quinta-feira, 4 de outubro de 2012
"Que saudades da outra Assembleia de Deus!"
Em homenagem ao centenário do movimento que culminou com a denominação Assembléia de Deus, transcrevo na íntegra artigo instigante do Pastor Joanyr de Oliveira publicado no Mensageiro da paz nº 1285, de abril de 1994. Ele pastoreou a Igreja Assembléia de Deus em Sobradinho-DF, Quadra 12 - Área Especial, nos anos 1985 a 1987. Em 2006 fundou uma Assembleia de Deus no coração do Plano Piloto. Além disso, foi o criador das revistas "A Seara" e "Jovem Cristão" (extintas) e "Manual do Obreiro Cristão" e editor do livro "História ilustrada das Assembléias de Deus no Brasil". Ele partiu para o Senhor um dia antes de completar 76 anos de idade, em 5 de dezembro de 1999.
"E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissenssões e escândalos contra a doutrina que aprendestes...". Rm. 16:17.
"Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas, porque bom é que o coração se fortifique com graça, e não com manjares, que de nada aproveitam aos que a eles se entregaram". Hb. 13:9.
"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude e s ehá algum louvor, nisso pensai". Fp. 4:8.
"Amados, não creais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo". I Jo 4:1.
Sinto saudades da Assembléia de Deus em que os cultos se realizavam com toda a simplicidade, sem as "técnicas" que tanto impressionam nos dias de hoje.
Os pregadores não tinham cultura. Eram agricultores, pedreiros, sapateiros, ferroviários, balconistas, homens de pouca ou nenhuma escolaridade, oradores sem homilética - mas como o Espírito Santo operava! E me pergunto: por que é que agora, tantas e tantas vezes predomina a frieza, ou tudo se torna artificial, falso, inautêntico? Agora, quando tantos entre nós são bem preparados, intelectualmente; quando dispomos de tantos (e de alguns ótimos) institutos bíblicos, é que o progresso da obra deveria estar acelerado. Mas as igrejas, em sua maioria, seguem com lentidão, e os milagres até desapareceram de muitas delas.
Seria então a cultura um fator negativo, como - a escandalizar-nos - declaravam espíritos obscurantistas, notórios na apologia da ignorância? Claro que não! O nosso Deus é Sábio dentre os sábios. A Bíblia, "o livro de meu Deus" conforme diz o hino, é a maior obra da literatura universal. As páginas inspiradas pelo Espírito Santo aos profetas, aos evangelistas, aos apóstolos são muito mais lidas e amadas, pela sua beleza e profundidade, do que Platão, Sócrates, Aristóteles, Cícero, Dante, Milton, Shakespeare, Dostoievski, Cervantes, Camões... e tantos outros.
Que, então, estará acontecendo?
Se a sabedoria não afastou Salomão ou Paulo de uma vida de perfeita comunhão com Deus, antes contribuiu para que se colocassem mais junto dele, mais a ele submissos, não seria agora que a cultura haveria de trazer incompatibilidade entre os crentes e o seu Senhor.
O que falta, provavelmente, são joelhos humildemente dobrados na presença do Altíssimo, mais acatamento das autênticas doutrinas bíblicas, mais simplicidade, mais autenticidade. (E, a esta altura, é oportuno lembrar aqueles de que falou Jesus, segundo Mateus 6:16: "E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram os seus rostos para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão".)
O conforto material, o dinheiro (muitas igrejas são ricas) têm colcocado as orações em segundo plano, porque agora parece que não nos consideramos tão dependentes do socorro de Deus. Implantaram-se novos "valores", desaprendeu-se a busca "primeiramente o reino de Deus e a sua justiça..." Agora, o que se sequer é status, são glórias humanas, são bens materiais.
Há os que compram apoio, há os que se vendem para obter mordomias, títulos e espaço ministerial. Há "consagrações" de neófitos, de meros "aliados", simples bajuladores, de pessoas sem a menor dignidade, sem nenhuma chamada do Senhor. Há os que jogam para o interior da igreja verdadeiros "entulhos" doutrinários, os quais estavam longe de ser admitidos na Assembléia de Deus dos nossos antepassados.
Há os profissionais do púlpito, para os quais inexistem princípios, não há ética, mas apenas interesses, "tronos" a serem preservados a qualquer preço. (E ai dos que discordarem desses intocáveis "ungidos" que tanto envergonham a igreja com suas manobras, falsidades, usurpações e inovações danosas ao corpo de Cristo...) Há os que transformam os púlpitos em balcões de negócios e palanques, e vendem os crentes como se fossem gado, humilhando a igreja perante o mundo, conspurcando a sua santidade emanada na Cruz. (E os que se angustiam com isso são estigmatizados com a pecha de rebeldes e de "esquerdistas"...).
Sinto saudades da Assembléia de Deus que os políticos desprezavam. Somente éramos lembrados pela ira dos vizinhos, os quais nos ofendiam, apedrejavam e ameaçavam com ações na Justiça. Truculentos delegados de polícia atormentavam os nossos obreiros, perseguindo-os pela "prática de curandeirismo" e pela "perturbação à ordem pública".
Nenhum candidato a cargo eletivo batia à porta do pastor ou do templo - graças a Deus por isso! - para oferecer o dinheiro vil, o emprego público imerecido e indigno, que jorram hoje, como lama, para o nosso meio. Nós éramos tão pouquinhos, a Casa de Oração funcionava em uma humilde residência, em um casebre na rua mais pobre do subúrbio. Os poderosos se riam dos "bíblias" e inventavam as mais sórdidas histórias sobre a nossa moral, levando pais de famílias a nos abominarem, a espancar os filhos a abondonar esposas que decidiam pagar qualquer preço pela fidelidade ao Senhor.
Os eminentes não tomavam café à nossa mesa, porque desprezavam a "gentinha"; mas como o Espírito Santo nos visitava! Como Deus nos falava - e eram tão raros os falsos profetas!... Como as curas aconteciam! - e não era necessário que ninguém induzisse, com gritaria e lavagens cerebrais, para que o sobrenatural acontecesse. Como era comum o batismo no Espírito Santo! (Hoje, muitas vezes, Deus opera apenas por amor à sinceridade e pureza dos crentes, e só por isso...)
Sinto saudades da Assembléia de Deus que os pioneiros nos legaram. Os hinos eram mal cantados, e no entanto nossos corações jubilavam. Sonhávamos com um singelo trombone ou clarinete... Órgão, nem em sonho... Piano? Nem pensar... Tê-los era privilégio dos irmãos batistas e prebiterianos... Mas hoje, tudo mudou. Corais belíssimos, conjuntos e orquestras arrebatadores. Louvamos a Deus porque eles chegaram.
Contudo, nos entristecemos quando pensamos naquelas "estrelas" e nos "astros" que também chegaram aos templos para exibir-se, para mostrar os seus dotes artísticos. (Quem disse que "toda honra e toda glória pertencem ao Senhor?" talvez algum antiquado, algum dromedário, alguém que se perdeu nos labirintos da Idade Média, que - pobrezinho - se esqueceu de ficar moderno...) O profissionalismo, no que há de pior na expressão, fala muito mais alto.
Muitos dos cantores de hoje jamais experimentaram o "novo nascimento" em Cristo Jesus. Muitos dos hinos são compostos ou orquestrados por ateus, agnósticos, espíritas; muitos músicos participam das gravações apenas pelo dinheiro, nem sabem onde fica a Casa de Deus. E quando aqueles cantam, quando se exibem, há auditórios que explodem em aplausos, tudo como nos mais ruidosos espetáculos mundanos...
Muitas igrejas vulgarizam, o folclore tomou o lugar da unção verdadeira e da santidade requerida pelo Espírito do Senhor. A Casa de Oração transformou-se em teatro, o povo passou a exigir atores e artistas da palavra a e da música. (Que estes estipulem seus cachês, que digam o quanto de prata e de ouro deve ser trocado pelo brilho de seu talento, porque o povo paga com alegria. Não é assim entre os ímpios e seus ídolos? "Por que não há de ser também assim na igreja do fim deste tremendo século?")
Sinto saudades da Assembléia de Deus - da única Assembléia de Deus que outrora existia, em todos os rincões do Brasil. "Um só Senhor, uma só fé...", Ef. 4.5. Agora muita coisa mudou; quase sempre porque - em vez de se conservar o modelo - passou-se a imitar exatamente os que deviam seguir o exemplo da igreja que, impulsionada pelo Espírito, se tornou a maior comunidade pentecostal de toda a História e de todo o mundo. Isto porque nela todos amavam a Palavra de Deus e a seguiam.
Felizmente, aquela Assembléia de Deus não acabou de todo. Ainda há muitos obreiros e milhões de crentes que não mudaram. Sem ser legalistas, sem aplaudir obscurantismos, sem admitir farisaímos que também desfiguram a Igreja do Senhor, mantêm-se fiéis ao modelo deixado pelos pioneiros. Graças a Deus, porque eles estão firmes e resistem aos "ventos de doutrinas" e à avassaladora onda de corrupção de nosso tempo. Porque eles existem, e porque em toda a Terra existem crentes como ele, Jesus pode vir buscar a sua Igreja - pode vir, e não voltará aos céus de mãos vazias. (Louvado seja o Santo Nome!)
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