sábado, 12 de julho de 2008

Tô nem aí, tô nem aí...


Tô nem aí, composição da cantor Luka – parada de sucesso durante meses a fio e hit do último verão -, reflete o espírito de uma época. Diz o refrão: “Tô nem aí, tô nem aí / Pode ficar com seu mundinho e não tô nem aí / tô nem aí, tô nem aí / Não vem falar dos seus problemas, que eu não vou ouvir”. A mensagem da música é que ninguém está preocupado com os outros, nem mesmo com a vida. “Já nem lembro seu nome, seu telefone eu fiz questão de apagar”, diz outro trecho. A sugestão é clara” você precisa se reiventar, virar a página e estar “noutra”.
O sociólogo Max Weber, muito lido e discutido nos meios acadêmicos, ensina que a religião pode se manifestar de dois modos – ascético e místico. No modo ascético, o fiel se vê com instrumento de Deus, adotando uma postura ativa na qual aprende a se dominar, controlar seus impulsos e quer controlar o mundo (ascese no mundo) para servir a Deus. É um comportamento que tende para a transcedência e personalização do divino, muitas vezes como repressor; é fruto do esforço; tem enfoque ético, exigindo dentro do mundo uma transformação dos fiéis em termos de conduta moral.
Já no modo místico, a busca é pelo desenvolvimento de uma postura contemplativa em que o fiel se vê como um receptáculo do divino. Aqui, o desenvolvimento é de uma ascese para fora do mundo, tendendo para a imanência e despersonalização do divino, constituindo experiência para os iniciados. Neste caso, a vida não tem qualquer abordagem ética – o que importa é a contemplação e a vida mística. Portanto, a religião mística não afeta a conduta da maioria dos fiéis no cotidiano.
Olhando a análise destes dois tipos de religiosidade, creio que precisamos das duas abordagens em equilíbrio. É preciso buscar a santificação, mas também é preciso continuar a viver no mundo. É necessário aspirar à vida ética; mas também à contemplativa.
Um dos dilemas é que muita gente está tão preocupada com a sua espiritualidade interior que se esquece dos compromisso éticos e sociais, de modo a nem se importar como anda sua conduta. Há crentes adulterando, flertando com a promiscuidade, com as drogas, e, como diz a música da Luka, não tão nem aí. Pouco se importam com a santidade, com as disciplinas espirituais, com a transformação do caráter. O que vale mesmo é a curtição mística para implementar a alma. O resto é meramente resto.
Não é possível encarnar Cristo em nossa vida, ser sal da terra e luz do mundo – como nos recomenda a Palavra -, somente com a contemplação e sem a santidade ética. Uma coisa não bate com a outra. Você iria a uma consulta para emagrecimento com um médico que pesa 120 quilos? É a mesma coisa que cantar: “Tô nem aí com a vida, com a ética / O que importa mesmo é o que estou sentindo, o que meu coração tá falando”. Isso virou moda.

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