quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A Febre de Apóstolos


No mês de julho, de 2004, estive participando com muita tristeza da cerimônia fúnebre do Pastor Gentil Medeiros em Armação dos Búzios, que foi sepultado no cemitério da Praia dos Ossos. Durante nosso retorno pela orla Bardot, reencontramos um pastor pentecostal, após mais de vinte anos acompanhado de seu filho, que eu conheçi criança.
Depois de abraços e lembranças dos amigos que partiram para a Glória, contou-me que estava participando da Rede de Apóstolos.
Agora havia se encontrado verdadeiramente no Reino de Deus. Desde criança, ele sabia que possuía uma chamada especial para fundar Igrejas e Ministérios evangelísticos.
Surpreso, perguntei-lhe o tamanho da Igreja fundada após quase vinte anos, com sua saída das Assembléias de Deus – Ministério de Madureira?
-Calmamente, respondeu-me: não tenho o número exato de ovelhas!
Diante daquele que outrora, foi um grande ganhador de almas para Cristo, eu contemplava um ministro, acometido pelo Febre dos Apóstolos, uma nova epidemia que surgiu nos Estados Unidos e agora se espalhou na Igreja Evangélica Brasileira, influenciando pastores a trocarem de títulos.
Daqui a alguns anos, caso não venha acabar esse modismo, ninguém mais vai querer ser consagrado ao ministério da Palavra, na função de Pastor. Como também, após à banalização do título de apóstolo, surgirão os Super-Apóstolos, a categoria mais elevada da Igreja de Cristo na face da Terra. Será?
Analisando o perfil bíblico dos 12 discípulos de Cristo, observamos que eles pagaram com a própria vida pelo estabelecimento da Igreja de Jesus e o seu reino de paz e amor sobre o mundo.
Conquanto respeitados, amados e profundamente admirados por sua ação pastoral e evangelística, os doze apóstolos eram vistos pela igreja primitiva apenas com irmãos de fé e cooperadores na missão de espalhar as Boas Novas. A origem humilde fez deles indivíduos perfeitamente identificados com o cidadão simples da época, ao qual se dirigia a mensagem salvífica. Além disso, a autoridade dos apóstolos repousava basicamente sobre a unção do Espírito Santo e não sobre qualquer formação catedrática que os tornassem expoentes teológicos ou fundadores de denominações.
O Concílio de Jerusalém (50 AD), foi sem dúvida um bom exemplo da autoridade dos apóstolos, enquanto colunas da Igreja (Gl 2.9). Entretanto muito pouco ou quase nada ouviu-se deles, coletivamente se falando, a partir de então. A história não registra qualquer outro pronunciamento conjunto dos doze com respeito a assuntos de interesse geral da igreja, como formas de governo eclesiásticos, refutações a heresias, apologia da fé cristã ou questões de cunho social.
Organizações eclesiásticas burocratizadas e teologicamente complexas, que foram se estabelecendo com o passar do tempo, revelaram-se totalmente divorciadas da prática espiritual desses varões que, de maneira modesta, edificavam suas congregações, fundamentadas num poderoso testemunho do evangelho.
A história dos apóstolos é, portanto, a história de humildes pregadores e não de célebres pensadores ou renomados teólogos ou até mesmo fundadores de denominações. Talvez por isso saibamos tão pouco sobre suas práticas evangelísticas e os milagres acontecidos, desde a dispersão da Igreja de Jerusalém. Baruch Há Shem!

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