quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cadê aquele vento?


A cena aconteceu em uma igreja pentecostal sexagenária. Cinco jovens na porta do templo comentavam a frieza do culto e alguém comenta alguma outra coisa sobre campanhas de avivamento na cidade. Foi quando uma delas, com tristeza reclamou:
- Eu sou de Belém do Pará, onde tudo começou. Estávamos acostumados com o calor pentecostal. Lá tínhamos o vento do Espírito com um culto agradável, cheio do poder de Deus sendo derramado sobre pessoas simples com grande amor para com as almas perdidas.
Um barrense mais empedernindo não se conteve:
- Aqui também tinha um vento impetuoso, que não vinha do mar, mas sim dos céus. Mas não tem mais. Desde então, fico a pensar com os meus botões. Que fim levou o vento do Espírito que fazia parte dessa igreja que começou em um porão? Que fim levou a pregação de arrependimento de pecados por evangelistas leigos, mas cheios de autoridade da Palavra, cheios de unção, que desbravaram sertões e florestas, enfrentando a morte por amor a Cristo. Semeando o pentecoste por todo o Brasil? Foi sugado pelo aquecimento global ou se acomodou nos templos climatizados e bancos acolchoados dos templos do entretenimento? Cadê aqueles templos em que, no auge do calor do culto de oração, a gente buscava o poder que vem dos céus e o refrigério da alma nas paginas da Palavra Sagrada? Naqueles dias, não buscávamos o refrigério na praia, tampouco no Rio São João, nem a brisa marinha do praião nos acalmava, somente a brisa do Espírito e ainda sim, a igreja crescia. O Evangelho avançava. Não havia escândalos com os obreiros mercenários e adúlteros. A Palavra não voltava vazia. Porque não se fazem mais cultos como antigamente? Que fim levou o vento pentecostal que veio das gerida Suécia para o calor dos trópicos paraense? Que fim levou a mensagem simples e objetiva que falava ao coração das multidões de que Jesus salva, cura e batiza como Espírito Santo? Que fim levou os profetas de Deus, que pregavam nas ruas, praças, estações de trem, sendo presos e humilhados pela turba multa e pelas autoridades constituídas? Que foram abandonados pelas suas famílias, por amor ao Redentor e não quebravam nada pela mensagem salvídica, confiando apenas na providência divina? Que fim levou, a igrejinha não simples e humilde, mas cheia do poder de Deus, onde os enfermos eram curados, os demônios expulsos e as almas recebiam a paz que o mundo não pode dar? Naqueles dias, éramos chamados de ignorantes e quadrados, assim como loucos pela língua dos anjos que falávamos. Os homens não usavam bermudas dentro da igreja e tampouco as mulheres mini-saias ou shorts nos cultos. Hoje, o mundo rola dentro da igreja com seus modismos alienantes. Foi mesmo buraco da camada de ozônio que mudou a vida espiritual da igreja, causando verdadeiras tempestades e inundações, deixando as pessoas desabrigadas ou como ovelhas sem pastor? Que fim levou as chuvas do Espírito, que não causavam tragédias, mas sim arrependimento, amor no coração e paz na alma? Que fim levou aquele grande movimento através dos anos de recuperação da verdade perdida, trazendo o povo de volta ao cristianismo apostólico originais, com curas, milagres e multidões sendo salvas? Que fim levou o movimento do Espírito com ênfase no evangelismo e discipulado sadio na família e na comunhão do lar, ao invés programação frenética de reuniões e louvores gospel que não permitem tempo algum para a construção de relacionamentos verdadeiros com o Espírito Santo? Que fim levou a humildade e o quebrantamento dos pastores responsáveis por este movimento que incendiou o Brasil com o fogo do Espírito? Que fim levou o compromisso dos pastores com o reino de Deus e sua justiça para trocá-lo com o reino dos homens com seus palácios repletos de corrupção e desprezo pela fé bíblica dos homens simples, que acreditam e confiam que Jesus Cristo é o Senhor de nossas vidas, da Igreja e do Universo.
As lideranças da Igreja Pentecostal Brasileira com suas diversas placas denominacionais, e sua mensagem triunfalista com base na teologia da prosperidade precisam receber de novo o sopro suave do Espírito que veio sobre a Igreja e a encheu de poder. Precisam ser lembrar que o Espírito Santo não é somente pneuma, o conceito do Novo Testamento para um Espírito manso e encorajador. Mas que Ele é também Ruach, a palavra do Velho Testamento para vento destruidor. (1)
Baruck Há Shem

Fonte: A Igreja do Século XX
A História que não foi contada - John Walker
Editora Atos – pág. 141.

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