Sempre fui, e permanecerei sendo, absolutamente contrário a toda e qualquer política de favorecimento. Abomino todo e qualquer tipo de Estado “forte”, paternalismo, protecionismo ou intervencionismo. O Estado é, quase por necessidade ontológica, um tirano em potencial; se descuidamos, assenhora-se de nós.
Quando Israel pediu um Rei, Deus alertou das consequências: “Ele tomará os vossos filhos e os empregará para os seus carros e para seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros; e os porá por príncipes de milhares e por cinquentenários; e para que lavrem a sua lavoura, e seguem a sua sega, e faça as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. E tomará as vossas filhas por perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais e os dará aos seus criados. E as vossas sementes dizimará, para dar aos seus eunucos e aos seus criados...” (I Samuel 8.11-19)!
Nesse dialogo com Samuel está Deus descrevendo a maior praga que pode se abater sobre uma civilização. Trata-se da mesma praga que levou a ruina do Império Romano, da Alemanha Nazista, da União Soviética, e está conduzindo o Ocidente para o abismo. Hobbes apenas sistematizou uma teoria sobre o Leviatã, mas seus males já eram conhecidos do antigo povo de Israel. O que Deus está dizendo a Samuel, o profeta? Que quando um povo coloca suas esperanças no Estado, torna-se seu escravo. Ou, como escreveu o economista F. A. Hayek, permitir que o Estado seja fonte de esperança, que estenda ele seus braços sobre toda a comunidade, é o “caminho para a servidão”.
O Rei tomaria a melhor parte da riqueza da população. Hoje no Brasil trabalhamos quase meio ano apenas para pagar impostos. Quase ninguém reclama, ou sequer nota o problema. Há ainda aqueles que pensam que um Estado que se apodere dos meios de produção, seja pela Estatização ou pelo intervencionismo, nos conduzirá a um mundo melhor. Para este segundo grupo de pessoas, as ideias de Marx são praticamente meias-irmãs do Evangelho. Contudo, Deus diz a Samuel que um Estado que se assenhora compulsoriamente de parte da riqueza produzida por um povo é uma maldição, e não uma benção. Dito isto, que dizer de um Estado que se assenhora cada vez mais?
Observem que no dialogo com Samuel somos informados que o tributo devido ao Estado seria 10% da renda – “as vossas sementes dizimará”. Somado aos outros 10% já exigidos pelo próprio Deus, a tributação passou a ficar na casa de 20%. Essa quantia seria um verdadeiro paraíso hoje! De fato, basta o governo diminuir 1% ou 2% na carga tributária para a economia crescer a passos galopantes! No entanto, Deus não estabelece aquele tributo de 10% de modo positivo. Para Deus aquilo era um castigo pelo povo desejar ser governado por um Estado, e não pela Lei do Senhor. Como posso, enquanto cristão, depositar minhas esperanças de um mundo melhor nas benesses do Estado, quando a força do Estado é tida por Deus como servidão?
No versículo 17 lemos: “Tomará um décimo de vosso rebanho; e vós lhes servireis de escravos!”. Para Deus, o Estado forte é um monstro devorador da riqueza e da liberdade. E nós estamos muito pior que o povo de Israel. Ao longo do Governo José Sarney, a taxa tributária no Brasil oscilou entre 20 e 22,66%; o que representava trabalhar de 73 a 82 dias por ano para pagar o Governo. Na era Collor-Itamar a taxa aumentou, variando entre 24,66 e 29,86%; o que representava trabalhar de 90 a 109 dias para pagar o Governo. Depois, na era FHC a taxa tributária ficou relativamente estável em seu primeiro mandato, mantendo se entre 27,40 e 29,04%; mas no segundo mandato, aumentou terrivelmente, oscilando entre 31,51 e 36,44. Ou seja, no primeiro mandato o Braseiro trabalhou para pagar o Governo quase o mesmo que trabalhou na era Collor-Itamar; já no segundo período, precisou trabalhar de graça entre 115 e 133 dias!
Na Era Lula, a carga imposta ao povo também aumentou. No primeiro mandato ficou entre 36,99 e 39,73 – ou seja, 145 dias trabalhas para o Governo. No segundo mandato, a carga oscilou entre 40 e 40,5% - ou seja, quase 5 meses de trabalho usurpados pelo Leviatã. Se nos dias de Sarnei pagávamos quase o mesmo que Israel, depois da Era FHC e de Era Lula, nossa maldição dobrou de tamanho!
O Rei tomaria os filhos de Israel. Mesmo que uma nação não deseje um determinado conflito, o fato é que seus filhos são obrigados ao serviço militar. Isso acontece praticamente em todo o mundo, se é que há alguma exceção. Não importa que o povo americano não quisesse a Guerra do Vietnã, milhares de seus jovens foram mortos nas selvas comunistas. Não importa que os cristãos almejem educar seus filhos nos caminhos do Senhor, o Estado acredita possuir uma alternativa melhor, e não poupa esforços para doutrina-los como bem entender. O Estado que se diz “laico” não tem modéstia quando se trata de ridicularizar a fé cristã, e promover a destruição da Igreja, não obstante ela ter construído a Civilização Ocidental.
O Leviatã, o Estado Forte, não serviliza os homens apenas economicamente. Suas garras estendem-se também sobre corações e mentes. Vou compartilhar uma experiência bem recente. Trabalho em uma empresa que vende, dentre outras coisas, produtos financeiros como seguros e empréstimos pessoais. Eu sou do setor financeiro – uma experiência nova para mim. Nesse ramo precisamos verificar os antecedentes do consumidor antes de liberar seu crédito ou compra. O procedimento é o mesmo, seja o cliente branco, negro, homem, mulher ou homossexual. No entanto, há sempre alguém que pensa que tem direitos especiais.
Atendi o rapaz e seus dados não conferiam. Expliquei a ele a situação e ele ficou irritado. Depois de alguma discussão pediu que o gerente fosse chamado. Dentre suas reclamações a ‘impressão’ de eu lhe estar questionando motivado por algum sentimento homofóbico! Talvez se, na hora do atendimento, meu crucifixo estivesse visível sobre a camisa, ele tivesse além do gerente, chamado a policia! A objeção daquele jovem me deixou profundamente impressionado. Passado o conflito, alguém me alertou: “Muito cuidado ao tratar com pessoas assim”! Ora, desde quando homossexual merece tratamento diferenciado? Quer dizer que eu posso pedir garantias de um negro, de uma mulher, de um branco, mas não de um homossexual?
Não tardará muito o dia que nossos Legisladores irão propor que a Bíblia seja tratada como Literatura perigosa, de acesso restrito. Em muitos lugares do mundo propostas assim já foram apresentadas. Ao mesmo tempo, promove-se o aborto, o infanticídio, a eutanásia, e todo tipo de valores ‘progressistas’ que contrariam a Moralidade Cristã. Recentemente representantes do Estado consideraram símbolos cristãos impróprios para uso em repartições públicas, e a Justiça deixou de considerar crime a pedofilia de um adulto, alegando que a criança havia consentido. Como escrevi aqui a poucos dias, filósofos já defendem que matar uma criança recém-nascida é absolutamente aceitável, já que é a sociedade quem decide o que ou não humano, o que é ou não ‘vida digna’, e assim por diante.
Contudo, as pessoas não estão mudando naturalmente de postura. Todas essas mudanças de mentalidade estão sendo orquestradas por supostos especialistas a serviço do Estado. Não é a toa que, não há muito tempo, representante do nosso Governo ter deixado escapar que pretende criar uma mídia que concorra com a influência dos cristãos nas classes mais pobres. Estamos presenciando uma verdadeira reengenharia social – contrária ao Cristianismo. Nem mesmo os homossexuais são como o Estado quer! Acreditem, conheço muitos homossexuais que são pessoas maravilhosas, e tenho o privilégio de trabalhar com alguns. No entanto, o Estado pretende que sejam tratados como uma classe especial, e alguns se deixam seduzir pelo canto do Leviatã.
Termino com duas observações necessárias. Primeiro que não sou contra o Estado em si. Não sou anarquista como popularmente se entende o termo (risos). Parafraseando o economista austríaco Ludwig von Mises, se digo que gasolina não serve como alimento, não quer dizer que eu seja contra a gasolina! Assim penso a respeito do Estado: o Estado ‘forte’ é biblicamente descrito como maldição, o que não implica defender a ausência total de Governo. Certamente isso exige um esforço contínuo, uma recusa em se deixar dominar pelos poderosos. Alguém já disse que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.
Em segundo lugar, nunca canso de alertar meus leitores do risco do pessimismo escatológico. Se fosse adepto de uma “exegese de jornal”, certamente concluiria que tudo iria de mal a pior, sempre e cada vez mais, até que o fim chegasse. Minha exegese, porém, baseia-se nas Escrituras, não no Jornal Nacional. Acredito, assim, que mesmo que as coisas se tornem ainda piores que estão, nenhuma força será capaz de barrar para sempre o avanço do Reino de Cristo, pois o seu reinado se estenderá por toda a Terra! Talvez nosso sangue fique pelos Coliseus da História, mas a Mensagem do Cristo prevalecerá. Marcelo Lemos.
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