sexta-feira, 18 de julho de 2008

Será que crentes precisam de salvação?


Fui convidado recentemente para pregar em uma igreja da região em culto evangelístico no domingo. Antes de assumir o púlpito, o pastor deu oportunidade para dois presbíteros trazerem uma palavra de perseverança para o rebanho. O que aconteceu para meu espanto, foi uma saraivada de críticas e lamentações em relação a atuação ao pastor que havia assumido a direção apenas a três meses em um momento de grande crise.
Aquela cena causou enorme constrangimento. Quando comecei a pregar, o Espírito Santo me orientou a falar sobre Josué, sucessor de Moisés, para que o novo pastor tivesse bom ânimo e não se deixasse abater pelas críticas. Ao término do culto, uma senhora me procurou e declarou que aqueles irmãos a despeito de serem oficiais da igreja, necessitavam de salvação, pois sempre estavam criando problemas para todos os pastores que dirigiram aquela congregação. E que caso eu continuasse a pregar sobre arrependimento, iria faltar púlpito para as minhas pregações. Naquele momento, declarei para aquela senhora que meu compromisso, não era com o homem, com os oficiais da igreja, mas sim com o Senhor da Igreja: Jesus.
Ao chegar em casa, comecei a meditar: “Será que crente precisa realmente de salvação”, mesmo estando à décadas freqüentando uma igreja, cantando no coral, sendo um obreiro?
Passado alguns dias, estudando a biografia de João Wesley, fundador da Igreja Metodista, descobri que quando Wesley começou a pregar em 1737, as igrejas da Inglaterra fecharam as portas para ele. Então ele passou a pregar nas ruas das cidades onde ia. Isso ocorreu inclusive em Epworth, onde o pai dele fora pastor, e onde ele pregou em pé no do túmulo de seu pai. E a razão de as portas se fecharem para ele foi o falto de Wesley haver afirmado:
“Não basta saber que nosso nome está no rol da igreja ou que fomos batizados ao nascer. Não nos basta saber que fomos doutrinados ou que entramos para uma igreja, ainda que depois de adultos”.
Ele afirmava incisivamente que todo crente precisava ter no coração o testemunho do Espírito de que era nascido de Deus.
A princípio, ele ficou magoado por não permitirem que pregasse nas igrejas. Mas depois percebeu que esse era o meio que Deus estava usando para que ele realmente falasse ao povo. A partir daí passou a usar a seguinte estratégia. Sempre que pretendia pregar em uma cidade, mandava alguém avisar os ministros das igrejas anglicanas do lugar. Esse mensageiro chegava a uma cidade e dizia:
-Wesley virá pregar aqui.
E perguntava aos líderes da igreja se ele poderia utilizar o seu púlpito para pregar o evangelho à gente do lugar. A resposta era sempre negativa. Aliás, a liderança da igreja sempre dizia a seus fiéis.
-Não vão assistir às pregações de Wesley.
E naturalmente o resultado desse tipo de publicidade era que multidões iam ouvir João Wesley.
Conheço bem o poder de uma ordem negativa. Quando era garoto e morava no norte de Minnesota, minha mãe certo dia saiu de casa, deixando-me a tomar conta de meu irmão menor. E pouco antes de sair, ela disse:
-Crianças, tenham muito cuidado, e por favor não vão enfiar o algodão no nariz.
As mães já sabem como os meninos são irrequietos. Não verdade eles são especialistas em fazer o que não devem. Estão sempre predispostos a tentar fazer tudo o que é duvidoso, principalmente se a mãe lhes diz para não o fazerem.
O que sucedera é que alguns dias antes uma senhora da vizinhança tivera de chamar o médico para remover algodão da narina de seu filhinho. Por isso, antes de sair, minha mãe recomendou com muita firmeza que não procurássemos fazer o que o garoto da vizinha fizera. Para dizer a verdade, nós nem havíamos pensado naquilo. Mas agora não víamos a hora de ela sair, pois achávamos que devia ser maravilhoso enfiar o algodão no nariz.
Então (todo mundo já sabe o que aconteceu), ela teve que chamar o médico para remover algodão de nosso nariz.
E foi assim que Deus levou multidões para ouvir as pregações de Wesley. Sabe-se que em alguns lugares havia mil pessoas nos cultos. Os próprios ministros anglicanos, inconscientemente, despertava no povo o interesse de ouvi-lo.
E o que Wesley pregava? Ninguém pode se considerar Filho de Deus enquanto o Espírito não testificar em seu coração que ele nasceu de novo!
E o que é nascer de novo? Uma sensação? Um sentimento? Não! Quando alguém indagava isso a Wesley, ele citava um texto de Jô: “Na verdade, há um espírito do homem, e o sopro do Todo-Poderoso o faz entendido” (Jo 32.8). E apresentava ainda outro verso: “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão seu próprio espírito que nele está?” (I Co 2.11).
O espírito é o aspecto de nosso ser pelo qual sabemos que estamos e não em outro lugar; sabemos que somos casados, e não solteiros, ou solteiros, e não casados. É o aspecto pelo qual temos consciência de que somos homem, e não mulher; ou mulher, e não homem. E é também a parte à qual Deus se une quando nascemos de novo, a parte pela qual Deus nos revela, e somente a nós, que vivificou nosso coração, tornando-nos uma nova criatura. Aí então temos consciência desse fato. Isso é o testemunho do espírito.
Certa vez em uma reunião da Missão InterVarsity, falei sobre esse assunto a um grupo de ex-estudantes universitários no estado de Michigan. Quando terminei, uma senhora de nome Harriet Marsh, que pertencia à diretoria do grupo em Nova yorque, foi chamada a dar um testemunho. E disse o seguinte:
“Muitos dos que se acham presentes aqui sabem que meus pais não eram crentes. Mas talvez não saibam que meu pai era ateu e minha mãe, agnóstica, o que equivale dizer que era atéia também. Antes de entrar para a faculdade, só tinha ido à igreja duas vezes: a um casamento e um culto fúnebre. Mas na faculdade onde eu estudava havia uma jovem de rosto radiante e personalidade bastante atraente. Indaguei de uma das colegas a seu respeito, e me disseram que ela era crente.
“Mais tarde, fiquei sabendo que sua colega de quarto iria sair em janeiro, e pedi à pessoa responsável pela distribuição dos quartos no dormitório – que era conhecida de meus pais – que, depois de janeiro, me colocasse no mesmo quarto daquela jovem. E permitiram. Eu passava bem pouco tempo em companhia da moça. Mas nas poucas vezes em que conversei com ela e ouvi-a orar, comecei a experimenta uma grande fome espiritual interior. Então abri o coração para Cristo. Passei a freqüentar reuniões de oração e estudos bíblicos. Era uma vida inteiramente nova para mim.
“Um dos professores da faculdade, também ateu, era conhecido de meu pai. De vez em quando esse homem me chamava para almoçar fora. E sempre que conversávamos, dizia:
“-Você precisa largar essas idéias ridículas. Está se envolvendo com superstições religiosas.
“E todas as vezes que me viam, ele insistia no assunto.”
“-Você é uma moça tão inteligente; está esperdiçando seu tempo esse negócio.”
“Afinal, entreguei os pontos. E certo dia disse à minha colega de quarto e aos amigos do grupo de estudo bíblico.
“-Vocês são muito legais. Gosto da companhia de vocês, mas sinto que estou enganada. Não sou crente. Tive apenas uma experiência mental e emocional por causa do calor humano e da compreensão de todos. Vou largar o grupo de hoje, e quero continuar a amizade, mas por favor não me falem mais sobre a Bíblia e nem de Jesus.”
E Harriet contou que seus amigos ficaram muito tristes, é claro, mas não concordaram em não conversar com ela sobre a Bíblia nem sobre Jesus. Entretanto ela esquecera de pedir: “não orem por mim”.
Passou-se algum tempo, e um dia, quando se encontrava na biblioteca da faculdade, de repente, ela começou a fazer a oração que muitos agnósticos fazem:
“Ó Deus, se é que tu existes, salva minha alma, se é que tenho alma!”
Horas depois, quando estava de volta em seu quarto, ela se lembrou de que a colega costumava ajoelhar-se para orar.
-Vou fazer só mais isso, disse consigo mesma.
Então trancou a porta do quarto e ajoelhou-se, e repetiu a mesma oração. Mas em seguida continuou a orar silenciosamente e em dado momento proferiu as palavras: “Pai celeste,...” Imediatamente percebeu o que havia dito, e começou a rir e chorar ao mesmo tempo. Abriu a porta e saiu correndo pelo corredor em direção à sala onde seus amigos estavam realizando um estudo bíblico, e gritou-lhes:
-É verdade, é verdade! Tudo isso é verdade!
Agora Harriet sabia que nascera na família de Deus.
Vejamos novamente o texto com que iniciamos este capítulo. “E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”
Percebeu o que ele diz aí? Aí ele define “fé”, “novo nascimento”, e “testemunho do Espírito”. Esse é o caminho que todos temos de seguir. Se alguém percorreu um caminho diferente, esse é o momento de corrigir o curso.
Agora quero fazer algumas observações muito sérias acerca do testemunho do Espírito.
O apóstolo João disse o seguinte: “E aquela que guarda os seus mandamento permanece em Deus, e Deus nele. E nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu” (I Co 3.24).
Vou repetir algo que já disse convictamente: Deus Espírito Santo é a única pessoa que tem o direito de nos garantir que nascemos do alto.
Às vezes encontramos pessoas que dizem:
-Ah, eu tenho esperança de ir para o céu quando morrer.
Ou então:
-Eu já fiz uma oração aceitando Jesus, e não senti nada.
Nós não podemos em hipótese alguma dar a esses indivíduos a certeza de que são salvos. Já basta que não tenham certeza da salvação; isso é suficiente para que se sintam inseguros. Se ainda por cima tentarmos dar-lhes uma falsa esperança estaremos a prestar-lhe um desserviço.
Os círculos evangélicos estão cheios de gente ativamente empenhada em ocupações de natureza religiosa, achando que dessa maneira vão obter a salvação. Mas infelizmente tais pessoas não gozam de paz com Deus no coração. Não nos cabe consola-las nem tentar afagar-lhes o ego. Pelo contrário; temos de estimula-las a buscar a Cristo como Senhor e Salvador.
O Senhor Jesus de fato prometeu conforto e segurança, mas não a pecadores. Disse ele que “outro consolador” viria para seus discípulos, para aqueles que estariam como que orfanados depois que ele deixasse a terra e voltasse para o Pai.
O pecador não tem absolutamente nenhum conhecimento do que seja isso. Mas assim que alguém tem consciência de que crê no Senhor Jesus Cristo, assim que tem a certeza – transmitida ao seu espírito pelo Espírito Santo – de que já nasceu de novo, aí ele sabe, sem a menor sombra de dúvida, que se acha seguro nele. E aí também o Senhor faz tudo o que é necessário para protege-lo e mante-lo nessa nova vida.
Pela maravilhosa obra da redenção, Deus nos sela com o testemunho do seu Espírito. Ele nos transportou na morte para a vida. E a maneira como sabemos que ele está em nós é esta: “pelo Espírito que nos Deus”.
Sabia que o Evangelho de João foi escrito “para que nós tenhamos vida eterna”? E que a primeira epístola de João foi escrita “para que saibamos que temos a vida eterna”? O filho de Deus, , o crente sincero, deve conhecer bem esses importantes textos das Escrituras.
Em 1João 5.6, lemos o seguinte: “Este é aquele que veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo; não somente com água, mas com água e com o sangue. E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade”.
Recentemente, um aluno da faculdade teológica batista do estado de Nova Iorque contou-me que um dos professores da instituição disse o seguinte aos alunos:
-Lembrem-se de que quando estiverem levando uma pessoa a Jesus Cristo, têm de deixar o Espírito Santo dizer a ela que ela já nasceu de novo.
Graças a Deus, que esses fatos que estou apresentando aqui não foram “descoberta” minha, nem são uma “novidade” que estou tentando “impingir” aos evangélicos. Não; a igreja vem crendo nisso desde o princípio. O Espírito Santo é o espírito de adoção. É o único que possui autoridade para dizer a um ser humano que ele passou da morte para a vida, que foi transportado das trevas para a luz, que já nasceu na família de Deus, que pode chamar o Deus todo-poderoso de “Aba, Pai”.
Quando eu estudava na Escola Bíblica, tínhamos d dar um relatório semanal sobre quantas almas havíamos ganhado para Cristo durante a semana. E depois de algum tempo, alguns alunos, eu inclusive, ficaram meio chateados de não poder dar um bom relatório. Então certo dia, saí para o trabalho de evangelismo com um colega que iria me ensinar-me como se fazia a coisa. Íamos para um ponto de ônibus para conversar com as pessoas que ali estavam esperando a condução. Dirigíamo-nos a uma delas e perguntávamos:
-Se você morresse hoje, iria para o céu ou para o inferno?
-Não sei, respondia ela na maioria dos casos.
-E gostaria de saber?
-Claro.
Então diríamos.
-Bem, é um presente gratuito de Deus. Basta que aceite Jesus Cristo...
-O que você quer dizer com “presente gratuito”?
Então pegávamos uma moeda e a estendíamos para aquele indivíduo, dizendo:
-Tome! Da mesma forma como você pegou essa moeda, pode receber Jesus Cristo.
-Ah, bom. Então está bem!
E em seguida diríamos:
-Agora repita comigo uma oração...
A partir daí, todas as segundas-feiras, no culto dos alunos, podíamos dar um relatório bom, mencionando quantas pessoas nós havíamos ganhado para o Senhor. É claro que na verdade devíamos relatar era quantas moedas havíamos distribuído. Mas não queríamos que descobrissem o que estávamos fazendo.
Enquanto não tivermos uma experiência com o Espírito de Deus, não gozaremos paz, nem receberemos orientação do alto, pois o espírito humano está morto para as coisas de Deus. Nós só nascemos do Espírito se o Espírito testificar com nosso espírito se nascemos de Deus. É só assim que o crente recebe a vida de Deus – embora talvez nem esteja consciente do processo, e até nem saiba que o Espírito Santo existe. (Ver também Romanos 8.16,17; 1 João 5.6).
Precisamos reconhecer que há duas maneiras de se cometer heresia. A primeira é pregar uma mensagem antibíblica. De modo geral, todo mundo está bem preparado para detectar esse tipo de erro. A segunda maneira é utilizar um método de trabalho errado. E essa é a mais perigosa e mais sutil.
Em muitos casos, pregamos uma mensagem perfeitamente ortodoxa, mas o método utilizado contém muitos erros. Mas precisamos ser corretos tanto no método quando na mensagem.
Certa vez, alguém me fez a seguinte pergunta:
-O que o Senhor modificou em relação ao método que usava antes?
Hoje em dia preocupo-me mais em demonstrar o quanto Deus é santo e em convencer ou ouvintes, com base na Bíblia, do quando são pecadores. Em seguida, aponto-lhe o que Deus, em sua graça e amor, fez por nós, e como temos de corresponder ao que ele fez. E por fim digo:
-Quando você fizer o que a Palavra de Deus ordena. Experimentará o novo nascimento. Depois que nascer de novo, terá o testemunho do Espírito. E assim que tiver conhecimento de que passou da morte para a vida, venha dizer-me, está bem?
O fato é que não podemos dizer a ninguém que ele nasceu de novo. É que a pessoa pode enganar-nos, levando-nos a crer que nasceu, quando se fato isso não se deu. Mas o Espírito de Deus é a Verdade. Ele sabe quando alguém passou da morte para a vida. E a pessoa sente isso no coração.
Mas alguém pode indagar:
-Isso não seria uma experiência emocional?
Não. É conhecimento. O aspecto de nosso ser pelo qual sabemos que esta aqui e não lá na esquina, é o mesmo pelo qual sabemos se somos ou não nascidos de Deus.
Se eu perguntasse a um homem: “Você é casado?” e ele estivesse de olhar se estava de aliança na mão esquerda, ou de procurar um documento que contivesse essa informação para verificar qual o seu estado civil, eu diria que ele tinha algum problema.
Se você não tem certeza se nasceu de Deus ou não, está com algum problema espiritual. É de extrema importância que esclareçamos essa situação imediatamente. Recomendo que você não descanse enquanto não tiver resolvido a questão, e não saiba com certeza qual é a sua condição espiritual.
Vejamos agora o texto de Romanos 15.13. Pode parecer que estou dando ao leitor um “exercício” bíblico. Mas considero de grande valor que leiamos a passagem mencionada. Ela deve estar sublinhada em sua Bíblia para indicar que você já “esteve” nesse lugar, que visitou essa “casa”. “E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo.”
Uma das gloriosas bênçãos resultantes no novo nascimento é que temos “gozo e paz no nosso crer”. Temos o testemunho do Espírito. Esse testemunho em si não é gozo nem paz; é conhecimento. E saber mesmo é ter uma certeza firme que não se abala com nada.

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