terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A minoria pastoral


Quando da internação do meu filho Sergio Junior para operar uma apendicite no Hospital Central de Cabo Frio, uma cena me chamou a atenção para uma minoria especial. Na enfermaria 12, existiam 6 leitos, todos ocupados por diversos pacientes. Desde o baleado por cinco projetes de fogo até o operado hérnia de disco. Foi quando um senhor de cabeça branca com os seus 70 anos no horário da visita, portando uma Bíblia, se aproximou de cada paciente e de maneira silenciosa levantou suas mãos quase tocando o teto baixo e fez uma oração por cada enfermo, pedindo sua cura ao médico dos médicos, sem porém apresentar sua placa denominacional, falando apenas do Autor da Vida.
Pastor Vanderley Rodrigues Bento, mesmo liderando uma igreja com 70 congregações, continua fazendo parte de uma minoria pastoral que vive o Evangelho integral, chorando com os que choram e se alegrando com os que se alegram. Mesmo com a explosão de crescimento do ministério pastoral na Igreja Brasileira e o surgimento dos pastores profissionais para atenderem o mercado da fé mercantilizado, uma minoria que pratica o apascentamento com amor as ovelhas do sumo pastor é um grupo formado por poucos integrantes no Universo Eclesiástico. Acredito que hoje estejam em menor número do que a comunidade indígena que se tornou minoria por força da dizimação de suas tribos. O verdadeiro pastor de ovelhas que dá sua vida pelas ovelhas perdidas e que curam feridas, está em processo de extinção, e pouca gente tem se dado conta. A comunidade dos verdadeiros pastores que amam as ovelhas de Cristo, nunca se organizou formalmente em sindicatos, convenções ou denominações. Seus antepassados receberam o chamado direto de Deus e geraram filhos na fé com base na genuína Palavra Bíblica e na doutrina dos apóstolos. Não vieram para o Evangelho por causa do vil metal, mas foram alcançados pela graça e misericórdia do Bom Pastor. Com a introdução das técnicas de marketing do mercado e a alta competição religiosa, restaram poucos verdadeiros pastores que não se dobraram a Baal. Reconhece-los não é difícil. Eles costumam está nos hospitais orando pelos enfermos, visitando as ovelhas desgarradas e afastados do aprisco, derramando lágrimas nas madrugadas pelas vidas das ovelhas sem pastor, meditando na Palavra cristocêntrica para alimentar o rebanho com o alimento saudável, aconselhando casais em processo de separação, chorando no sepultamento da ovelha e consolando os que sofrem. Eles costumam ser objetivos em suas conversas e pregações, tem como único alvo levar as pessoas a Cristo. Eles seguem a admoestação no mártir Bonhoeffer: Não se queixam das suas congregações nunca a outras pessoas, mas também, não a Deus. Eles entendem que a congregação não lhe foi confiada para que eles se tornem seus acusadores diante de Deus e dos homens”.
Eles não são encontrados nos palácios governamentais, tampouco, no Congresso Nacional e muito raro nos mega-templos. Poucos são os que alcançam a fama na televisão e possuem livros teológicos publicados, e até mesmo o título de doutorado em divindade na Europa e nos Estados Unidos. A maioria deles, não vestem um terno Armani, estão mais para pele de carneiro. Muitos, não possuem nem mesmo uma bicicleta para buscar os perdidos, diferentes dos pastores executivos com seus conversíveis.
A nova minoria de pastores não pregam atalhos para chegar aos céus e se alegra quando um pecador se coloca de joelhos diante da cruz. Por falar, em joelhos, uma pequena minoria está calejada atrás do púlpito. Os verdadeiros pastores, não se impressionam com os exageros e delírios teológicos de seus pares com sua linguagem rebuscada repleta de citações filosóficas, preferindo manter do lado da Sagrada Escritura e falando a língua dos anjos que não se aprende em nenhum seminário ou faculdade. Para muita gente acostumada ao fast-food da fé, sua simplicidade é sempre atraso de vida, vá entender.
O verdadeiro pastor que faz parte de uma crescente minoria, não considera antiquado cumprir as leis sagradas de Deus para os homens. Antes, é a parte facilitadora do cotidiano de seu ministério. Para uma grande maioria de ovelhas expectadoras, o sucesso pastoral mede-se pelo tamanho do templo, o carro importado, o jatinho Hangar do aeroporto, os holofotes da mídia. Porém, para uma minoria que trabalha na operação sombra, como diria Ivan Illich, o verdadeiro trabalho do pastor é um trabalho que não é pago e poucos notam, mas que constroem um mundo de salvação, significado, valor e propósito, um mundo de amor, esperança e fé no Reino de Deus. Para aqueles, que fazem da minoria estão com poucas chances de sobrevivência de uma igreja onde está sendo adotadas as regras do mercado da fé, com seus pastores executivos que se morra em combate, como fez o apóstolo Paulo, pois o vosso galardão está guardado para ser entregue naquele grande dia. Minoria pastoral, resistam!
Baruck Ha Shem

Nenhum comentário: