sábado, 2 de janeiro de 2010

Carta no Bolso


Quando criança, morando na Pavuna, ultimo bairro do Rio de Janeiro, na divisa com São João de Meriti, nunca consegui entender o porque de meu tio Augusto Vasconcelos, um evangelista batista carregar no bolso do palito uma carta de mudança para outra igreja. Logo ele, que ajudara a construir o templo que fora ordenado ao diaconato pelo pastor Feliciano Amaral, o primeiro pastor Batista a gravar um disco de vinil com seu vozeirão de barítono, estava sempre triste e cabisbaixo na sua condição de sem igreja. Aos domingos, quando dava a hora do culto, ele vestia seu terno e começava a entoar cânticos e orava por todos os familiares, que ainda não tinham se decidido por Jesus, e como um grande evangelista do tipo de Billy Granhan , fazia sermões simples, porem objetivos. Em meu pequeno entendimento, percebia que ele amava sua antiga congregação mais que a própria família. Ao ser questionado sobre sua nova igreja, se defendia dizendo estar procurando uma casa de oração, onde Deus fosse soberano, e o povo obedece-se sua Palavra. Para Tio Augusto, a Igreja de Cristo tinha que ser santa e pura, sem nenhuma mancha de pecado. Quando lembrava do inicio dos trabalhos evangelisticos e as dificuldades enfrentadas na pequena igreja, seus olhos se enchiam de lagrimas e o coração transbordava de alegria. Durante anos , carregou sua carta de mudança no bolso, que ele preferiu entregar ao Sumo Pastor na Nova Jerusalém. Passado algumas décadas, já casado e com 3 filhos, e servindo Deus no Ministério Pastoral, depois de procurar uma igreja perfeita, repetir o mesmo gesto do velho augusto, carregando uma carta no bolso. Foi quando descobri através de Kierkegaard que: “A vida só pode ser compreendida quando olhamos para traz, mais deve ser vivida olhando-se para frente”. Infelizmente Tio Augusto não conheceu Kierkegaard.
Baruch Há Sshem!

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