V. 16 Andando junto ao mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão. Eles estavam lançando as redes ao mar, pois eram pescadores.
Toda salvação é antecedida pelo preconhecimento e predeterminação de Deus. Cristo vê Simão e André e os chama. "Deus não está a procura do objeto do seu amor. Ele o cria", como alguém já disse. Primeiro somos vistos. Vistos na nossa aflição, miséria, abandono, culpa. Esse é o olhar da misericórdia. Deus olha e se compadece. Sabe que sem a sua graça o homem jamais inclinará sem coração para o seu Criador. É um olhar eletivo. Como o da águia no seu vôo fixando os olhos na presa. Só que, aqui, é a fixação do olhar no objeto da sua compaixão e graça. Jesus olha para Simão e André para salvá-los. Assim aconteceu contigo e comigo. Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro. Só vemos por termos sido vistos.
V. 17 Disse-lhes Jesus: Vinde a mim, e eu vos tornarei pescadores de homens.
Quando um homem é objeto do olhar eletivo de Deus, ouve o chamado irresistível do que ama. Cristo os chamava para a salvação e a missão. Deus chama o homem para amá-lo e servi-lo. Primeiro eles deveriam andar literalmente com Cristo. Esse "vinde a mim" significava andar com Cristo pelo solo da Palestina. Estar com Ele. Ouvir seus ensinamentos. Aprender a ver a vida com os olhos de Deus e a amar. Entrar na aventura de seguir um obstinado. Seguir a Cristo é ir após alguém fascinado por cumprir a vontade do Pai. Isso tem sérias implicações para a vida de todo discípulo. Envolve sofrimento, perseguição e morte.
Na presença de Cristo eles seriam tornados em algo. Passariam por profunda mudança. Desenvolveriam capacidades nunca antes imaginadas e exploradas. Tornar-se-iam aptos a resgatar vidas humanas da sua condição de escravidão ao pecado, ao medo e à morte. Pescadores de homens. Através de suas vidas homens seriam fisgados ao serem atraídos pelo evangelho da graça infinita.
V. 18 Então, imediatamente, eles largaram as redes e o seguiam.
A mensagem chegou aos seus corações com senso de urgência. Não houve procrastinação. Entenderam que encontravam-se diante de um incalculável privilégio. Ser chamado pelo Filho de Deus para o cumprimento de missão gloriosa. Quantos erram nessas horas, decidindo não decidir, desperdiçando o melhor da vida, que poderia ser consagrado para Deus e sua obra.
Eles não sabiam plenamente o que estavam fazendo. Quantas lutas os aguardariam. Mas, quanta glória. Não podiam imaginar o que seus olhos veriam e a marca que deixariam na vida. Através do cumprimento do seu chamado, edificariam o reino de Cristo e mudariam o curso da história da humanidade, espalhando o evangelho, organizando igrejas, por cuja influência dos seus membros os valores da fé cristã forjariam culturas inteiras e delineariam a vida em sociedade.
Eles não largaram um ofício profano para se dedicarem a um trabalho santo. Era possível pescar para a glória de Deus. Podemos supor que muitos pescadores foram alcançados pelo mesmo evangelho, mas em vez de receberem o chamado para o ministério de tempo integral, receberam a vocação de pescarem para a glória de Deus. Glorificamos a Deus não quando nos tornamos missionários de tempo integral, mas quando somos fiéis à nossa vocação.
A metáfora é perfeita. Evangelizar é pescar. Requer paciência, habilidade, conhecimento das marés culturais, entre tantas outras virtudes mais. Lembro-me do reverendo Antonio Elias falar sobre pregadores que pregam de modo que poucas pessoas podem acompanhar seu raciocínio. Ele dizia: "Eles colocam muito chumbo no anzol, e a ísca vai para o fundo. Mas, há peixes que vivem na superfície d'água. Estes só serão fisgados por anzol quase boiando, com pouco chumbo".
Vs, 19-20 Passando um pouco mais adiante, Jesus viu os irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu, que estavam no barco consertando as redes, e logo os chamou. E eles passaram a segui-lo, deixando seu pai Zebedeu com os empregados no barco".
Mais dois irmãos são objetos do mesmo amor. Era Cristo montando sua equipe. Homens que alterariam o curso da história. Finalmente, a partir dessa gente simples, nações do mundo inteiro teriam a oportunidade de conhecer um Deus diferente, doce, amoroso, perdoador. Cristo não vai para Atenas ou Roma. Tudo começa no obscuro mar da Galiléia. Esse tem sido o método de Deus.
Simão e André foram chamados enquanto lançavam as redes. Tiago e João, enquanto consertavam. Em não poucas ocasiões a igreja se vê na necessidade de fazer ambas as coisas. Anunciar o evangelho para os de fora, anunciar o evangelho para os de dentro. Evangelizar e reformar. Sem reformar, os peixes passam pelos buracos da rede para nunca mais voltar. Que desgraça uma geração inteira se perder por causa dos furos deixados pela igreja.
Mais uma vez percebemos o mesmo senso de urgência. Aceitam o chamado imediatamente. A vida passa rapidamente, e nós voamos, foi o que disse Moisés no salmo 90. O tempo é bem precioso, escasso e incerto. Ninguém sabe o quanto ainda tem disponível. Essa vida que passa tão rápido, não é um ensaio. O tempo que gastamos ensaiando para entrar na vida real é a vida real. Não podemos desperdiçar tamanho privilégio: ser chamado para servir ao Criador. Nunca mais a humanidade terá a oportunidade de servir a Deus nas condições atuais de vida. Glorificá-lo nas circunstâncias infernais deste mundo caído.
Mais uma advertência precisa ser feita. Da mesma forma que o evangelho não mesnopreza nenhuma atividade profissional legítima, não banaliza as relações familiares. Não há vestígio nas Escrituras de estímulo à negligência do cuidado de pai e mãe. Eles tinham que partir, mas não deixar de amar. Ao mesmo tempo, contudo, não podemos permitir que o nosso amor por aqueles que nos são tão caros, nos impeça de servir a Cristo. Se esse tiver que ser o seu caso, saiba que Deus cuidará de tudo o que lhe diz respeito enquanto você cuida de tudo o que diz respeito a Deus.
O que estamos esperando? Deixemos para trás tudo, servindo com alegria ao reino de Cristo, aceitando o convite para entrar nesta gloriosa aventura.
Antônio Carlos Costa é pastor da Igreja Presbiteriana da Barra e presidente do Rio de Paz.
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