segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Educação Teológica na U.T.I.


Tenho percorrido o Brasil em comissões de avaliação de cursos de teologia. Nessas andanças, chamou minha atenção o fenômeno da Endogenia, como o definiu meu colega de trabalho, que muito a propósito lembrou-me ainda de seu equivalente no alemão: Inzucht. Essa palavra significa a cultura de um ser, a partir de dentro, do cruzamento de indivíduos daquela comunidade entre si, sem possibilidade de “oxigenação”.
 
Explico. Muitos dos professores, antes de exercerem a profissão, eram alunos de professores daquela instituição, que por sua vez foram alunos e assim vai, por gerações a fio. Sim, as instituições teleológicas são centenárias no Brasil.
 
A novidade é que desde 2009 a área foi oficialmente reconhecida pelo governo como um campo da ciência e, portanto, algo sobre o qual pode legislar. Mas, às instituições teológicas foi garantido o direito de, se assim desejarem, permanecerem “livres”, ou seja, independentes de qualquer legislação governamental, mas também, sem reconhecimento oficial como cursos de bacharel ou mestrado e doutorado.
 
Mas o que acontece na “endogenia” dos seminários e o que não pode haver em cursos reconhecidos: produção própria de profissionais que, sendo formados pela própria instituição, cantam conforme o hinário da mesma e tendem a ousar pouco, no sentido da mudança, de modo que o curso se torne “em-si-mesmado”.
 
Uma das consequências mais nefastas disso está na metodologia. Os cursos de teologia, à semelhança dos de filosofia, tendem a reproduzir os seus modelos metodológicos, basicamente “verborreicos” (aula expositiva, que não deixa de ser expositiva pelo uso de tecnologias, como o data-show).
 
Por que é tão difícil prender a atenção do aluno? Uma das reclamações mais frequentes entre eles mesmos. É simples. Não há sangue novo e, uma das consequências disso, é o sufocamento da dinamicidade própria de qualquer curso, tanto os universitários, quanto os teológicos.
 
As aulas seguem aquele modelo pronto, previsível, monológico (e não dialógico, como deveria ser), em que o professor está preocupado apenas com o conteúdo, com o saber e não o ser e com o fazer. Teoria e prática andam há quilômetros de distância e professores e alunos estão desmotivados, sem a vida que se espera de um cristão autêntico.
 
As aulas são enfadonhas e rotineiras e o aluno fica se perguntando se não era melhor aprender tudo aquilo sozinho, diante de um computador e uma internet potente.
A Drª Sherron K. George comenta em seu artigo, que recomendo a todos aqueles preocupados com a educação teológica, que quando nos referimos à natureza criada do ser humano, toda educação integral deve ser mantida em vista:

[...] pode-se dizer que Deus incentiva a criatividade com parâmetros, com que o ensino deve promover espaço para a criatividade. Deus concede ao ser humano o poder generativo da vida, fertilidade, produtividade, criatividade, estética e imaginação artística. As implicações dessas verdades, para os seminários, são claras. É que o aluno tem o privilégio e a responsabilidade de explorar e pesquisar com liberdade, arte e imaginação e, ao mesmo tempo, tem que respeitar certos limites e técnicas. (FEORGE, SK, “Fundamentos Bíblicos e Pedagógicos da Educação Teológica”, Reflexão Teológica, nº2 (2010) São Paulo: Betel Brasileiro, 2010, p. 114).

Também a criatividade do professor é muitas vezes sufocada pelo excesso de formalismo e pela mencionada Endogenia e Inzucht. E assim, sua dinamicidade e carisma jazem na penumbra e às margens de currículos mumificados e inchados. Haverá esperança de se quebrar o ciclo vicioso? Deus salve a Educação Teológica!Gabriele Greggersen

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