sábado, 6 de junho de 2009

Revelações de um dos Tais


A primeira vez que ouvi uma revelação no melhor estilo pentecostal sobre minha vida, foi a mais de 30 anos, na casa da família Vilela em Itajubá, Sul de Minas Gerais, durante uma visita de férias escolares. Confesso que fiquei estarrecido com as palavras proferidas pela dona Vanda, irmã mais velha do Chico Vilela, antigo porteiro do Colégio Batista Pan Americano, em Belford Roxo na Baixada Fluminense, que havia retornado para as montanhas de Minas e entrado no movimento pentecostal em um estado com fortes tradições católicas. Naquela noite fria de julho, após entoar o cântico do hino que dizia: “Sou um dos tais”, a tia do meu amigo Marcos Vilela, um mestrando de física, afirmava categoricamente olhando nos meus olhos, que eu também, em determinado momento da minha vida, me tornaria, um dos tais.
Nas alterosas mineira, eu testemunhara a experiência do batismo no Espírito Santo colocando em duvida os ensinos recebidos na igreja histórica, onde havia nascido e batizado nas águas. Logo em seguida ao meu retorno ao Rio de Janeiro, fui convidado para participar de um jantar de Homens de Negócios, onde haveria um testemunho de conversão da atriz Darlene Gloria, na época, irmã Helena Brandão, uma recém pentecostal. Na minha ignorância e preconceito, achava que todo pentecostal, na sua maioria, era formado de pobres, negros e indoutos. Mais no entanto, quem havia presidido a reunião, era o empresário Custodio Rangel, bem sucedido na industria plástica, que conhecia vários países e que falava uma língua estranha, como os demais pentecostais. A minha curiosidade me levo a conhecer as historias dos cultos da rua Azuza, em Los Angeles, onde um negro cego de um olho, cheio do Espírito Santo atraiu multidões para conhecerem o poder de Deus. O inicio do movimento no Brasil com a chegada de suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém do Para no comedo do século xx , sem falarem uma palavra em português, porem pregando com autoridade no língua dos anjos. Nos primórdios do movimento formado por pessoas simples, alcançadas pela graça e misericórdia de Deus, todas eram iguais, sem necessidade de formação acadêmica e teológica para servirem a Jesus, porem os sinais seguiam aqueles que criam, e eu ficava me perguntando: “ Que poder é este ?”.
O movimento pentecostal que veio para ficar, causou um verdadeiro mal-estar nas igrejas de linha tradicional, levando a inúmeros rachas denominacionais e por conseqüência exclusões sumarias do rol de membros, porem, não do rol da igreja que vai subir, quando o noivo vier busca-la. As perseguições do clero católico aliadas com as autoridades constituídas no Estado Novo e com a observância das lideranças evangélicas históricas, fizeram com que a teologia pentecostal pregada por leigos em uma linguagem popular se alastrasse como fogo por todo o Brasil, alcançando todas as camadas da população.
Hoje, ainda que a presença de Deus possa ser sentida durante os cultos ministrados pelos milhares de templos do Oiapoque ao Chuí e prestes a completar 100 anos de fundação em 2011, nada mais é como antes. A simples teologia pentecostal formulada por pregadores leigos sem as regras da hermenêutica e do rico vocabulário acadêmico foram trocadas infelizmente pela teologia da prosperidade e da auto-ajuda, pregada em grandes catedrais e na mídia eletrônica por pregadores profissionais, que prometem o céu por herança a todos aqueles que ofertam em troca de novas indulgencias. Antes em um passado não muito distante, poucos poderiam dizer: “ Sou um dos Tais”, perseguido, mal-compreendido, excluído, segregado, hostilizado e etc. Hoje, com o movimento pentecostal inchado, fracionado, e multidividido em placas de diferentes nomes, com praticas mundanas, sendo copiadas pela igreja moderna, ficou fácil e chique, dizer sem causar nenhuma mudança na sociedade : Sou um dos tais.
Baruch Há Shem!

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