quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Crente no Mar - Pecador na Terra


Semana passada, tive a oportunidade de participar de uma reunião de obreiros de uma Igreja Pentecostal, onde um pastor idoso de braços abertos recebeu diversos e antigos oficiais da Igreja, que haviam se afastados daquele templo por discordarem da visão ministerial do pastor, outros por rebeldia e alguns por pecados. O discurso de retorno, parecia que tinha sido ensaiado. Todos haviam entrado em um vento. O pastor, um homem experiente e calejado no apascentamento de ovelhas, recebeu a todos de volta com muito amor e paciência.
Diante daquela cena, que deve se repetir nas milhares de igrejas espalhadas pelo Brasil, lembrei-me de uma matéria publicada na revista Veja, pelo colunista Diogo Mainardi, onde ele dizia, que os brasileiros tem grande facilidade para passar de uma religião para outra. Naquele momento, poderíamos dizer, que os evangélicos e principalmente os pentecostais, possuem uma grande facilidade para pular de uma igreja a outra. Basta uma hora de pregação, algumas profecias, um convite ministerial para alguém deixar para trás suas velhas convicções doutrinárias e abraçar outra denominação.
Segundo os historiadores, o fenômeno vem de longe, pois os indígenas aceitavam rapidamente o cristianismo pregado pelos missionários jesuítas e, depois, voltavam as suas crenças animalistas. O missionário Ashbel Green Simonton, fundador da Igreja Presbiteriana no Brasil, relata em seu diário a inconstância religiosa da tripulação do navio que o trouxe ao Brasil em 1859: “Durante a viagem, quando o navio atracava em algum porto, os marinheiros se entregavam ao pecado, e depois ao retornarem a bordo e prosseguirem na viagem, mediante a pregação da Palavra, eles se arrependiam. No mar eles eram cristãos. Na Terra eram pecadores.
O apóstolo Paulo nos deixou um conselho da necessidade de maturidade cristã: “Para que não sejamos como meninos, agitado de um lado para outro e levados ao redor por todo o vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.” (Éf 4.14). Naquele mesmo dia de domingo, fui convidado para pregar em uma congregação humilde, em um bairro de Cabo Frio no culto da noite. Após a pregação e os agradecimentos pelo convite, reconheci uma amiga de infância de minha esposa, e perguntei-lhe pelo seu marido, que era diácono daquela igreja. Para minha tristeza, ela informou que o marido havia pedido carta de mudança para outra igreja do bairro, onde segundo ele, havia mais emoção e poder de Deus.
Aquele jovem diácono, estava cometendo um equívoco de confundir emoção com poder. Emoção não é pecado. É uma reação natural frente ao prazer e desprazer. O pentecoste é uma fonte de emoções. Há uma porção enorme de experiências que provocam emoções: arrependimentos pelos pecados, a prática da comunhão com Deus e os irmãos, o batismo com Espírito Santo e assim por diante. Todavia o crente não pode ser movido apenas pelas emoções. O verdadeiro crente pentecostal não é seco. Ele se alegra e chora na presença do Senhor. Mas para ter uma vida vitoriosa, ele depende apenas da autoridade da Palavra de Deus. Já ficou provado, que o crente movido a emoções, que busca incessantemente profecias e revelações, que não comparece a Escola Bíblia Dominical, tão pouco aos cultos de Ensinamento da Palavra, é volúvel, instável e vítima de arroubos e depressões constantes, com grandes fraquezas na sua caminhada cristã. Chega de sermos crentes no mar e pecadores na terra. Deus ordena ao seu povo e aos seus líderes, para que não se desviem “nem para a direita e nem para a esquerda”.

Baruch Há Shem!

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