No alvorecer de um dia, no vale chamado esperança, um lobo observava um rebanho de ovelhas, que descansavam sobre a relva umedecida. Cansado dos assaltos noturnos e das barbáries do bando, o lobo descobriu que o rebanho desfrutava de uma vida abundante, com noites bem dormidas, boa alimentação e cuidados especiais.
A descoberta gerou uma dinâmica de motivação e esperança na alma exausta do velho lobo. Mas como poderia ser uma ovelha? Como adquirir as vísceras existenciais de uma ovelha? A solução imediata foi se vestir de ovelha. Pensava que no convívio diário com o rebanho se tornaria uma ovelha autêntica.
No primeiro dia, descobriu que a vida prática de uma ovelha era apaixonante. Fez amizades incríveis, conquistou o carisma do rebanho, inclusive do pastor. Alegrava-se quando, no alvorecer do dia, o pastor despertava e conduzia o rebanho para um breve passeio nas colinas.
Era comum, após a refeição diária, o rebanho permanecer às margens do rio de águas cristalinas que cortava o vale. Deitadas na relva, as ovelhas admiravam o esplendor do horizonte colorido. Ficavam anestesiadas diante do céu azul que desaguava no horizonte. A brisa suave que soprava do sul coadunava com o cochichai das águas, que numa sinfonia angelical ninava o rebanho no sono da inocência.
Tudo transcorria perfeitamente bem quando o inusitado aconteceu! Sem pedir licença, a natureza adormecida do lobo vestido de ovelha despertou-se.
Em uma noite fria de inverno, enquanto o rebanho dormia, não suportando mais a tortura de sua natureza, retirou a roupagem de ovelha e caiu no mundo dos lobos. Naquela noite viveu, correu e extravasou como um autêntico lobo. Estava exausto, quando a lembrança do aprisco alvoreceu com o sol. Confuso, o lobo começou a correr enquanto colocava a roupagem de ovelha.
Entrou no aprisco sorrateiramente, ocupando seu espaço. Em seguida o pastor com a mesma leveza de sempre começou a despertar as ovelhas. Pensou consigo, “esta foi por pouco!”
Durante o dia militou bravamente contra a fúria de sua natureza que robustecia a cada instante. Quando a escuridão noturna vestiu o céu, novamente não suportou e outra vez caiu no mundo dos lobos.
Caminhava cansado em um vale, quando o sol novamente alvoreceu no horizonte. Instintivamente, começou correr em direção ao redil. Entrou e novamente acomodou-se em seu lugar. O enigmático fato repetiu-se durante uma semana.
Em uma dessas noites, enquanto voltava para o redil, seu coração dilatou. Não suportou mais a realidade repugnante, e desabou no chão umedecido. Uma oração singela e espontânea brotou do seu coração: “Deus! Confesso que sou um lobo, mas desejo ser uma ovelha. Imploro que me transforme em uma verdadeira ovelha!”.
Sabe o que aconteceu? Deus ouviu a oração daquele lobo, realizando o que nenhuma religião ou técnica de aprimoramento moral pode realizar, transformou aquele lobo em uma autêntica ovelha, com isto, o prazer de alimentar-se nos campos verdejantes, de repousar taciturno em uma noite fria e obedecer prontamente à voz do pastor brotou em suas entranhas.
Deus conhece a essência de cada homem, mas espera sua resposta positiva ao seu convite de amor. Quando o homem diz sim a Deus, o lampejo do milagre rasga o horizonte.
Infelizmente a proposta em muitos redutos cristãos é a pregação de um evangelho adaptador. O resultado é o aumento de pessoas que ainda não foram transformadas, mas estão apenas motivadas pelo processo da religiosidade, sendo que, uma das máximas do genuíno Evangelho é – “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Jo 8.36. Samuel Torralbo
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