Nos primórdios da Igreja Evangélica brasileira, a
confrontação ao pecado era pratica comum dos sacerdotes e profetas levantados
por Deus, e o evangelho crescia transformando vidas com amor e a graça
redentora de Jesus. A igreja de Cristo neste período ganhou credibilidade e o
respeito ate mesmo dos seus inimigos. Porem com a banalização do pastorado em
alguns seguimentos denominacionais estou vendo diante das ultimas noticiais na mídia,
de que muito da decadência moral e ética que nossa geração enfrenta se deve ao
fato de que a um certo tempo atrás, vários ministros outrora protestantes,
optaram pelo conformismo ao contratrio da confrontação. Escolhemos a zona de
conforto, no consenso no lugar da convicção. Em muitos lugares temos seguido as
leis das corporações eclesiásticas, em vez de obedecermos a Deus e as suas
leis. Como bem declarou o escritor egípcio Michel Youssef : “ A Igreja está se
tornando um simples reflexo da sociedade, com cada vez menos pessoas amando e
obedecendo a Deus, servindo-o e tornando-o conhecido. O culto de domingo pela noite se transformou
num show, onde as pessoas aparecem na igreja para serem entretidas pelos músicos
e pelo pastor animador. A maioria da congregação não quer participar ou assumir
qualquer tipo de compromisso. Estamos vivendo dias, em que nossas igrejas
precisam de pastores inconformado como Jeremias e João batista, servos do
Senhor que defendiam a verdade com coragem e não se deixavam intimidar pela
multidão. Precisamos do tipo e pregadores descritos pelo fundador do Metodismo
João Wesley: “Dê-ME CEM PREGADORES QUE NADA TEMAM A NÃO SER O PECADO E QUE NADA
DESEJEM A NÃO SER DEUS, SEJAM ELES PASTORES OU LEIGOS; ELES SOZINHOS, ABALARAM
AS PORTAS DO INFERNO E ESTABELECERÃO O REINO DE DEUS NA TERRA”. Precisamos
cavar de novo os velhos poços e chama-los pelos mesmos antigos nomes. Gêneses 26.18. Deus deseja usar
os inconformado que tenham a disposição de se entregar ao serviço do Reino. Uma
maravilhosa ilustração desse principio vem da vida de Olliver Cromwell, que foi o 1Ministro da Inglaterra no
Século XVII durante a Guerra Civil, e o
tesouro nacional britânico teve falta de prata para cunhagem de moedas para o
reino Inglês, Cromwell enviou alguns de seus homens para viajar por todo reino
afim de trazer prata para ser usado pelo governo. A delegação relatou a Cromwell
que a única prata que encontraram estava nas estatuas dos santos nas igrejas da
Inglaterra. – O que devemos fazer? – perguntaram eles ao seu líder. a resposta foi: Vamos derreter os santos e
coloca-los em circulação entre o povo.
Da mesma maneira Deus, deseja colocar pastores inconformados em circulação,
porem antes ele vai derretê-los . Baruch Há Shem! Pr. Sergio Cunha.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
A PROFUNDA SUPERFICIALIDADE DE NOSSOS DIAS
Uma das características que melhor definem a época da História em que vivemos é a superficialidade. Somos pensadores superficiais. Somos cristãos superficiais. Aliás, eu diria até que somos profundamente superficiais. Claro que ser “profundamente superficial” é o que chamamos de um oximoro – uma expressão que se contradiz e, ao fazê-lo, afirma uma contradição. Assim como “água seca”, ou uma “verdadeira mentira”, “profunda superficialidade” soa como um absurdo. Mas é isso mesmo o que somos. Pois somos superficiais até as mais profundas profundezas da nossa alma. Não importa quão profundamente cavemos na nossa alma contemporânea, nunca chegamos a algo que seja substancial. Tudo é superficial. Nossos sentimentos mais profundos são superficiais. Nossas paixões mais arrebatadoras são superficiais, efêmeras, passageiras. Somos pessoas cuja alma se assemelha a uma floresta inteiramente composta por árvores sem raízes. Por mais que você consiga adentrar os recônditos mais escondidos da floresta, não achará uma árvore que tenha firmeza. Pois, sem raízes, qualquer uma delas é facilmente arrancada pelo vento e substituída.
Essa constatação não significa que não tenhamos sentimentos fortes. Temos. Não quer dizer que nossas atitudes não sejam profundamente sentidas. São. Mas todas as profundezas do nosso ser, de nossos sentimentos e das nossas atitudes são, em última análise, superficiais.
Tomemos como exemplo a postura atual da maioria da sociedade brasileira contra a homofobia. “Todos” se dizem profundamente inconformados com os “tão intolerantes” cristãos. Afinal, “todos sabem” que qualquer opção de vida que um indivíduo faça é seu direito e é algo “absolutamente normal”. Esse é o discurso feito em público. Só que o bloco político que fez da sua campanha a defesa dos homoafetivos foi derrotado nas urnas de uma maneira tão absoluta e humilhante que ninguém quer falar a respeito do assunto. Na hora do “vamos ver”, da defesa política da opção dessas pessoas, ninguém compareceu. Multidões aparecem para fazer uma parada festiva. Mas, na hora de transformar esse discurso em ação… nada. E, quando não há um gay por perto, a grande maioria dos que os defendem não hesita em fazer piadas sobre os seus trejeitos.
Mas não sejamos duros com os que não compartilham da nossa fé. Afinal, vivemos numa casa cujo telhado também é de vidro. Se começarmos a jogar pedras, estilhaços vão voar para todos os lados.
Vejo pessoas demonstrarem uma enorme paixão ao defender o culto “gospel”, com todas as suas manifestações emotivas e bombásticas, e que afirmam ter um profundo “amor” para com Deus e seu Filho, Jesus Cristo, para não mencionar também o Espírito Santo. Derramam lágrimas. Fiéis se prostram e até se arrastam pelo chão, rugindo como leões. Muitos abanam os seus braços numa comoção em massa, enquanto alguém grita ao microfone algo sobre render honra, glória e louvor ao Deus Altíssimo, criador dos céus e da terra.
Pouco tempo depois, muitos (sim, muitos) estão tomando umas e outras no barzinho e contando piadas sujas. Não são poucos os jovens que até terminam no motel uma noitada após um “cultaço”. Sua paixão profunda no culto não passa de uma profunda superficialidade. Sim, porque não há ligação entre uma paixão e a outra. Arrebatados pelo culto, são, em seguida, igualmente arrebatados pelos seus instintos mais baixos, traindo tudo o que o culto deveria representar.
Leio a lista dos interesses que pessoas escrevem em seu perfil do Facebook e me espanto. Enquanto dizem “curtir” o reverendo Paul Washer, “curtem” programas de televisão que promovem sexo ilícito e toda sorte de perversão, justo aquilo que o reverendo Washer combate tão claramente: True Blood, Sexo sem compromisso, Friends, Vampire Diaries, Crepúsculo e uma infinidade de filmes e seriados que vomitam sua imundície sobre o mundo todo. Qualquer um que fizesse um estudo do perfil da maioria dos jovens que povoam a nação virtual teria que chegar à conclusão de que são insanos, hipócritas, e ímpios disfarçados de crentes. E é exatamente o que são. Iludem-se ao pensar que podem ser amigos do mundo e também de Deus.
Seus corações não estão alicerçados em Jesus. Sua paixão por Cristo é tão profundamente superficial como sua paixão pelas inúmeras cores de esmalte (que é a moda atual entre as mocinhas de Cristo) ou por sapatos – sim, sapatos. De cabeças ocas e corações esfacelados, vivem sendo arrebatados pela última novela (sim, porque isso é normal e achar que não é torna-se legalismo), moda, filme ou música. Põem Jesus Cristo ao lado de Lady Gaga nas suas páginas de “curtir”.
É insano. Uma geração sem moral, sem raízes e sem um norte.
Mas… será que são todos assim? Claro que não. Alguns estão começando a pensar. Alguns estão começando a se questionar. Nem tudo está perdido. Mas a maioria, lamento dizer, está.Walter McAlister
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Como misturar “tudo posso” com “naquele que me fortalece”?
A posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do Supremo Tribunal Federal, na última semana, contou com uma contribuição, digamos, teológica. Em meio aos cumprimentos, a mãe do novo presidente foi incisiva: “O que eu dei foi oração, ele lutou por conta própria". A frase faz sentido. Tanto por conta da conhecida história de superação do filho célebre, como pela ênfase na vida de oração da mãe piedosa.
Não posso imaginar a ginástica teológica – e menos ainda a emoção – da mãe do primeiro negro a comandar a mais alta corte do país. Mas é preciso confessar: nem sempre oramos “como se tudo dependesse de Deus”. E nem sempre “trabalhamos, como se tudo dependesse de nós”.
Não posso imaginar a ginástica teológica – e menos ainda a emoção – da mãe do primeiro negro a comandar a mais alta corte do país. Mas é preciso confessar: nem sempre oramos “como se tudo dependesse de Deus”. E nem sempre “trabalhamos, como se tudo dependesse de nós”.
Numa época em que a busca pelo sucesso é quase uma obsessão, a receita apresentada por dona Benedita Barbosa foi: oração e esforço próprio. O equilíbrio não é fácil. Quase sempre dizemos “tudo posso” e raramente falamos “naquele que me fortalece”, especialmente se pensamos que podemos alguma coisa.
Lembrar Neemias, modelo decantado de liderança cristã, pode nos ajudar. Logo nos primeiros capítulos é possível perceber que ação e oração não são opções excludentes. E, depois de ter portas abertas e a manifestação clara de Deus sobre os seus planos, ele continua: “Nós oramos ao nosso Deus e colocamos guardas de dia e de noite para proteger-nos” (Ne 4.9).
Enfim, não é possível esgotar o assunto. Mas, no livro dos Salmos, Davi nos conta algumas histórias exatamente como as ouviu dos seus pais, e ele sabia para que lado pendia a balança: “Não foi pela espada que conquistaram a terra, nem pela força do braço que alcançaram a vitória; foi pela tua mão direita, pelo teu braço, e pela luz do teu rosto, por causa do teu amor para com eles” (Sl 44.3). E, por falar em balança, o próprio Deus faz uma pergunta constrangedora a ninguém menos do que Jó: “Você ainda compara a sua força com a de Deus?” (Jó 40.9).Marcos Bontempo
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Opção pela Comunhão
O desejo de união na
igreja é quase tão antigo quanto a própria pregação do evangelho. Em Tamoios no
Segundo Distrito de Cabo Frio, onde sua falta é um grande obstáculo para o
testemunho de cerca de 144 igrejas das mais diferentes denominações,
alcança-las é quase uma utopia, mais, como tudo é possível ao que crê, os evangélicos
tamoienses deram um passo decisivo pela luta desse ideal no dia 30 de outubro
de 2010, em uma Assembleia realizada no templo da Segunda Igreja Batista de
Aquarius. Os desafios nestes dois anos foram imensos, especialmente o de atrair
pentecostais e tradicionais com visão de Reino de Deus. Uma das principais
preocupações da atual diretoria está em não repetir os erros do passado, quando
lideranças carismáticas usaram o conselho para buscar a ocupação de cargos políticos
em beneficio particular. Para tanto, foi acordado que qualquer membro do
colegiado que desejar alçar uma candidatura política, devera se desligar da
diretoria. O Conselho não é uma corporação pastoral com excesso de
personalismo, mais sim, fruto de um processo histórico e da consulta dos
lideres evangélicos de Tamoios visando a unidade do Corpo de Cristo, explica o
Pr.Sergio Cunha, editor do primeiro jornal evangélico da região.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Os Servos do Facebook
Essa semana levei meus filhos para um congresso de
adolescente em busca de santidade através do Estudo da Palavra. Mais
interessante foi observar que mesmo o templo estando completamente lotado de
rostos cheios de espinhas, poucos traziam suas bíblias. A maioria portavam
celular com suas mensagens subliminares e comparativas. Além do I (Pad – Phone –
Touch), com seus aplicativos Facebook, Instagram, e sites onde tudo gira em
torno de fotos. O pregador e o cantor, verdadeiras celebridades gospel levaram os Teens ao delírio de Fã clube. A
geração atual passa o dia se fotografando, mesmo nos cultos alheios a
necessidade de se buscar a Deus, enquanto é tempo. Analisam as mensagens no
Face, colocam filtros e recebem tantas informações nas redes sociais se
tornando escravos da net, ao invés de procurarem serem servos, porem livres
para adorar. Ao invés dessa juventude fazer a real diferença buscando um
sincero avivamento espiritual se medindo através da Palavra e oração incessante,
estão usando um aplicativo para Iphone que mede a simetria facial com notas
para seus rostos de 1 a 10 com seu “ nível de beleza”. Outras gerações foram
escravas do Espelho, está parece ser escrava do culto do entretenimento , com
seus ídolos gospel no altar que foi transformado em palco. Onde alguns pastores
se transformaram em animadores de auditório e a Bíblia foi trocada pelo
Facebook. Baruch Há Shem! Pr.Sergio Cunha
domingo, 25 de novembro de 2012
TRANSTORNO BIPOLAR MINISTERIAL
Tomei a iniciativa de escrever este texto para ajudar alguns companheiros, e alertar outros, pois estão comprometendo o próprio ministério, trabalhando contra si mesmos.
Intitulei este post de Transtorno Bipolar Ministerial, e é pertinente lembrar que:
O transtorno bipolar do humor, também conhecido como distúrbio bipolar, é uma doença caracterizada por episódios repetidos, ou alternados, de mania e depressão. Uma pessoa com transtorno bipolar está sujeita a episódios de extrema alegria, euforia e humor excessivamente elevado (mania), e também a episódios de humor muito baixo e desespero (depressão). Entre os episódios, é comum que passe por períodos de normalidade.
Deve-se ter em conta que este distúrbio não consiste apenas de meros "altos e baixos". Altos e baixos são experimentados por praticamente qualquer pessoa, e não constituem um distúrbio. As mudanças de humor do distúrbio bipolar são mais extremas e mais duradouras que aquelas experimentadas pelas demais pessoas. (Wikipédia)
Fico impressionado com a variação de humor de alguns pastores, pregadores e ensinadores, que no púlpito exalam alegria, simpatia, cordialidade, gentileza e coisas semelhantes a estas, mas fora dele tornam-se pessoas de difícil convivência, praticamente irreconhecíveis.
Quando estão com o humor alto (no púlpito), abraçam, brincam e falam até em línguas. Quando estão com o humor baixo (fora do púlpito), se distanciam e falam arrogantemente.
Com o nível baixo de humor reclamam de tudo e de todos. Reclamam do carro que vai buscá-lo no aeroporto, reclamam do motorista, reclamam do hotel, reclamam das refeições, reclamam do som, reclamam do sonoplasta, reclamam da temperatura ambiente no templo, reclamam até da oferta que recebem.
Infelizmente, muitos estão fechando portas por onde passam para si próprios. São convidados uma vez, para nunca mais voltar. Possuem até uma boa palavra no púlpito, mas foram dele estragam o que construíram.
Acontece também o contrário, ou seja, fora do púlpito o obreiro é gente boa, e no púlpito se transforma em alguém que só sabe dar pancadas com a palavra. Nunca tem uma mensagem que promova alívio, conforto, consolação e edificação. Entende que o bom ensino e doutrina são aqueles ministrados apenas com o chicote na mão.
Vale ressaltar que a bipolaridade ministerial não afeta apenas obreiros itinerantes. Há pastores locais que no púlpito e fora dele espantam e afugentam as ovelhas. Fazem com que as ovelhas desejem distância deles, pois as intimidam, maltratam e machucam.
Aqueles que têm consciência de sua própria condição de bipolar, mas não conseguem superá-la, vivendo em constante luta interior, devem buscar ajuda espiritual, psicológica e terapêutica.
Fica aqui o alerta para todos nós, e que possamos com isso analisar como anda nosso humor no púlpito e fora dele. Isso pode salvar nossa carreira ministerial. Pr. Altair Germano.
sábado, 24 de novembro de 2012
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Pastores sem medo da verdade
Enock Alberto
Silva, designado para pastorear a Assembleia de Deus em Cabo Frio, na Região
dos Lagos pelo saudoso pastor Paulo Leivas Macalão, fundador do Ministério de
Madureira, talvez não entre para a galeria dos grandes lideres da Igreja Evangélica Brasileira no Século XX. Durante toda a sua vida ministerial, ele nunca se
esqueceu de sua origem de simples barbeiro que trocou a navalha pela lámina
afiada da Bíblia, sempre vendendo a imagem de pastor “normal”, mais semelhante
as poucas ovelhas que Jesus lhe entregara para pastorear. Durante cerca de 40
anos sobre sua liderança foram construídos 105 templos em toda região para
abrigar 17 mil ovelhas. Enock sempre demonstrou ter um atributo que honrou sua
biografia eclesiástica: Humildade, sem medo da sua verdade. Em sua vida se
cumpriu Provérbios 22.4 : “ O Galardão da humildade e do temor do Senhor são riquezas,
honra e vida”. Enock nunca foi um pregador eloquente, tão pouco um teólogo formado
em um Seminário renomado com vários livros publicados. Nunca chegou a ter um
programa de televisão, porem buscava a Deus em oração em favor de seus filhos
necessitados. Para Enock Alberto, a oração era vital para o crescimento da Igreja, não somente porque Deus a
ordenou, mais também porque Ele estabeleceu que através dela seu povo deve
crescer em fé e dependência afim de que somente Ele receba a gloria. Os
verdadeiros pastores servos de Deus dependem da oração e não se envergonham de
admiti-lo, mais os pastores celebridades falam de oração na mídia eletrônica somente
para impressionar os seus seguidores. Seguindo o exemplo de Moises e como
intercessor eficiente, Enock Alberto enfrentava os fatos com honestidade e não era
indulgente com o pecado. Moises repreendeu a Arão e ao povo, e os humilhou
perante o Senhor. Enock Alberto quando alguns dos pastores auxiliares cometiam alguns
deslizes os afastava imediatamente da congregação. Porem, logo em seguida orava
a Deus pedindo perdão. O pastor intercessor conhece a gravidade do pecado e
esta pronto a pagar o preço de ajudar os outros e glorificar a Deus. Pastor Enock como um legitimo alagoano,
nascido na fé em uma Igreja Batista, não era dado a muitos sorrisos e
formalidades, e tão pouco fazia concessões a quem quer que fosse. Como o profeta Jeremias,
ele era um muro de bronze e uma coluna de Ferro, ele não permitia que os
ataques dos homens o pertubassem nem que seus aplausos e rasgação de seda o influenciasse
. Enock Alberto era respeitado, porem sem popularidade. Não era uma celebridade
religiosa desfrutando de ternos italianos, sapato cromo alemão ou divertindo-se
em jantares com os prefeitos da Região dos Lagos. Uma das fraquezas da Igreja
nos últimos anos tem sido a abundância de celebridades a ausência de servos.
Enock Alberto não fazia concessões, não era uma celebridade, nem procurava
agradar a multidão, porem Deus se agradou dele. Ele era muito pessoal, não procurava
a cobertura da imprensa nem o resultado do Ibope, sua única preocupação era: “Convém
que Ele ( Cristo) cresça, e que eu diminua”. João 3.30. Esse foi o legado do
barbeiro franzino, que se tornou o verdadeiro Apóstolo da Fé pentecostal na
Região dos Lagos no século XX. Baruch Há Shem! Pr.Sergio Cunha
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Desobstrução do pecado
Alguns anos atrás,
a ponte que liga Barra de São João, no Segundo Distrito de Casimiro de Abreu a
Tamoios, Segundo Distrito de Cabo Frio, ficou obstruída causada por grandes rachaduras em sua
estrutura, que nenhum automóvel conseguia atravessa-la. Os governos municipais
tiveram que disponibilizar embarcações para a população atravessar o Rio São João. Muita ansiedade foi causada
devido a esse incidente, pois muitos dependiam trabalhar ou estudar na cidade
vizinha. Não havia barcos suficiente para transportar toda a população, criando
verdadeiros transtornos ao povo tamoiense e barrense, até que foi restabelecido
o concerto da ponte. Analisando aquela situação embaraçosa, o qual vivenciei
durante meses, podemos perceber que muitas vezes “ pequenos pecados” em nossas
vidas, se transformam em obstáculos para o nosso progresso espiritual.
Portanto, não permita que algum pecado bloqueie o canal da benção de Deus sobre
sua vida. Deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia.
Hebreus 12.1. Baruch Há Shem! Sergio Cunha.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Negritude e fé cristã
Neste dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. Trata-se de uma celebração que rememora a morte de Zumbi dos Palmares, líder de um quilombo que lutou estoicamente contra as tropas pernambucanas até ser esmagado com violência no final do século 18. Em todo o país, seminários e mesas redondas são realizadas em escolas, com o propósito de educar para a tolerância e a igualdade. Não raramente, os alunos são apresentados a elementos da cultura afro-brasileira, como a culinária, expressões idiomáticas, e a religião sempre e exclusivamente de raiz africana, como o Candomblé e a Umbanda.
É aqui que temos uma situação que, além de criar um paradoxo do ponto de vista do Estado Democrático, comete também uma injustiça com muitos dos próprios negros. O Estatuto da Igualdade Racial, de autoria do senador gaúcho Paulo Paim, conferiu um status diferenciado às chamadas religiões de matriz africana, o que lhes franqueia um acesso privilegiado a espaços públicos, como escolas, universidades e órgãos vinculados ao tema da igualdade racial. Na prática, com o propósito de combater o preconceito, o Estatuto da Igualdade Racial cria um novo padrão de preconceito religioso, transformando o Candomblé e a Umbanda em religiões com proteção especial, o que fere o caráter laico do Estado Brasileiro – que ultimamente só é evocada para retirar crucifixos de tribunais e o nome de Deus das cédulas de Real.
Evidentemente que a religião é um traço indissociável da cultura, e que a religião afro-brasileira é um dos elementos constitutivos da cultura trazida pelos africanos. No entanto, evocá-la como única religiosidade “negra” é desconhecer a pluralidade e criatividade religiosa da negritude brasileira, que tem contribuições em todas as confissões, inclusive na fé cristã. Nunca é demais lembrar que o próprio Zumbi dos Palmares, teve acesso à educação formal através de um padre católico e era um devoto praticante, e na história do catolicismo as irmandades religiosas de negros se contam às centenas. No protestantismo, a fé pentecostal é, como diz o título de uma obra do pastor e ativista Marcos Davi de Oliveira, a religião mais “negra” do Brasil, com mais de 8 milhões de negros que se declaram pentecostais. O vocabulário, a expressão social, praticamente tudo no pentecostalismo está carregado com tonalidades negras, ainda que boa parte do próprio segmento desconheça isso. Nem poderia ser diferente, para uma vertente do cristianismo que deve seu surgimento a um afro-americano chamado Willian Seymour, filho de ex-escravos que se tornou o pai do Avivamento da Rua Azusa, de onde emanaram igrejas como Assembleia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular, Congregação Cristã e outras.
A Bíblia Sagrada nos apresenta o profeta Amós revelando um Deus amoroso com todos os povos: “Não sois vós para mim, filhos de Israel, como os filhos dos etíopes?” (Amós 9:7), e a negritude de um dos profetas, Sofonias, “filho de Kush (Sf 1;1)”, o antigo império etíope de onde descendeu a Rainha de Sabá, de cuja união com o Rei Salomão se originaram os judeus falashas, negros etíopes com sangue e fé judaica. Era falasha o oficial que Felipe evangelizou, fazendo com que o Evangelho ultrapassasse as barreiras da Terra Santa. Portanto, a fé cristã deve muito do que hoje é aos negros e sua cultura, que fazem parte de sua história. Isso sem falar em irmãos de fé como Rosa Parks, Martin Luther King, Desmond Tutu e uma miríade de pastores negros, sem fama ou renome, que evangelizam em favelas, presídios e cidades de todo o país.
Não se desconhece, entretanto, algumas abordagens infelizes da fé cristã em relação ao negro, como a lamentável teologia da “Maldição de Cam”, evocada pelo inquisidor católico Juan Batista de las Casas em 1826 e que em 2011 voltou a ser destaque na declaração infeliz de um conhecido parlamentar assembleiano. Na época, encaminhei um documento pessoal à Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Manuela D’Ávila, destacando que Cristo nos resgatou de toda maldição (Gl 3.13) e da lei do pecado da morte (Rm 8.2), revogando em si mesmo todas as imprecações do Antigo Testamento
Sendo um quase-branco trisneto de imigrantes libaneses, talvez até alguém pudesse questionar minha legitimidade para este assunto. No entanto, creio firmemente que a igualdade racial é um debate que deve ser, sim, enfrentado no Brasil. Mas de uma forma que não reduza o negro à um certo racialismo mainstream altamente influente nos dias atuais. Mas que, pelo contrário, o negro possa se expressar dentro de sua pluralidade, sem uma tradição religiosa se impondo sobre as demais. Cláudio Moreira
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Abandonando o Barco
Essa semana conversei com três pessoas que estavam dispostas a saírem
de suas igrejas, descontentes com seus pastores por motivos diferentes. O primeiro,
um jovem, obreiro, filho de um pastor aposentado que dizia se justificando : “ Eu não tenho
duvida a respeito da minha fé em Jesus, o Sumo Pastor, mais há pastores na
igreja que não deveriam estar apascentando o Rebanho de Cristo, pois são hipócritas
e mentirosos, por isso, eu não vou mais a igreja”. O Segundo, um pastor de
minha idade, com passagem por diversas congregações humildes em bairros
populares, protestava contra a ganância de seu bispo, que assumira o distrito eclesiástico
transformando-o em uma agencia bancaria; “ Não posso continuar debaixo da
liderança de um homem que gosta mais de dinheiro do que de pessoas. Vou sair e
fundar a minha própria igreja”. Já o
terceiro, um novo convertido estava muito triste, pois descobrira varias falhas
de caráter no homem que pensava ser um santo, e exemplo de vida. Depois de muito
pensar em uma resposta para aqueles que estavam dispostos a abandonarem o barco
da fé, lembrei-me das palavras de Moody : “ Se vocês querem sair de perto da companhia
deles, deveram sair fora desse mundo o mais rápido possível, porque todos
pecaram e destituídos estão da Gloria de Deus, sendo justificados gratuitamente
pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” ( Romanos 3.23-24).
Sempre haverá pastores mentirosos, hipócritas e mercenários na igreja. Sim.
Mais nunca haverá mentira, hipocrisia e ganância em Cristo, Ele é completamente
verdadeiro e honesto, somente Cristo é a razão da nossa Fé. Baruch Há Shem!
Sergio Cunha.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Os discípulos de Assurim nas Igrejas
A Primeira vez que escrevi sobre Assurim
, o abafador, foi a cerca de 20 anos em Casimiro de Abreu, para o jornal
Tribuna Local, durante a disputa eleitoral entre os candidatos Célio Sarzedas e
Nassim Pereira Gonçalves. Naquela época, não existia internet, portanto tive
que garimpar a origem de Assurim na Historia do Brasil, no começo do Século XVIII,
durante a Guerra dos Emboabas na região
de Minas Gerais. A romancista Ana
Miranda no Livro: “ O Retrato do rei”, fala do nobre português Don Afonso de
Lan Castre , um dos senhores políticos do Império que após ter sido atendido pelo seu
medico foi entregue nas mãos de Assurim, o abafador, para interromper seu
sofrimento com uma espécie de eutanásia . Mais o que isso tem haver com a
realidade em algumas igreja evangélicas do Brasil ? Vamos chegar ao titulo do
artigo. Já a Bíblia apresenta Assurim no livro de Gêneses como filho de Dedá,
neto de Abraão, cujo significado em hebraico é “ poderoso”, estamos vivendo
dias na igreja evangélica brasileira, em que existem muitos Assurim, abafando o
pecado da liderança ou de ovelhas com o dizimo gordo. Nada do que acontece hoje
envolvendo a liderança é novidade, pois desde os dias de Jeremias, a historia
se repete, “ Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra; os profetas
profetizam falsamente e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que
deseja o meu povo” ( Jeremias 5.30-31).
A nação foi destruída “ por causa dos pecados dos seus profetas, das
maldades, dos seus profetas” ( Lamentações 4.13). Certa vez ouvi um pastor midiático declarar
diante de uma convenção anual, que devemos usar de misericórdia para com os
pastores que caíram em adultério e permanecem no pecado, foi quando lembrei-me
de Pasur ( Jeremias 20;1-6), o sacerdote que dirigiu o templo e fez tudo o que
podia para silenciar Jeremias, um dia Pasur feriu Jeremias e o colocou no
tronco, outro líder foi Hananias, que disse ao povo serem mentiras todos os
sermões de Jeremias. O Pastor Canadense Eugenio Peterson tem declarado que : “
A Tarefa do profeta não é empregar paleativos, mais pôr as coisas em ordem”.
Existe um paralelo entre os sacerdotes Assurim, que abafa o pecado no altar com
palavras de misericórdia, e o sacerdote Pasur que significa “ rodeado por
prosperidade”, geralmente são sacerdotes gananciosos, que correm o perigo de
infringir todos os mandamentos; “ Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos
os males” ( I Timóteo 6.10). Tanto Assurim como Pasur usam a religião para
obtenção de lucros pessoais, contam vantagens de sua prosperidade com seus
carrões importados, suas coberturas na beira da Praia e da riqueza do templo e
da sua nação denominacional. Aqueles
homens pensavam estar cheios do
Espírito de Deus, mais foram
enganados pelos espíritos deste mundo.
Em sua duplicidade, transformaram a luz em trevas, e a vida em morte.
Que Deus nos livre dos sacerdotes discípulos de Assurim e Pasur , e levante
novos profetas discípulos de Jeremias e Natan que não abafam o pecado do Rei
nem do povo. Baruch Há Shem! Pr.Sergio Cunha.
domingo, 18 de novembro de 2012
QUANDO SOMOS CHAMADOS PARA A OBRA DE DEUS (MARCOS 1:16-20)
V. 16 Andando junto ao mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão. Eles estavam lançando as redes ao mar, pois eram pescadores.
Toda salvação é antecedida pelo preconhecimento e predeterminação de Deus. Cristo vê Simão e André e os chama. "Deus não está a procura do objeto do seu amor. Ele o cria", como alguém já disse. Primeiro somos vistos. Vistos na nossa aflição, miséria, abandono, culpa. Esse é o olhar da misericórdia. Deus olha e se compadece. Sabe que sem a sua graça o homem jamais inclinará sem coração para o seu Criador. É um olhar eletivo. Como o da águia no seu vôo fixando os olhos na presa. Só que, aqui, é a fixação do olhar no objeto da sua compaixão e graça. Jesus olha para Simão e André para salvá-los. Assim aconteceu contigo e comigo. Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro. Só vemos por termos sido vistos.
V. 17 Disse-lhes Jesus: Vinde a mim, e eu vos tornarei pescadores de homens.
Quando um homem é objeto do olhar eletivo de Deus, ouve o chamado irresistível do que ama. Cristo os chamava para a salvação e a missão. Deus chama o homem para amá-lo e servi-lo. Primeiro eles deveriam andar literalmente com Cristo. Esse "vinde a mim" significava andar com Cristo pelo solo da Palestina. Estar com Ele. Ouvir seus ensinamentos. Aprender a ver a vida com os olhos de Deus e a amar. Entrar na aventura de seguir um obstinado. Seguir a Cristo é ir após alguém fascinado por cumprir a vontade do Pai. Isso tem sérias implicações para a vida de todo discípulo. Envolve sofrimento, perseguição e morte.
Na presença de Cristo eles seriam tornados em algo. Passariam por profunda mudança. Desenvolveriam capacidades nunca antes imaginadas e exploradas. Tornar-se-iam aptos a resgatar vidas humanas da sua condição de escravidão ao pecado, ao medo e à morte. Pescadores de homens. Através de suas vidas homens seriam fisgados ao serem atraídos pelo evangelho da graça infinita.
V. 18 Então, imediatamente, eles largaram as redes e o seguiam.
A mensagem chegou aos seus corações com senso de urgência. Não houve procrastinação. Entenderam que encontravam-se diante de um incalculável privilégio. Ser chamado pelo Filho de Deus para o cumprimento de missão gloriosa. Quantos erram nessas horas, decidindo não decidir, desperdiçando o melhor da vida, que poderia ser consagrado para Deus e sua obra.
Eles não sabiam plenamente o que estavam fazendo. Quantas lutas os aguardariam. Mas, quanta glória. Não podiam imaginar o que seus olhos veriam e a marca que deixariam na vida. Através do cumprimento do seu chamado, edificariam o reino de Cristo e mudariam o curso da história da humanidade, espalhando o evangelho, organizando igrejas, por cuja influência dos seus membros os valores da fé cristã forjariam culturas inteiras e delineariam a vida em sociedade.
Eles não largaram um ofício profano para se dedicarem a um trabalho santo. Era possível pescar para a glória de Deus. Podemos supor que muitos pescadores foram alcançados pelo mesmo evangelho, mas em vez de receberem o chamado para o ministério de tempo integral, receberam a vocação de pescarem para a glória de Deus. Glorificamos a Deus não quando nos tornamos missionários de tempo integral, mas quando somos fiéis à nossa vocação.
A metáfora é perfeita. Evangelizar é pescar. Requer paciência, habilidade, conhecimento das marés culturais, entre tantas outras virtudes mais. Lembro-me do reverendo Antonio Elias falar sobre pregadores que pregam de modo que poucas pessoas podem acompanhar seu raciocínio. Ele dizia: "Eles colocam muito chumbo no anzol, e a ísca vai para o fundo. Mas, há peixes que vivem na superfície d'água. Estes só serão fisgados por anzol quase boiando, com pouco chumbo".
Vs, 19-20 Passando um pouco mais adiante, Jesus viu os irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu, que estavam no barco consertando as redes, e logo os chamou. E eles passaram a segui-lo, deixando seu pai Zebedeu com os empregados no barco".
Mais dois irmãos são objetos do mesmo amor. Era Cristo montando sua equipe. Homens que alterariam o curso da história. Finalmente, a partir dessa gente simples, nações do mundo inteiro teriam a oportunidade de conhecer um Deus diferente, doce, amoroso, perdoador. Cristo não vai para Atenas ou Roma. Tudo começa no obscuro mar da Galiléia. Esse tem sido o método de Deus.
Simão e André foram chamados enquanto lançavam as redes. Tiago e João, enquanto consertavam. Em não poucas ocasiões a igreja se vê na necessidade de fazer ambas as coisas. Anunciar o evangelho para os de fora, anunciar o evangelho para os de dentro. Evangelizar e reformar. Sem reformar, os peixes passam pelos buracos da rede para nunca mais voltar. Que desgraça uma geração inteira se perder por causa dos furos deixados pela igreja.
Mais uma vez percebemos o mesmo senso de urgência. Aceitam o chamado imediatamente. A vida passa rapidamente, e nós voamos, foi o que disse Moisés no salmo 90. O tempo é bem precioso, escasso e incerto. Ninguém sabe o quanto ainda tem disponível. Essa vida que passa tão rápido, não é um ensaio. O tempo que gastamos ensaiando para entrar na vida real é a vida real. Não podemos desperdiçar tamanho privilégio: ser chamado para servir ao Criador. Nunca mais a humanidade terá a oportunidade de servir a Deus nas condições atuais de vida. Glorificá-lo nas circunstâncias infernais deste mundo caído.
Mais uma advertência precisa ser feita. Da mesma forma que o evangelho não mesnopreza nenhuma atividade profissional legítima, não banaliza as relações familiares. Não há vestígio nas Escrituras de estímulo à negligência do cuidado de pai e mãe. Eles tinham que partir, mas não deixar de amar. Ao mesmo tempo, contudo, não podemos permitir que o nosso amor por aqueles que nos são tão caros, nos impeça de servir a Cristo. Se esse tiver que ser o seu caso, saiba que Deus cuidará de tudo o que lhe diz respeito enquanto você cuida de tudo o que diz respeito a Deus.
O que estamos esperando? Deixemos para trás tudo, servindo com alegria ao reino de Cristo, aceitando o convite para entrar nesta gloriosa aventura.
Antônio Carlos Costa é pastor da Igreja Presbiteriana da Barra e presidente do Rio de Paz.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Relevância, Pertinência e Coerência
A relevância de uma pessoa ou instituição é o resultado da validade ou pertinência dos seus valores em sua aplicação numa existência pontuada na coerência com que os pratica. Em outras palavras, visto da perspectiva do contraditório, se aquilo que alguém apregoa em termos de valores acaba sendo desmentido por seu modo de vida, então sua mensagem se torna impertinente, e sua vida, irrelevante.
E por que isso é importante? Porque vivemos numa época em que todas as instituições são questionadas e desvalorizadas. Isso não é um fenômeno novo, vem do Iluminismo, quando as instituições — principalmente a igreja e sua liderança — tiveram de deixar o pedestal de “intocáveis” e passaram a ser alvo de duras críticas. Nesse ponto, só uma coisa sempre importou para uma instituição manter-se viva e atuante: demonstrar sua coerência, pertinência e relevância históricas.
Falemos da igreja. Ora, a relevância da igreja ocorre quando ela se sobressai, se ressalta, quando é proeminente e de grande valor; quando o que vive e a mensagem que prega são convenientes aos interesses da própria vida como Deus a instituiu; quando importa à sociedade e se torna indispensável àqueles a quem serve.
A igreja é pertinente quando a mensagem que prega é importante e válida, não somente aos de fora, mas também aos seus membros, principalmente os líderes. Mas ela só tem coerência quando procede de modo próprio e suas ações são consequentes, ou seja, quando sua vida demonstra a coesão e a reciprocidade dos valores que apregoa.
É esse conjunto de valores que permite à igreja se habilitar como serva da sociedade, mesmo estando espiritualmente acima desta. Ao mesmo tempo, isso permite à sociedade funcionar como “juíza” e “cobradora” de coerência entre aquilo que é pregado e vivido pela igreja.
A igreja é o corpo místico de Cristo, mas é composta de gente de carne e osso, que ri e chora, que sua e geme. Desse modo, ela é identificada nas atitudes e ações de todos os que afirmam seguir a Jesus. Se o testemunho de um crente — principalmente do pastor — corresponde ao que Jesus ensinou, mesmo que nada seja dito ou louvado, ainda assim haverá ali um “luzeiro no firmamento” a indicar o caminho da excelente verdade divina.
Em contrapartida, se o testemunho desdiz a palavra pregada, não é sem razão que o julgamento da sociedade resulte em descrédito. É perfeitamente compreensível, portanto, que a sociedade exija do pastor o que não exige de nenhum outro profissional. Qualquer outro profissional pode obter sucesso público sem que se leve em conta a sua vida privada ou seu caráter. Mas com o pastor é completamente diferente.
Um ponto de suma importância é que o pastor tem de tratar da questão do pecado. Isso incomoda, pois mexe com interesses que subjazem na existência privada de muitos. O cristianismo é único nesse ponto. Não fora isso, a sociedade já estaria irremediavelmente arrasada e sem seguras referências morais e espirituais.
Outras religiões passam ao largo dessa delicada questão. Mas, ao dar “nomes aos bois”, chamando de pecado o que, mesmo socialmente aceitável, é condenado pela Bíblia, e depois disciplinando e buscando curar essas feridas morais e espirituais, o pastor acaba ficando exposto às mesmas cobranças que apregoa. Pois ele também é gente, mortal e falível, comete erros e peca. E quando isso ocorre, perde a graça e se torna proscrito. São essas mesmas razões que desafiam o ministério pastoral a buscar resgatar sua credibilidade.
Causa-me pesar o fato de o ministério pastoral estar sofrendo, hoje, de tão grande descrédito na sociedade. Dói-me saber que alguns “pastores” — que na verdade não o são, por causa de suas práticas alheias ao verdadeiro evangelho, pelo seu comportamento mundanizado e por pregarem “um outro evangelho” — estão trazendo afrontas ao bom nome de Cristo. Isso, contudo, não inviabilizará o santo ministério.
Creio que Deus vai nos dar as ferramentas necessárias para reformar o que se deformou, para escoimar o que criou crostas, para polir e aperfeiçoar o que se tornou cheio de defeitos, de modo que possamos novamente demonstrar a mesma e necessária essência que resulte numa diferença visível entre os que vivem “de modo digno do evangelho de Cristo” e os que são meros aproveitadores (Fp 1.27).
O cerne do evangelho não é o discurso, mas o exemplo, o que é vivido. Alguém disse que pior inimigo do cristianismo não é o Diabo, são os próprios cristãos “profissionais”, cujo testemunho não exala o bom cheiro de Cristo, só o odor azedo de um “outro evangelho”.
Desse modo, é importante que a igreja e os pastores, assim como todos os crentes, mostrem coerência entre o que pregam e o que vivem, pois só assim a sua mensagem terá os frutos de ser pertinente aos anseios da sociedade e totalmente relevante para abençoá-la. Samuel Camara
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Deus não está mais aqui...
Do jeito que vão as coisas, em breve veremos placas honestas nas portas das igrejas: “Deus partiu sem previsão para voltar”. E começo a pensar em Nietsche, quando escreveu “Zaratustra”. O cenário da igreja é lúgubre, ambiente de corvos em árvores secas e vermes emergindo da terra, seguindo o costume da Europa Nórdica de construir cemitérios junto às igrejas. Como se estas tivessem as respostas finais sobre angústia da vida e da morte. As roupas litúrgicas negras vestem ministros seguidores da reta doutrina enquanto enterram fieis com orações solenes, liturgias e réquiens infindáveis para poderosos aristocratas. Crítica ácida do filósofo aos representantes das igrejas cristãs, e à religião dominante.
Nietsche pronuncia: “Deus (na igreja) está morto!”, (Gott ist tot). Deus permanece morto. E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós, os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu de mais sagrado e poderoso até agora sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? Refiro-me ao enterro de Deus nos cemitérios das igrejas cristãs que perderam a força transformadora do mundo e se acomodaram em suas doutrinas petrificadas. Nem Lutero escapou de sua crítica.
O protestantismo histórico vem aceitando passivamente a insignificância do papel estatístico e funcional que lhe cabe para mostrar o que se compreende como “Igreja de Deus”. Os valores que circulam sobre o Deus ético da fé bíblica são fluidos e dispersivos.
A tradição mais antiga da igreja cristã remonta a Abraão. A assembleia do povo ainda nômade já buscava o lugar de Deus no mundo (ba-makon). O acesso a Deus começa com um reconhecimento, por mais assombroso e incompreensível que pareça, de que Deus não está nem no passado, nem no presente e nem no futuro. A tenda do encontro, no entanto, é o mundo (Ex 33,21): “Eis que há um lugar em mim” (hine makon iti). Isto é, a tenda é o lugar genérico. “Deus está no mundo, embora não seja do mundo” (Nilton Bonder). Voltemos ao Gênesis (28,10). Jacó foge de seu irmão. Deslocando-se de Bersheba para Haran, cansado, no fim da tarde, ao por do sol, deita-se para repousar e é capturado pela importância do lugar (va-ifga ba-makon). Esse é o lugar (ba makon há-há).
Pois bem, o sonho da igreja de Deus começa aqui. Jacó sonha e vê uma escada onde sobem e descem anjos. Ele acorda empolgado: “Certamente há Deus neste lugar e eu não o penetrava” (André Chouraqui, diz que o uso do verbo yaddah também tem o sentido de “saber”, além do comum “penetrar”). Um ambiente extraordinário, sabores e sensações fantásticas, memórias da natureza que não podem ser sentidas pela percepção bruta, emocional ou carismática.
Quando se percebe que para produzir algo relevante para a coletividade precisamos obter autorização de quem não produz nada, que o dinheiro da igreja deve fluir em diaconias e isso não acontece, que atos de compaixão e misericórdia nos tornam apóstatas de uma fé abstrata ou extremamente materialista, que muitos ficam ricos pelo suborno e influência das consciências de fieis, que se abandona a evangelização e discipulado bíblico em favor de espetáculos divertidos para o povo hipnotizado pela ganância, que as leis do país protegem igrejas materialistas já protegidas pelo corporativismo religioso (quando é que teremos uma CPI para evangélicos corruptos?), que o roubo no altar é aprovado e recompensado com o voto político e que a honestidade se converte em sacrifício da ética, então podemos afirmar, sem temor de errar, que esta igreja está condenada a ser abandonada permanente por Deus. Sem data para voltar.
Pensando como G. Brakemaier, “quando os interesses eclesiásticos começam a misturar-se com a mesquinhez e o egoísmo narcisista da coletividade, para legitimar privilégios religiosos a um determinado grupo, quando se transmuda a igreja em curral midiático, temos, de novo, o reino das trevas impondo-se ao Reino de Deus”. Exatamente como Lutero e os reformadores protestantes denunciaram. Isso implica no que falta às comunidades cristãs, que é o aprendizado da fé no evangelho pregado por Jesus. Amor, tradução de compaixão, de ternura para com o sofredor; de misericórdia, na identificação e vivência com o oprimido e suas lutas, de solidariedade na busca e exigência de justiça para todos. E Jesus diz para essa igreja autêntica: “Estou convosco!”.
Ultimamente, a igreja gananciosa, soft, divertida, carismática, pretende ocupar o lugar da igreja que se retirou de onde deveria estar (cf. o sonho de Jacó, acima). É símbolo da desordem na linguagem e também do desinteresse quanto à Bíblia e seus conteúdos (Comunhão: Preferências evangélicas, set.2012), símbolo do desespero da própria igreja dos nossos dias, que quer visibilidade imagética enquanto se entrega a projetos egoístas e individualistas, símbolo de privilegiados que desejam subir sozinhos a “escada de Jacó” deixando para trás o povo que procura Deus para curar suas feridas. Enquanto se afastam da vida vivida, se veem enredados em escândalos infindáveis de corrupção e não enxergam nada de trágico em tudo que expressa a igreja dos nossos dias. Mas o pior ainda está por vir... Derval Dasilio
POLÍTICA É ARMA DE SATANÁS
Editora diz que política é estratégia para dividir a Igreja
Após o final da campanha eleitoral, Jennifer LeClaire, editora de notícias da Charisma, maior revista evangélica pentecostal dos EUA, levantou a questão de como a política dividiu a igreja. Enquanto uma parcela dos evangélicos fez campanha e votou em Obama, alegando que ele era cristão e seu opositor era mórmon; outra parte das igrejas apoiou Romney, que de fato é mórmon, e acusava Obama de ser muçulmano.
Alguns dos fatores mais polêmicos da campanha americana também geraram debates acalorados aqui no Brasil e em outros países que tiveram eleições recentemente: aborto e casamento gay.
LeClaire usa um argumento facilmente compreensível: “até que ponto as questões políticas são uma estratégia de Satanás para dividir a igreja?”. Ela lembra que membros se indispõem com pastores quando estes pregam contra ‘seus’ candidatos. Outros cobram os pastores por se omitirem e não falar sobre questões polícias, pois sabem o quando essas decisões podem afetar a história de uma nação.
Para muitos líderes, e LeClaire ressalta isso, “dividir a igreja é claramente um dos objetivos do inimigo”. Embora muitos possam argumentar que a igreja já está dividida, vide o crescente número de denominações e ministérios que são iniciados a cada ano, trata-se de algo mais profundo.
O que acaba sendo colocado em cheque é a capacidade de o corpo de Cristo ouvir a voz do Senhor. E mais, a linha entre o “certo” e o “errado” se afina e confunde os cristãos.
Quando um pastor ou líder afirma que votar nesse ou naquele candidato é vontade Deus e, ao mesmo tempo, outro pastor ou líder diz que Deus deseja que outro candidato vença, tem-se um grande dilema ético. Ou o Senhor tem duas palavras ou um dos líderes está usando o nome de Deus em vão. Há quem diga que os dois estão e que Deus não apóia ninguém na política, nem no futebol, que fique claro!
Após a derrota a amargura toma conta de alguns e as críticas são ainda mais incisivas, associando ao que apoiaram o vencedor com servos de Satanás e inimigos de Deus.
O fato é que existe uma lista de versículos bíblicos que poderiam ser citados, começando por
Marcos 3:24: 25 “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir”. O alerta feito por Jesus continua válido. Tudo aquilo que traz divisão para os irmãos que vivem na mesma casa, deveria ser evitado.
A editora da Charisma desabafa: “Foi durante as campanhas eleitorais que vi os cristãos ofenderem uns aos outros usando os piores adjetivos possíveis… Eu estou tão triste. Este não é o espírito de Cristo. O inimigo encontrou uma porta aberta na igreja e, com sucesso, plantou sementes da discórdia que estão gerando uma grande safra de ódio. Ele enviou mísseis de calúnias que alguns não conseguirão perdoar ou esquecer tão cedo. Eu diria que é fogo amigo, mas não é algo amigável… cristãos não devem brigar com outros cristãos sobre diferenças políticas nem qualquer outra coisa assim”.
Ela também exorta as igrejas para que se esforcem para manter a unidade do Espírito, no vínculo da paz (Ef 4:3) e que não deveria haver divisões no povo de Deus, pois todos deveriam ter a mesma disposição mental e o mesmo parecer (1 Co 1:10).
Agora que o período eleitoral acabou, nos EUA e no Brasil, talvez seja um bom momento para que as igrejas façam uma avaliação. O argumento de LeClarie surge em meio a muitas acusações pós-campanha. Alguns pastores renomados e com ministérios influentes apoiaram candidatos que não venceram e isso lhes gerou muitas críticas e, claro, tentativas de desabonar seus ministérios por causa disso. Dois bons exemplos disso seriam Silas Malafaia e Billy Graham. Embora eles tenham embasado suas decisões em convicções pessoais, só o tempo dirá se e como as urnas os afetarão.
Por fim, é bom lembrar de duas passagens bíblicas que mostram que Deus não deixa de ter o controle, mas muitas vezes apenas respeita as escolhas do povo e deixa que eles arquem com as conseqüências. A primeira é Romanos 13:1 “não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas”. A outra é 1 Samuel 8:18 “Naquele dia, vocês [re]clamarão por causa do rei que vocês mesmos escolheram, e o Senhor não os ouvirá”.
Alguns dos fatores mais polêmicos da campanha americana também geraram debates acalorados aqui no Brasil e em outros países que tiveram eleições recentemente: aborto e casamento gay.
LeClaire usa um argumento facilmente compreensível: “até que ponto as questões políticas são uma estratégia de Satanás para dividir a igreja?”. Ela lembra que membros se indispõem com pastores quando estes pregam contra ‘seus’ candidatos. Outros cobram os pastores por se omitirem e não falar sobre questões polícias, pois sabem o quando essas decisões podem afetar a história de uma nação.
Para muitos líderes, e LeClaire ressalta isso, “dividir a igreja é claramente um dos objetivos do inimigo”. Embora muitos possam argumentar que a igreja já está dividida, vide o crescente número de denominações e ministérios que são iniciados a cada ano, trata-se de algo mais profundo.
O que acaba sendo colocado em cheque é a capacidade de o corpo de Cristo ouvir a voz do Senhor. E mais, a linha entre o “certo” e o “errado” se afina e confunde os cristãos.
Quando um pastor ou líder afirma que votar nesse ou naquele candidato é vontade Deus e, ao mesmo tempo, outro pastor ou líder diz que Deus deseja que outro candidato vença, tem-se um grande dilema ético. Ou o Senhor tem duas palavras ou um dos líderes está usando o nome de Deus em vão. Há quem diga que os dois estão e que Deus não apóia ninguém na política, nem no futebol, que fique claro!
Após a derrota a amargura toma conta de alguns e as críticas são ainda mais incisivas, associando ao que apoiaram o vencedor com servos de Satanás e inimigos de Deus.
O fato é que existe uma lista de versículos bíblicos que poderiam ser citados, começando por
Marcos 3:24: 25 “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir”. O alerta feito por Jesus continua válido. Tudo aquilo que traz divisão para os irmãos que vivem na mesma casa, deveria ser evitado.
A editora da Charisma desabafa: “Foi durante as campanhas eleitorais que vi os cristãos ofenderem uns aos outros usando os piores adjetivos possíveis… Eu estou tão triste. Este não é o espírito de Cristo. O inimigo encontrou uma porta aberta na igreja e, com sucesso, plantou sementes da discórdia que estão gerando uma grande safra de ódio. Ele enviou mísseis de calúnias que alguns não conseguirão perdoar ou esquecer tão cedo. Eu diria que é fogo amigo, mas não é algo amigável… cristãos não devem brigar com outros cristãos sobre diferenças políticas nem qualquer outra coisa assim”.
Ela também exorta as igrejas para que se esforcem para manter a unidade do Espírito, no vínculo da paz (Ef 4:3) e que não deveria haver divisões no povo de Deus, pois todos deveriam ter a mesma disposição mental e o mesmo parecer (1 Co 1:10).
Agora que o período eleitoral acabou, nos EUA e no Brasil, talvez seja um bom momento para que as igrejas façam uma avaliação. O argumento de LeClarie surge em meio a muitas acusações pós-campanha. Alguns pastores renomados e com ministérios influentes apoiaram candidatos que não venceram e isso lhes gerou muitas críticas e, claro, tentativas de desabonar seus ministérios por causa disso. Dois bons exemplos disso seriam Silas Malafaia e Billy Graham. Embora eles tenham embasado suas decisões em convicções pessoais, só o tempo dirá se e como as urnas os afetarão.
Por fim, é bom lembrar de duas passagens bíblicas que mostram que Deus não deixa de ter o controle, mas muitas vezes apenas respeita as escolhas do povo e deixa que eles arquem com as conseqüências. A primeira é Romanos 13:1 “não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas”. A outra é 1 Samuel 8:18 “Naquele dia, vocês [re]clamarão por causa do rei que vocês mesmos escolheram, e o Senhor não os ouvirá”.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Precisamos de um milagre
Não culparia o sistema político pela divisão da igreja, ou melhor, das denominações evangélicas brasileiras.
Se formos sinceros, a culpa é daqueles que se dizem líderes, "pastores" de SEUS PRÓPRIOS REBANHOS, os quais vivem sob acirrada disputa pelas almas.
Ouço frequentemente uma conclamação feita nos mais variados recônditos do universo evangélico: Vamos ganhar o Brasil para Cristo!!! Bem, lamento informar, mas nós nunca vamos ganhar o Brasil para Cristo. E antes que você, espantadíssimo com minha falta de fé, me acuse de derrotismo ou mesmo de estar a serviço do mal, deixe-me explicar.
Como não acredito na doutrina da confissão positiva (o hábito antibíblico de “decretar a vitória”, “profetizar a bênção” e “tomar posse pela fé” que, se você não sabe, foi incorporado ao cristianismo a partir de práticas de religiões pagãs da Nova Era – mas essa é outra conversa) nao vejo dolo em fazer essa afirmação, que é fruto de uma observação bíblica, histórica e contextual. E justifico minha posição, apresentando aqui as razões pelas quais não creio que o Brasil será ganho para Cristo:
1. Aspectos biblicos:
A Bíblia nunca promete que nações inteiras se converteriam ao Senhor em nossos dias. Ela fala: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.14) mas em momento algum promete que isso resultaria em conversões em nível nacional. Anunciar o Evangelho é uma coisa. Ele resultar em conversões é algo bem diferente. Pelo contrário, a Palavra de Deus é clara ao afirmar que a minoria herdaria o Reino dos Céus:
“Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mt 7.13,14).
“Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, serão poucos os salvos?’. Ele lhes disse: ‘Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta’. ‘Ele, porém, responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês’. “Então vocês dirão: ‘Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. “Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’.”. (Lucas 13.23-27).
“Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12.32).
“Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (Mt 22.14).
Ou seja: não há na Bíblia nenhuma promessa ou sugestão de que haverá multidões de salvos entrando em nível nacional pelos portões do Céu. Não: a salvação é para poucos. Repare que na parábola do semeador (Mt 13) a maioria das sementes não frutifica, apenas uma pequena parte delas germina e dá frutos.
Gostaria eu que fosse diferente. E temos sempre que fazer de tudo e empreender todos os nossos esforços para que o máximo de pessoas receba a mensagem da Salvação. Temos que pregar o Evangelho a toda criatura. Mas no que tange à Biblia não posso afirmar o que ela não afirma só porque me faria sentir melhor. A verdade é o que é.
2. Aspectos históricos.
Fala-se muito de avivamento, de pátrias que foram sacudidas pelo poder do Espírito e que se transformaram em nações cristãs de fato, com milhares de conversões e manifestações inefáveis do poder de Deus. Isso é verdade. Moveres sobrenaturais de Deus levaram alguns países, em períodos determinados da História, a buscar coletivamente uma aproximação maior de Cristo e uma vida de santidade. Foi assim no Primeiro e no Segundo Grande Despertamentos dos séculos 18 e 19, por exemplo. Mas minha pergunta é: como estão essas nações hoje?
A verdade nua e crua? Espiritualmente falidas.
Os Estados Unidos, avivados pela pregação de bastiões como Jonathan Edwards e George Whitefield, são hoje um país cristão não-praticante, pérfido, devasso e sem nenhum tônus espiritual, que fez o que fez no Oriente Médio sob a direção de um presidente supostamente evangélico. Um país onde a Igreja tem aceito a ordenação de bispos cuja orientação sexual em outras épocas jamais seria aceita e que inventou a Teologia da Prosperidade. Um país espiritualmente e moralmente em bancarrota, que exporta para o mundo filmes, programas de TV e músicas abomináveis pela moral bíblica.
Já a Inglaterra, país que na época de John Wesley se viu renovado espiritualmente, hoje mal se lembra que há um Cristo. No restante da Europa, encontramos países como Espanha e Portugal, com menos de 1% de cristãos reformados. Nos berços da Reforma Protestante, Alemanha e Suíça, a Igreja evangélica tornou-se uma entidade fantasma, com igrejas vazias e nenhuma influência sobre a vida da sociedade.
E isso falando de nações que estão debaixo de nossos olhos. Se voltarmos alguns séculos no passado encontraremos os países do Oriente Médio com quase toda a população cristã. Você talvez não saiba disso, mas até o século VI d.C. regiões que hoje compõem países como Turquia, Irã, Iraque, Marrocos e Arábia Saudita, atualmente considerados não-alcançados pelo Evangelho, tinham suas populações quase que totalmente cristãs. Até que veio o islamismo e tomou esses países, transformando-os em nações muçulmanas.
O resumo da ópera é que para se “ganhar uma nação para Cristo” é preciso um milagre. Não só um milagre de conquista, mas um milagre de preservação. Ou seja: reconquista diária. E milagres são a exceção, não a regra.
3. Aspectos contextuais (atuais)
Este é o ponto principal desta reflexão. Para que se pregue o Evangelho a uma pessoa pecadora, mais do que proclamar a Verdade é preciso viver a Verdade. Se eu sou um homem notoriamente devasso, mentiroso, pérfido e sem caráter, de nada adiantará eu chegar para alguém e pregar o Evangelho. Pois ele dirá “ser cristão é isso aí? Tou fora, fala sério!”. E essa mesma realidade se aplica a uma nação. Para que a Igreja de Jesus evangelize uma nação e a “ganhe para Cristo”, ela tem que dar o exemplo. Isso é imperativo. Mais do que pregar a Verdade, tem que viver a Verdade. E é com muita dor no coração que constato que nós não temos feito isso. Não temos sido exemplo. Compartilho alguns sintomas que me mostram que a Igreja brasileira não está capacitada para ganhar a nação para Cristo:
● A maior parte da Igreja visível no Brasil de hoje é espiritualmemte flácida e complacente com o pecado: o comportamento visível dos cristãos diante da sociedade não tem sido muito diferente do comportamento dos não-cristãos. Em geral, somos agressivos, arrogantes, vingativos, mentirosos e egocêntricos. Fraudamos impostos, passamos cheques sem fundos, não honramos nossa palavra. Nossos seminaristas colam nas provas. Não cedemos lugar no ônibus para o idoso, fingimos que não vemos o mendigo, jamais emprestamos o ombro a um órfão sequer e muito menos a uma viúva. Articulamos dentro das igrejas para conseguir ocupar cargos de destaque. Usamos a sexualidade de modo tão mundano como qualquer personagem da novela das oito. Nossas conversas são torpes, falamos mal dos outros pelas costas, jogamos irmãos contra irmãos, contamos anedotas pesadas e fazemos piada com a manifestação dos dons do Espírito Santo. E por aí vai. Uma Igreja assim não tem a menor moral de pregar o arrependimento de pecados para o mundo: primeiro ela própria tem de se arrepender.
● O modelo de igreja predominante no Brasil não forma cristãos sólidos. Como afirmou este ano em uma de suas palestras na Conferência da Sepal o Bispo Primaz da Igreja Cristã Nova Vida, Walter McAlister, o modelo de igreja-show não forma discípulos de Cristo. Enquanto formos aos cultos apenas para assistir a algo que se passa num palco e não para participar; enquanto não nos submetermos a um discipulado radical; enquanto não resgatarmos o papel de família de fé das nossas igrejas, nunca conseguiremos formar cristãos minimamente capazes de viver e compartilhar com eficiência sua fé com uma pessoa, que dirá com uma nação.
● O evangélico brasileiro não gosta de ler. Lidos sob o poder e a iluminação de Deus, livros são o alicerce da transformação. Mas nossos jovens preferem videogames, televisão, internet e no máximo inutilidades como a série “Crepúsculo” do que livros essenciais para a formação de um caráter cristão. E sem uma mente bem formada nos tornamos incapazes de pensar uma nação. Quanto mais transformá-la. O poder de Deus age, mas age por intermédio de seres humanos – que precisam ter bagagem intelectual para explicar e transmitir. E ainda lemos muito menos do que deveríamos. E a qualidade do que lemos, em geral, deixa muito a desejar.
● Somos analfabetos bíblicos. Uma pesquisa recente feita entre os líderes de jovens de certa denominação mostrou que menos de 30% deles tinham lido a Bíblia toda. Repare: estamos falando de líderes! Aqueles que deveriam ensinar os outros! Se não lemos, não conhecemos, e se não conhecemos… o que vamos pregar? Nossa teologia é formada a partir daquilo que ouvimos em corinhos, assistimos em péssimos programas evangélicos de TV, lemos em frasezinhas soltas no twitter e em adesivos de automóveis. Mas são poucos os que realmente se dedicam ao estudo sistemático e aprofundado das Escrituras. Então vamos ganhar o Brasil pra Cristo, mas… que Cristo? Se não conhecemos o Cristo segundo as Escrituras o apresentam, que Cristo é esse que estamos pregando? Se não entendemos a Palavra por não conhecê-la, que Palavra é essa que estamos pregando? Sem conhecer a Bíblia não temos absolutamente nada a oferecer em termos espirituais à nação.
● Grande parte da Igreja evangélica brasileira é egocêntrica. Ora por si e pelos seus. Pede bens materiais, emprego, carro e casa própria em suas orações. Quer a cura de suas enfermidades. Mas não se dedica muito a interceder pelo próximo, orar pelo arrependimento dos pecados e buscar sanar os males da sociedade. Não ora pelos pobres. Não estende a mão ao faminto. Não olha para o próximo. Não se devota. Não considera o outro superior a si em honra. E ganhar uma nação para Cristo exige olhar, antes de tudo e antes de si mesmo… para a nação.
● A Igreja está hedonista. Quer prazer. Quer alegria. Quer ser feliz da vida. Quer emoção. Que louvores vazios mas emocionantes. Quer cantores carismáticos, mesmo que pouco espirituais. Quer shows e não momentos de intimidade com Deus. Quer se sentir bem. Quer cultos que atendam às suas necessidades. Quer pregações que a faça sorrir. Quer enriquecer e ter uma vida abastada. Só que antes de ganhar uma nação para Cristo temos que chorar muito, nos humilhar, esquecer o que nos faz bem e buscar o que faz bem à nação. E orar. Orar! A Igreja hoje celebra muito, canta muito… mas ora de forma mirrada, esquelética. Só que pouca oração e muita celebração não farão nação alguma se converter. Se ganharmos o país para esse modelo de cristianismo o que faremos é transformar o Brasil numa grande rave gospel, com festa atrás de festa, celebração após celebração e pouca ou quase nenhuma vida íntima com Cristo.
● Grande parte da Igreja tem pregado um evangelho mentiroso. O que se tem divulgado é um Jesus fictício, complacente, eternamente alegre e exultante, que nos garante “plenitude de alegria, todo dia”. Mas o Cristo de verdade quer que tomemos nossa cruz para segui-lo. Que morramos para nós mesmos. Que deixemos pai e mãe para ir após Ele. Mas a nação não quer fazer nada disso. E para ganhar a nação para Cristo ela tem que saber que terá de abrir mão de muita coisa, de esvaziar-se de suas vontades e desejos e seguir um caminho de renúncia e muitas vezes de sofrimento. Ganhar a nação para Cristo significa propor a ela: tome sua Cruz e siga-me. Arrependa-se de seus pecados, abra mão de seu eu e mude de vida. Honestamente: é isso que temos pregado?
● A Igreja está dividida. A Palavra nos diz que “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir” (Mc 3.24). Mas deixamos nossas paixões denominacionais suplantarem a unidade. Nós, pentecostais, fazemos piada com os tradicionais. Os tradicionais ridicularizam os pentecostais. Todos menosprezamos os neopentecostais. Nos tornamos “anti” qualquer coisa que não sejamos nós mesmos. Nas tentativas de unir a Igreja perde-se tempo com discussões inócuas e vaidosas. Esquartejamos o Corpo de Cristo. E ainda assim queremos acrescentar uma nação inteira a esse Corpo? Como? Se não depusermos as hostilidades e buscarmos a unidade – verdadeira e sincera – uma nação ganha para Cristo sob esses moldes de igreja desunida seria um grande frankenstein.
● Nossas motivações são equivocadas. Queremos ganhar o Brasil pra Cristo não por amor às almas perdidas, mas sim para garantir nosso galardão no céu ou para finalmente fazermos parte do clube que representa a maioria e não a minoria. Queremos é estar por cima. Falta-nos, mais do que amor pelo Brasil, amor por cada brasileiro.
● Estamos tentando avançar na sociedade utilizando cargos políticos e legislações. Queremos ganhar o Brasil não para Cristo, mas para projetos de poder mascarados de cristianismo. E isso elegendo políticos supostamente comprometido com o Evangelho, fazendo marchas e protestos, usando de politicagens e chantagens políticas e organizando lobby no Planalto. E nada disso são armas espirituais. Nada disso nunca vai, de modo algum, glorificar o Senhor. Apenas cumprirá uma agenda política e nada mais.
Haveria muitos outros problemas que poderíamos desenvolver aqui, mas não quero me alongar mais. Não quero parecer um profeta do apocalipse, pintando um cenário pessimista. Minha intenção não é essa. Mas me atreveria a perguntar: será que os problemas que apontei acima são fruto da minha imaginação ou você consegue enxergá-los ao seu redor? Alguns poderiam dizer que o que escrevi não é nada edificante, mas… Há algo mais edificante que reconhecer nossos pecados para que possamos refletir sobre eles, arrepender-nos e consertar os erros? Não é isso que significa edificar? Construir? E, se preciso for, reconstruir? Parar de varrer a sujeira para baixo do tapete e acertar as coisas?
Há focos de resistência. Pequenos grupos que buscam viver uma espiritualidade real, profunda, desinteressada. Mas são grupos desconhecidos, pequenas igrejas escondidas, pastores que pregam para poucos e que proclamam o Evangelho como ele é, sem o desejo de agradar mais ao homem que a Deus. Cristãos que se abraçam e se amam de modo entregue e que se devotam à causa de Cristo e ao próximo. Esses são o remanescente fiel. São o último alento. Mas estão longe das câmeras de TV, das grandes gravadoras, dos eventos faraônicos, reunidos em silêncio, buscando a face de Deus sem fazer balbúrdia, sob as sombras do bem-aventurado anonimato. Eles são a semente da minha esperança.
Acredite: eu gostaria de que o Brasil fosse ganho para Cristo. Gostaria imensamente. Gostaria de viver numa pátria onde o Evangelho ditasse o procedimento das pessoas. Gostaria de poder afirmar: “Feliz é a minha nação, pois seu Deus é o Senhor”. Mas o que vejo ao meu redor não me permite fingir que está tudo bem. Não está. A Igreja de Cristo precisa se repensar e se acertar antes de empreender projetos de conquista. E isso urgentemente. Um exército desorganizado, desunido e despreparado não conquistaria nem um vilarejo, quanto mais uma nação.
Precisamos de um milagre. É caso de vida ou morte. E morte eterna. Precisamos nos arrepender dos caminhos pop e egoístas que estamos trilhando. Precisamos voltar a orar com um coração generoso. Precisamos nos humilhar. Precisamos clamar por misericórdia. Precisamos parar de tentar vencer o mundo no peito e na raça e tentar vencer, antes de qualquer outra coisa, nossas próprias concupiscências com o rosto no pó e os joelhos calejados. Essa luta não se vence com gritos, protestos, marchas, lobbies políticos e partidarismos, mas com lágrimas. Até caírem as escamas de nossos olhos e enxergarmos a dimensão espiritual que existe por trás da cortina da matéria continuaremos agindo como o servo de Eliseu, que não via o exército celestial do lado de fora de sua casa e desejava agir segundo os métodos do mundo e não os do Espírito.
Até lá, antes de pensarmos em ganhar o Brasil para Cristo, deveríamos nos preocupar em ganhar a nós mesmos para Ele. E isso diariamente. Pois é mediante a transformação pessoal, de um a um, alma a alma, no campo do micro, que alcançaremos o macro. Caráter. Espiritualidade. Intimidade com Deus. Estudo aprofundado das Escrituras. Leitura de autores sérios. Menos exultações e mais contrição. Amor ao próximo de fato, comprovado em atos. Sem atitudes como essas, ganhar a nação para Cristo é um sonho distante. E, honestamente, impossível.
Paz a todos vocês que estão em Cristo. Natanael Camurça.
Se formos sinceros, a culpa é daqueles que se dizem líderes, "pastores" de SEUS PRÓPRIOS REBANHOS, os quais vivem sob acirrada disputa pelas almas.
Ouço frequentemente uma conclamação feita nos mais variados recônditos do universo evangélico: Vamos ganhar o Brasil para Cristo!!! Bem, lamento informar, mas nós nunca vamos ganhar o Brasil para Cristo. E antes que você, espantadíssimo com minha falta de fé, me acuse de derrotismo ou mesmo de estar a serviço do mal, deixe-me explicar.
Como não acredito na doutrina da confissão positiva (o hábito antibíblico de “decretar a vitória”, “profetizar a bênção” e “tomar posse pela fé” que, se você não sabe, foi incorporado ao cristianismo a partir de práticas de religiões pagãs da Nova Era – mas essa é outra conversa) nao vejo dolo em fazer essa afirmação, que é fruto de uma observação bíblica, histórica e contextual. E justifico minha posição, apresentando aqui as razões pelas quais não creio que o Brasil será ganho para Cristo:
1. Aspectos biblicos:
A Bíblia nunca promete que nações inteiras se converteriam ao Senhor em nossos dias. Ela fala: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.14) mas em momento algum promete que isso resultaria em conversões em nível nacional. Anunciar o Evangelho é uma coisa. Ele resultar em conversões é algo bem diferente. Pelo contrário, a Palavra de Deus é clara ao afirmar que a minoria herdaria o Reino dos Céus:
“Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mt 7.13,14).
“Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, serão poucos os salvos?’. Ele lhes disse: ‘Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta’. ‘Ele, porém, responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês’. “Então vocês dirão: ‘Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. “Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’.”. (Lucas 13.23-27).
“Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12.32).
“Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (Mt 22.14).
Ou seja: não há na Bíblia nenhuma promessa ou sugestão de que haverá multidões de salvos entrando em nível nacional pelos portões do Céu. Não: a salvação é para poucos. Repare que na parábola do semeador (Mt 13) a maioria das sementes não frutifica, apenas uma pequena parte delas germina e dá frutos.
Gostaria eu que fosse diferente. E temos sempre que fazer de tudo e empreender todos os nossos esforços para que o máximo de pessoas receba a mensagem da Salvação. Temos que pregar o Evangelho a toda criatura. Mas no que tange à Biblia não posso afirmar o que ela não afirma só porque me faria sentir melhor. A verdade é o que é.
2. Aspectos históricos.
Fala-se muito de avivamento, de pátrias que foram sacudidas pelo poder do Espírito e que se transformaram em nações cristãs de fato, com milhares de conversões e manifestações inefáveis do poder de Deus. Isso é verdade. Moveres sobrenaturais de Deus levaram alguns países, em períodos determinados da História, a buscar coletivamente uma aproximação maior de Cristo e uma vida de santidade. Foi assim no Primeiro e no Segundo Grande Despertamentos dos séculos 18 e 19, por exemplo. Mas minha pergunta é: como estão essas nações hoje?
A verdade nua e crua? Espiritualmente falidas.
Os Estados Unidos, avivados pela pregação de bastiões como Jonathan Edwards e George Whitefield, são hoje um país cristão não-praticante, pérfido, devasso e sem nenhum tônus espiritual, que fez o que fez no Oriente Médio sob a direção de um presidente supostamente evangélico. Um país onde a Igreja tem aceito a ordenação de bispos cuja orientação sexual em outras épocas jamais seria aceita e que inventou a Teologia da Prosperidade. Um país espiritualmente e moralmente em bancarrota, que exporta para o mundo filmes, programas de TV e músicas abomináveis pela moral bíblica.
Já a Inglaterra, país que na época de John Wesley se viu renovado espiritualmente, hoje mal se lembra que há um Cristo. No restante da Europa, encontramos países como Espanha e Portugal, com menos de 1% de cristãos reformados. Nos berços da Reforma Protestante, Alemanha e Suíça, a Igreja evangélica tornou-se uma entidade fantasma, com igrejas vazias e nenhuma influência sobre a vida da sociedade.
E isso falando de nações que estão debaixo de nossos olhos. Se voltarmos alguns séculos no passado encontraremos os países do Oriente Médio com quase toda a população cristã. Você talvez não saiba disso, mas até o século VI d.C. regiões que hoje compõem países como Turquia, Irã, Iraque, Marrocos e Arábia Saudita, atualmente considerados não-alcançados pelo Evangelho, tinham suas populações quase que totalmente cristãs. Até que veio o islamismo e tomou esses países, transformando-os em nações muçulmanas.
O resumo da ópera é que para se “ganhar uma nação para Cristo” é preciso um milagre. Não só um milagre de conquista, mas um milagre de preservação. Ou seja: reconquista diária. E milagres são a exceção, não a regra.
3. Aspectos contextuais (atuais)
Este é o ponto principal desta reflexão. Para que se pregue o Evangelho a uma pessoa pecadora, mais do que proclamar a Verdade é preciso viver a Verdade. Se eu sou um homem notoriamente devasso, mentiroso, pérfido e sem caráter, de nada adiantará eu chegar para alguém e pregar o Evangelho. Pois ele dirá “ser cristão é isso aí? Tou fora, fala sério!”. E essa mesma realidade se aplica a uma nação. Para que a Igreja de Jesus evangelize uma nação e a “ganhe para Cristo”, ela tem que dar o exemplo. Isso é imperativo. Mais do que pregar a Verdade, tem que viver a Verdade. E é com muita dor no coração que constato que nós não temos feito isso. Não temos sido exemplo. Compartilho alguns sintomas que me mostram que a Igreja brasileira não está capacitada para ganhar a nação para Cristo:
● A maior parte da Igreja visível no Brasil de hoje é espiritualmemte flácida e complacente com o pecado: o comportamento visível dos cristãos diante da sociedade não tem sido muito diferente do comportamento dos não-cristãos. Em geral, somos agressivos, arrogantes, vingativos, mentirosos e egocêntricos. Fraudamos impostos, passamos cheques sem fundos, não honramos nossa palavra. Nossos seminaristas colam nas provas. Não cedemos lugar no ônibus para o idoso, fingimos que não vemos o mendigo, jamais emprestamos o ombro a um órfão sequer e muito menos a uma viúva. Articulamos dentro das igrejas para conseguir ocupar cargos de destaque. Usamos a sexualidade de modo tão mundano como qualquer personagem da novela das oito. Nossas conversas são torpes, falamos mal dos outros pelas costas, jogamos irmãos contra irmãos, contamos anedotas pesadas e fazemos piada com a manifestação dos dons do Espírito Santo. E por aí vai. Uma Igreja assim não tem a menor moral de pregar o arrependimento de pecados para o mundo: primeiro ela própria tem de se arrepender.
● O modelo de igreja predominante no Brasil não forma cristãos sólidos. Como afirmou este ano em uma de suas palestras na Conferência da Sepal o Bispo Primaz da Igreja Cristã Nova Vida, Walter McAlister, o modelo de igreja-show não forma discípulos de Cristo. Enquanto formos aos cultos apenas para assistir a algo que se passa num palco e não para participar; enquanto não nos submetermos a um discipulado radical; enquanto não resgatarmos o papel de família de fé das nossas igrejas, nunca conseguiremos formar cristãos minimamente capazes de viver e compartilhar com eficiência sua fé com uma pessoa, que dirá com uma nação.
● O evangélico brasileiro não gosta de ler. Lidos sob o poder e a iluminação de Deus, livros são o alicerce da transformação. Mas nossos jovens preferem videogames, televisão, internet e no máximo inutilidades como a série “Crepúsculo” do que livros essenciais para a formação de um caráter cristão. E sem uma mente bem formada nos tornamos incapazes de pensar uma nação. Quanto mais transformá-la. O poder de Deus age, mas age por intermédio de seres humanos – que precisam ter bagagem intelectual para explicar e transmitir. E ainda lemos muito menos do que deveríamos. E a qualidade do que lemos, em geral, deixa muito a desejar.
● Somos analfabetos bíblicos. Uma pesquisa recente feita entre os líderes de jovens de certa denominação mostrou que menos de 30% deles tinham lido a Bíblia toda. Repare: estamos falando de líderes! Aqueles que deveriam ensinar os outros! Se não lemos, não conhecemos, e se não conhecemos… o que vamos pregar? Nossa teologia é formada a partir daquilo que ouvimos em corinhos, assistimos em péssimos programas evangélicos de TV, lemos em frasezinhas soltas no twitter e em adesivos de automóveis. Mas são poucos os que realmente se dedicam ao estudo sistemático e aprofundado das Escrituras. Então vamos ganhar o Brasil pra Cristo, mas… que Cristo? Se não conhecemos o Cristo segundo as Escrituras o apresentam, que Cristo é esse que estamos pregando? Se não entendemos a Palavra por não conhecê-la, que Palavra é essa que estamos pregando? Sem conhecer a Bíblia não temos absolutamente nada a oferecer em termos espirituais à nação.
● Grande parte da Igreja evangélica brasileira é egocêntrica. Ora por si e pelos seus. Pede bens materiais, emprego, carro e casa própria em suas orações. Quer a cura de suas enfermidades. Mas não se dedica muito a interceder pelo próximo, orar pelo arrependimento dos pecados e buscar sanar os males da sociedade. Não ora pelos pobres. Não estende a mão ao faminto. Não olha para o próximo. Não se devota. Não considera o outro superior a si em honra. E ganhar uma nação para Cristo exige olhar, antes de tudo e antes de si mesmo… para a nação.
● A Igreja está hedonista. Quer prazer. Quer alegria. Quer ser feliz da vida. Quer emoção. Que louvores vazios mas emocionantes. Quer cantores carismáticos, mesmo que pouco espirituais. Quer shows e não momentos de intimidade com Deus. Quer se sentir bem. Quer cultos que atendam às suas necessidades. Quer pregações que a faça sorrir. Quer enriquecer e ter uma vida abastada. Só que antes de ganhar uma nação para Cristo temos que chorar muito, nos humilhar, esquecer o que nos faz bem e buscar o que faz bem à nação. E orar. Orar! A Igreja hoje celebra muito, canta muito… mas ora de forma mirrada, esquelética. Só que pouca oração e muita celebração não farão nação alguma se converter. Se ganharmos o país para esse modelo de cristianismo o que faremos é transformar o Brasil numa grande rave gospel, com festa atrás de festa, celebração após celebração e pouca ou quase nenhuma vida íntima com Cristo.
● Grande parte da Igreja tem pregado um evangelho mentiroso. O que se tem divulgado é um Jesus fictício, complacente, eternamente alegre e exultante, que nos garante “plenitude de alegria, todo dia”. Mas o Cristo de verdade quer que tomemos nossa cruz para segui-lo. Que morramos para nós mesmos. Que deixemos pai e mãe para ir após Ele. Mas a nação não quer fazer nada disso. E para ganhar a nação para Cristo ela tem que saber que terá de abrir mão de muita coisa, de esvaziar-se de suas vontades e desejos e seguir um caminho de renúncia e muitas vezes de sofrimento. Ganhar a nação para Cristo significa propor a ela: tome sua Cruz e siga-me. Arrependa-se de seus pecados, abra mão de seu eu e mude de vida. Honestamente: é isso que temos pregado?
● A Igreja está dividida. A Palavra nos diz que “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir” (Mc 3.24). Mas deixamos nossas paixões denominacionais suplantarem a unidade. Nós, pentecostais, fazemos piada com os tradicionais. Os tradicionais ridicularizam os pentecostais. Todos menosprezamos os neopentecostais. Nos tornamos “anti” qualquer coisa que não sejamos nós mesmos. Nas tentativas de unir a Igreja perde-se tempo com discussões inócuas e vaidosas. Esquartejamos o Corpo de Cristo. E ainda assim queremos acrescentar uma nação inteira a esse Corpo? Como? Se não depusermos as hostilidades e buscarmos a unidade – verdadeira e sincera – uma nação ganha para Cristo sob esses moldes de igreja desunida seria um grande frankenstein.
● Nossas motivações são equivocadas. Queremos ganhar o Brasil pra Cristo não por amor às almas perdidas, mas sim para garantir nosso galardão no céu ou para finalmente fazermos parte do clube que representa a maioria e não a minoria. Queremos é estar por cima. Falta-nos, mais do que amor pelo Brasil, amor por cada brasileiro.
● Estamos tentando avançar na sociedade utilizando cargos políticos e legislações. Queremos ganhar o Brasil não para Cristo, mas para projetos de poder mascarados de cristianismo. E isso elegendo políticos supostamente comprometido com o Evangelho, fazendo marchas e protestos, usando de politicagens e chantagens políticas e organizando lobby no Planalto. E nada disso são armas espirituais. Nada disso nunca vai, de modo algum, glorificar o Senhor. Apenas cumprirá uma agenda política e nada mais.
Haveria muitos outros problemas que poderíamos desenvolver aqui, mas não quero me alongar mais. Não quero parecer um profeta do apocalipse, pintando um cenário pessimista. Minha intenção não é essa. Mas me atreveria a perguntar: será que os problemas que apontei acima são fruto da minha imaginação ou você consegue enxergá-los ao seu redor? Alguns poderiam dizer que o que escrevi não é nada edificante, mas… Há algo mais edificante que reconhecer nossos pecados para que possamos refletir sobre eles, arrepender-nos e consertar os erros? Não é isso que significa edificar? Construir? E, se preciso for, reconstruir? Parar de varrer a sujeira para baixo do tapete e acertar as coisas?
Há focos de resistência. Pequenos grupos que buscam viver uma espiritualidade real, profunda, desinteressada. Mas são grupos desconhecidos, pequenas igrejas escondidas, pastores que pregam para poucos e que proclamam o Evangelho como ele é, sem o desejo de agradar mais ao homem que a Deus. Cristãos que se abraçam e se amam de modo entregue e que se devotam à causa de Cristo e ao próximo. Esses são o remanescente fiel. São o último alento. Mas estão longe das câmeras de TV, das grandes gravadoras, dos eventos faraônicos, reunidos em silêncio, buscando a face de Deus sem fazer balbúrdia, sob as sombras do bem-aventurado anonimato. Eles são a semente da minha esperança.
Acredite: eu gostaria de que o Brasil fosse ganho para Cristo. Gostaria imensamente. Gostaria de viver numa pátria onde o Evangelho ditasse o procedimento das pessoas. Gostaria de poder afirmar: “Feliz é a minha nação, pois seu Deus é o Senhor”. Mas o que vejo ao meu redor não me permite fingir que está tudo bem. Não está. A Igreja de Cristo precisa se repensar e se acertar antes de empreender projetos de conquista. E isso urgentemente. Um exército desorganizado, desunido e despreparado não conquistaria nem um vilarejo, quanto mais uma nação.
Precisamos de um milagre. É caso de vida ou morte. E morte eterna. Precisamos nos arrepender dos caminhos pop e egoístas que estamos trilhando. Precisamos voltar a orar com um coração generoso. Precisamos nos humilhar. Precisamos clamar por misericórdia. Precisamos parar de tentar vencer o mundo no peito e na raça e tentar vencer, antes de qualquer outra coisa, nossas próprias concupiscências com o rosto no pó e os joelhos calejados. Essa luta não se vence com gritos, protestos, marchas, lobbies políticos e partidarismos, mas com lágrimas. Até caírem as escamas de nossos olhos e enxergarmos a dimensão espiritual que existe por trás da cortina da matéria continuaremos agindo como o servo de Eliseu, que não via o exército celestial do lado de fora de sua casa e desejava agir segundo os métodos do mundo e não os do Espírito.
Até lá, antes de pensarmos em ganhar o Brasil para Cristo, deveríamos nos preocupar em ganhar a nós mesmos para Ele. E isso diariamente. Pois é mediante a transformação pessoal, de um a um, alma a alma, no campo do micro, que alcançaremos o macro. Caráter. Espiritualidade. Intimidade com Deus. Estudo aprofundado das Escrituras. Leitura de autores sérios. Menos exultações e mais contrição. Amor ao próximo de fato, comprovado em atos. Sem atitudes como essas, ganhar a nação para Cristo é um sonho distante. E, honestamente, impossível.
Paz a todos vocês que estão em Cristo. Natanael Camurça.
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