terça-feira, 4 de agosto de 2009

Que tipo de pastores precisamos?


Estávamos participando de mais uma reunião do Conselho de Pastores de Rio das Ostras, quando o pastor da Igreja anfitriã, trouxe uma palavra sobre a falta de unidade no Corpo da Igreja de Cristo, a falta de comunhão entre os sacerdotes, o ciúme e a fogueira de vaidades que prevalece no meio evangélico. Aquele pastor não falou nenhuma mentira a respeito da caminhada e crescimento da Igreja evangélica brasileira, através de uma avaliação da realidade da igreja evangélica riostrense. Contudo, com o peito estufado e o nariz arrebitado traçou sua trajetória de vida ministerial vitoriosa com a construção de uma catedral e inúmeras congregações, como também sua falta de tempo para participar da comunhão com os outros pastores da cidade e pediu licença para se retirar para outro compromisso urgente, porém ao término da reunião, retornou ao templo para ciceronear os demais obreiros e apresentar-lhe sua imponente catedral.
Os pastores de pequenos rebanho, que mantinham seus cultos regulares em salões alugados, saíram daquele templo arrasados e desencorajados, e porque não dizer humilhados diante da soberba e orgulho pastoral externado por aquele “líder”.
No retorno para minha residência, lembrei-me da luta de João Wesley contra a frieza e zombaria dos pastores anglicanos, a começar do arcebispo de Cantuária na Inglaterra, que o proibiu de pregar na Diocese. Lembrei-me das palavras ditas ao sapateiro William Carey, querendo impedi-lo de fazer missões na Índia. Segundo o Pr.Warren W.Wiersbe no seu livro a Crise de Integridade, na Igreja existem basicamente três tipos diferentes de pastores. Geralmente, o primeiro tipo de pastor a aparecer é o otimista e conivente, que trata da situação de modo suave e superficial. Ocupa-se apenas das falhas aparentes e logo convence o rebanho de que o pecado não é tão grave assim, que a disciplina aplicada em um mês, vai restaurar a congregação. O profeta Jeremias, denunciou este tipo de pastor. “curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz, quando não há paz”(Jr. 8.11). Grande parte do povo, admira esse tipo de pastor, pois ele está sempre com um sorriso nos labios, passando a mão na cabeça dos outros e escondendo o pecado do povo.
O segundo tipo de pastor é mais realista – admite haver problemas sérios e promete tomar providências para resolver a situação. Se lhe derem cobertura financeira ele vai contratar cantores famosos, pregadores avivalistas e iniciar campanhas de “libertação para encher o templo, além de mensagens de vitória com um evangelho triunfalista. O perigo é que os passageiros e a tripulação podem acreditar que o Titanic não poderá afundar.
O terceiro tipo de pastor é o de que realmente precisamos. Aquele que descarta o tratamento cosmético e superficial. Aquele que não teme perder amigos e nem fazer inimigos. Aquele que não se deixa intimidar pelo pecado e suas ameaças e nem, é comprado por subornos. Não negocia seu rebanho com políticos em troca de carro, emprego fantasma, tijolos, cimento, pois tem convicção de sua chamada ministerial, verdadeiramente é um homem de Deus e não está a venda. Não é hipócrita ao ponto de bater nos políticos no púlpito da Igreja e na calada da noite, visitar os gabinetes nos palácios para pedir benefícios pessoais.
A Igreja de hoje, necessita de pastores do tipo de Neemias. Ele foi um líder desse tipo, um homem que nos mostra como reconstruir em época de opróbrio.
Neemias foi uma pessoa deslocada, um judeu que vai no palácio de Artaxerxes I, rei da Pérsia. Como copeiro do rei, usufruía prestígio e abundância, autoridade e conforto. Não havia motivo para ele se preocupar com os seus compatriotas em Jerusalém, mas se preocupou. Tão preocupado ficou que procurou saber o que acontecia na Cidade Santa. Essa atitude me parece importante: ele queria enfrentar os fatos honestamente; não tinha medo da verdade.
Um dos problemas atuais é que muitos cristãos na realidade não querem enfrentar os fatos. Vivem num mundo devocional de sonhos, cegos para a verdade e com os ouvidos abertos somente para mensagens que lhes assegurem que tudo vai bem.
Nem tudo vai bem na igreja, não obstante nossas palestras e estatísticas. Precisamos de mais pessoas como Neemias, que se interessem o bastante para indagar, mesmo sabendo que as notícias não serão alvissareiras: “Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo, os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas queimadas a fogo” (Nm 1:3).
Por que deveria Neemias, o braço-direito do rei, preocupar-se com a situação angustiosa de cinquenta mil judeus que viviam a uma distancia de mais de mil e seiscentos quilômetros? E se eles estivessem em angústia e opróbrio? Havia inúmeras razões ou desculpas para que Neemias não se envolvesse.
Para começar, o que podia um único homem, fazer numa situação difícil dessas? Além do mais, era sua a culpa de a cidade ter sido destruída um século e meio atrás? Não. Seus antepassados é que tinham pecado e provocado o julgamento de Deus sobre Jerusalém. Foram eles que rejeitaram as mensagens de Jeremias e outros profetas e persistiram na idolatria. Foram eles que pecaram, e não Neemias e sua geração. Como teria sido fácil Neemias escapar.
Vimos essa atitude “escapista” expressa por inúmeros cristãos quando da eclosão do escândalo da Igreja Renascer. Eles e deles eram as palavras mais usadas na ocasião, apesar de Jesus ter nos ensinado que devemos usar nós e nosso. Ao digo que todos nós deveríamos ser responsabilizados pelo que aconteceu; mas afirmo que não podemos negar a nossa unidade no corpo de Cristo e nossas responsabilidades mútuas. Não importa qual culpados outros possam ter sido, parece insensibilidade manter nos à parte e apontar o dedo.
Neemias preocupou-se o suficiente para indagar e também para se identificar com o seu povo. Assentou-se e chorou!
Will Rogers era conhecido por seu riso, mas também sabia chorar. Certa vez, deu um espetáculo num hospital especializado na reabilitação de vítimas da poliomielite, problemas de coluna e outras sérias deficiências físicas. Todos davam gostosas gargalhadas, até mesmo pacientes em péssima condição de saúde. Repentinamente, porém, Rogers deixou o palco e se dirigiu ao banheiro. Alguém o seguiu para lhe dar uma toalha e, ao abrir a porta, deparou com Will Rogers encostado na parede, soluçando como uma criança. Dentro de poucos minutos, porém, Rogers voltou ao palco, tão jovial quanto antes?
Para saber como alguém realmente é, basta fazer três perguntas: O que o faz rir? O que o torna zangado? O que o faz chorar? Esse teste de caráter é bastante apropriado para os líderes cristãos. Ouço dizer: “Precisamos de líderes irados!” ou “É hora do cristianismo militante!” Talvez, mas “a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tg 1:20).
O de que precisamos atualmente não é de ira mas de angústia, o tipo de angústia que Moisés sentiu quando quebrou as tábuas da lei e depois subiu ao monte para interceder pelo seu povo, ou a que Jesus sentiu quando purificou o templo e quando chorou pela cidade. A diferença entre ira e angústia é um coração partido. É fácil ficar irado considerar o pecado, inclusive o nosso, e chorar por ele.
Por que Neemias chorou? Não porque a cidade dos seus pais estava em ruínas, mas porque o Deus dos seus pais servia de opróbrio perante o inimigo. A preocupação de Neemias era pela glória do Senhor, não apenas pelo bem-estar do povo. Lamentou-se e chorou; jejuou e orou. A sua identificação com o estado trágico de Jerusalém foi tão intensa que a tristeza estampou-se em seu rosto, e o rei a percebeu.
Imagino quantos de nós nos assentamos e choramos quando sabemos que um líder cristãos pecou ou um ministério fracassou? Imagino quantos de nós nos lamentamos quando vemos a mídia exultar às custas da igreja? Quando alguém fracassa, muitos de nós em posição de liderança apressamo-nos a proteger nosso nome ministério e nos esquecemos de que é o nome de Deus que tem de ser glorificado. Em vez de nos identificarmos com a situação aflitiva, na maioria das vezes afastamo-nos dela.
Neemias identificou-se não somente com a vergonha e com o sofrimento, mas também como pecado dos seus antecessores. “Faço confissão pelos pecados... que temos cometido contra ti”, disse ao Senhor. “Temos procedido de todo corruptamente contra ti” (Nm 1.6-7). Note o pronome: nós e não eles. Embora certamente não aprovemos o que alguns líderes do PTL têm sido acusados de praticar, tampouco endossamos a atitude farisaica de muitos crentes, ao ouvirem as más notícias. Existe alguma igreja ou ministério paraeclesiástico sem mancha? Mesmo que os nossos ministérios sejam perfeitos para a glória de Deus, devemos nós endurecer o coração de tal modo que não possamos assentar-nos e chorar com os que choram?
Neemias preocupou-se a ponto de indagar, identificar-se e interceder. Depois de assentar-se e chorar, ajoelhou-se e orou. Geralmente pensamos em Neemias como um executivo exemplar, um homem de ação; mas ele era também um homem de oração. Seu livro traz pelo menos onze incidentes de orações. O líder que sabe orar conhecerá a vontade de Deus a seu respeito.
Neemias 1:5-11 é o registro de uma oração realmente importante, o tipo da oração de que podemos apropriar-se pois atinge as nossas necessidades básicas. Ela contém a intercessão com base no caráter de Deus (“Ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande temível!”) e na sua aliança de Deus, Neemias confessou os seus pecados e os do povo e clamou pelo perdão de Deus.
Se houver um escândalo evangélico novamente, imagino o que aconteceria se nós, os líderes da evangelização eletrônica, nos ajoelhássemos juntos em oração, não apenas pelo nosso ministério ameaçado, mas por todo o povo de Deus? Será que poderíamos convocar uma grande reunião de oração e convidar outros ministérios, pastores e igrejas a que se unissem conosco na confissão de pecados e na procura da face de Deus? É certo que muitos de nós temos orado em particular e ainda estamos orando; mas talvez o impacto tivesse sido maior se, em conjunto, tivéssemos orado e confessado os nossos pecados.
A oração de Neemias foi mais do que confissão. Foi também uma oração de consagração, pois ele se pôs à disposição do Senhor para o que fosse necessário. Nós realmente não estamos orando pela fé, a menos que estejamos dispostos a ser parte da resposta. “Ora, áquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós. Não era o caso de: “Eis-me-aqui – envia o meu irmão!” Era: “Eis-me-aqui, Senhor, envia-me a mim!”
Essa atitude de consagração leva-nos à etapa final da experiência de Neemias: ele preocupou-se a ponto de participar. Indagou e inquiriu, assentou-se e chorou, ajoelhou-se e orou, depois levantou-se e trabalhou. Era um homem de coração partido, um homem de oração de fé, um homem de mãos ocupadas; justamente o que é preciso para reconstruir num dia de opróbrio.
Esquecemo-nos ás vezes de que Neemias pagou um altíssimo preço pela sua participação. Trocou o luxo e a segurança do palácio pelas ruínas e perigos de Jerusalém. Sacrificou a honra e a tranqüilidade pelo ridículo e labor. Em cinqüenta e dois dias, removeu os escombros, reconstruiu os muros e restaurou as porta de Jerusalém, tarefas que o inimigo julgara impossíveis. Baruch Há Shem!

Nenhum comentário: