, porém a ordem política foi provida por Deus como um meio de ordenamento da vida em sociedade, de tal modo que cada membro do corpo de Cristo deve exercer sua cidadania cristã de maneira solidaria com as lutas humanas para superar a opressão, a miséria e a ignorância. Cabe a igreja na sua totalidade e a sua membresia individualmente exercer um papel profético que a leva a denunciar os sistemas políticos partidários injustos e a colaborar na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Baruch Há Shem! Sergio Cunha


DESENVOLVENDO A HUMILDADE E A DEPENDÊNCIA DE DEUS NA LIDERANÇA CRISTÃ

Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o mar. E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram. Mas Jesus imediatamente lhes disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas. E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus. Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou: Salva-me, Senhor! E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe disse: Homem de pequena fé, por que duvidaste? Subindo ambos para o barco, cessou o vento. E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus! (Mt 14.25-33)

Uma das grandes tarefas de Jesus em seu ministério foi a de preparar a geração de líderes que lhe sucederia. Pedro foi um desses líderes. O evento acima, narrado pelo evangelista e apóstolo Mateus, faz parte de uma das etapas desse treinamento.
A cena de Jesus andando sobre as águas deixou os discípulos perplexos. Para acalmá-los, Jesus lhes disse: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!” Penso que a voz do Mestre era inconfundível. Seria o caso que em meio ao desespero, associado ao barulho das ondas e do vento os discípulos não a reconheceram? O fato é que a palavra do Senhor não bastou, e Pedro, com o ímpeto que lhe era comum, logo diz: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas.” Prontamente Jesus lhe responde: “Vem!”.
Pela segunda vez a voz do Senhor soa, e Pedro resoluto parte para a sua grande demonstração de fé. Não seria o caso de aguardar Jesus no barco, confiando apenas em sua palavra? O que era mais lógico, mais simples e inteligente? Quando Ele diz para nos acalmarmos, o que nos resta a fazer é manter o equilíbrio e aguardar o seu agir. O que Pedro queria demonstrar com o seu gesto?
O espetáculo durou pouco. Os sentidos superaram a fé. A força da natureza sobrepujou em Pedro o poder da palavra de Jesus. O resultado disso foi que Pedro começou a afundar não apenas nas águas do mar da Galiléia, mas também no mar de suas próprias obstinações. Que cena desconcertante pode-se imaginar: Um experiente e robusto pescador morrendo afogado diante de um carpinteiro.
Jesus fica apenas aguardando a próxima atitude de Pedro, que se manifesta em forma de um pedido de ajuda. Quanto tempo durou para que Pedro pudesse humildemente clamar por socorro? Será que ele se debateu muito para não ter que chegar a esse ponto, e assim se livrar do vexame diante dos demais discípulos e expectadores da cena?
O grito de Pedro ecoou: “Salva-me, Senhor!” Jesus, de imediato lhe estende a mão e o ergue das águas impetuosas. Pedro teve que aprender com a própria experiência a lição da humildade e da dependência de Deus para o exercício da liderança cristã.
No ato de Jesus, reverbera a verdade de que nenhum líder, por mais experiente que seja, e por mais capas que se ache, é suficiente em si mesmo para enfrentar as adversidades da vida. Precisamos de Jesus!
Precisamos aprender a discernir a sua voz, e discernindo-a, obedecê-la.
Precisamos aprender que não adianta tentarmos lutar sozinhos, confiando em nós mesmos, quando as adversidades peculiares da liderança sopram impetuosamente, e nos fazem submergir. É preciso deixar o orgulho de lado nessa hora, e gritar por aquele que pode nos socorrer.
Há muitos líderes que neste exato momento estão afundando em meio às tribulações oriundas das incompreensões, calúnias, difamações, problemas familiares e conjugais, dificuldades financeiras, desprezos, injustiças, doenças, conflitos na igreja, etc. Outros estão submergindo nas tentações do sexo, do dinheiro e do poder. Sabem que vão morrer, e que não vão sair dessas situações sozinhos, mas resistem a ideia de clamar pelo ajuda da forte mão do Senhor, que prontamente os socorrerá.
Na fala de Jesus, outra lição nos é ensinada. Nem tudo que parece ser, é de fato uma demonstração da fé que glorifica a Deus: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?”, foi essa a repreensão pedagógica de Jesus. Pedro duvidou que o Senhor estivesse no controle da situação, quando ao caminhar em direção ao barco lhes pediu calma.
Em seguida, os papéis se invertem, e Pedro manda que Jesus lhe ordene que vá ter com Ele sobre as águas. Imagine só, Pedro agora está ditando como as coisas deveriam acontecer. Não acontece o mesmo em nossos dias? Não há líderes que insistem em dizer para Jesus como as coisas devem ser feitas? Não há lideres que em vez de servos obedientes ao Senhor dos senhores, se tornaram arrogantes em sua insensatez, e tentam submeter até Deus aos seus caprichos ministeriais? O resultado não poderia ser diferente.
Muitos dos que hoje parecem demonstrar uma grande confiança em Deus, não passam de meros artistas interessados em promover os seus espetáculos pessoais. É uma questão de tempo para que se assista a submersão dos tais.
Quando tiramos o foco do Mestre, e atraímos para nós os holofotes, podemos ter a certeza de que as coisas não vão terminar bem. O início do afogamento é inevitável. Sim, é melhor esperar quieto no barco diante da palavra do Senhor, para que a glória seja somente dele, do que se aventurar a caminhar sobre as águas, quando a ideia parte de nós.
Jesus conduz Pedro até ao barco. Fico imaginando Pedro segurando ainda trêmulo em sua mão, até se sentir seguro e salvo no barco. Logo em seguida, ao cessar o vento, o que de início normalmente aconteceria, acaba por acontecer: “E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus!”.
No fim do episódio, a glória coube a quem de fato ela pertence.
Aprendamos a lição da humildade e da dependência de Deus para o exercício da liderança cristã. Pr.Altair Germano.