Uma das grandes tarefas de Jesus em seu ministério foi a de preparar a geração de líderes que lhe sucederia. Pedro foi um desses líderes. O evento acima, narrado pelo evangelista e apóstolo Mateus, faz parte de uma das etapas desse treinamento.
A cena de Jesus andando sobre as águas deixou os discípulos perplexos. Para acalmá-los, Jesus lhes disse: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!” Penso que a voz do Mestre era inconfundível. Seria o caso que em meio ao desespero, associado ao barulho das ondas e do vento os discípulos não a reconheceram? O fato é que a palavra do Senhor não bastou, e Pedro, com o ímpeto que lhe era comum, logo diz: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas.” Prontamente Jesus lhe responde: “Vem!”.
Pela segunda vez a voz do Senhor soa, e Pedro resoluto parte para a sua grande demonstração de fé. Não seria o caso de aguardar Jesus no barco, confiando apenas em sua palavra? O que era mais lógico, mais simples e inteligente? Quando Ele diz para nos acalmarmos, o que nos resta a fazer é manter o equilíbrio e aguardar o seu agir. O que Pedro queria demonstrar com o seu gesto?
O espetáculo durou pouco. Os sentidos superaram a fé. A força da natureza sobrepujou em Pedro o poder da palavra de Jesus. O resultado disso foi que Pedro começou a afundar não apenas nas águas do mar da Galiléia, mas também no mar de suas próprias obstinações. Que cena desconcertante pode-se imaginar: Um experiente e robusto pescador morrendo afogado diante de um carpinteiro.
Jesus fica apenas aguardando a próxima atitude de Pedro, que se manifesta em forma de um pedido de ajuda. Quanto tempo durou para que Pedro pudesse humildemente clamar por socorro? Será que ele se debateu muito para não ter que chegar a esse ponto, e assim se livrar do vexame diante dos demais discípulos e expectadores da cena?
O grito de Pedro ecoou: “Salva-me, Senhor!” Jesus, de imediato lhe estende a mão e o ergue das águas impetuosas. Pedro teve que aprender com a própria experiência a lição da humildade e da dependência de Deus para o exercício da liderança cristã.
No ato de Jesus, reverbera a verdade de que nenhum líder, por mais experiente que seja, e por mais capas que se ache, é suficiente em si mesmo para enfrentar as adversidades da vida. Precisamos de Jesus!
Precisamos aprender a discernir a sua voz, e discernindo-a, obedecê-la.
Precisamos aprender que não adianta tentarmos lutar sozinhos, confiando em nós mesmos, quando as adversidades peculiares da liderança sopram impetuosamente, e nos fazem submergir. É preciso deixar o orgulho de lado nessa hora, e gritar por aquele que pode nos socorrer.
Há muitos líderes que neste exato momento estão afundando em meio às tribulações oriundas das incompreensões, calúnias, difamações, problemas familiares e conjugais, dificuldades financeiras, desprezos, injustiças, doenças, conflitos na igreja, etc. Outros estão submergindo nas tentações do sexo, do dinheiro e do poder. Sabem que vão morrer, e que não vão sair dessas situações sozinhos, mas resistem a ideia de clamar pelo ajuda da forte mão do Senhor, que prontamente os socorrerá.
Na fala de Jesus, outra lição nos é ensinada. Nem tudo que parece ser, é de fato uma demonstração da fé que glorifica a Deus: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?”, foi essa a repreensão pedagógica de Jesus. Pedro duvidou que o Senhor estivesse no controle da situação, quando ao caminhar em direção ao barco lhes pediu calma.
Em seguida, os papéis se invertem, e Pedro manda que Jesus lhe ordene que vá ter com Ele sobre as águas. Imagine só, Pedro agora está ditando como as coisas deveriam acontecer. Não acontece o mesmo em nossos dias? Não há líderes que insistem em dizer para Jesus como as coisas devem ser feitas? Não há lideres que em vez de servos obedientes ao Senhor dos senhores, se tornaram arrogantes em sua insensatez, e tentam submeter até Deus aos seus caprichos ministeriais? O resultado não poderia ser diferente.
Muitos dos que hoje parecem demonstrar uma grande confiança em Deus, não passam de meros artistas interessados em promover os seus espetáculos pessoais. É uma questão de tempo para que se assista a submersão dos tais.
Quando tiramos o foco do Mestre, e atraímos para nós os holofotes, podemos ter a certeza de que as coisas não vão terminar bem. O início do afogamento é inevitável. Sim, é melhor esperar quieto no barco diante da palavra do Senhor, para que a glória seja somente dele, do que se aventurar a caminhar sobre as águas, quando a ideia parte de nós.
Jesus conduz Pedro até ao barco. Fico imaginando Pedro segurando ainda trêmulo em sua mão, até se sentir seguro e salvo no barco. Logo em seguida, ao cessar o vento, o que de início normalmente aconteceria, acaba por acontecer: “E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus!”.
No fim do episódio, a glória coube a quem de fato ela pertence.
Aprendamos a lição da humildade e da dependência de Deus para o exercício da liderança cristã. Pr.Altair Germano.
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