quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A importância de ouvir Deus


Semana passada em meu périplo pelas igrejas da região, fui convidado a participar de dois eventos importantes. O primeiro foi um Seminário Bíblico sobre o movimento G12, tendo como preletor o Pr. Paulo César Lima(foto), escritor e eminente teólogo pentecostal, presidente das Assembléias de Deus em Jardim Primavera – Duque de Caxias RJ, membro permanente do Conselho de Ensino e Doutrina do CGADB – Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, que abordando a prática comum dos pregadores pentecostais utilizarem as palavras fogo, óleo, vento para levarem o povo a uma catarse coletiva, como se fosse uma hipnose em massa. Ao invés de pregarem apenas a genuína Escrituras Sagradas. Já na outra Igreja, foi realizado um Congresso de Homens, onde um jovem evangelista, berrava no microfone conclamando o povo a glorificar à Deus e a entrar no mistério do sapateado, após declarar que Jesus não quer na sua Igreja, pastores com cara de delegado de polícia ou cara de múmia. O final do culto, previsto aconteceu a luz da experiência: Não houve nenhuma conversão declarada, nenhuma cura, tão pouco o natural batismo com o Espírito Santo nos cultos pentecostais.
Retornei para minha casa com dor de cabeça e fazendo a pergunta: Será que Deus é surdo, porque alguns pregadores necessitem berrar o nome de Deus? Ou Será que não damos a devida importância a ouvir apenas a voz de Deus?
O Pr. Osmar Ludovico da Comunidade de Cristo em Curitiba (PR), escrevendo sobre a importância de ouvir à voz de Deus em nossas igrejas, fato que está se tornando raro, ainda que o ouvido humano é um órgão maravilhoso. Compõe-se do ouvido externo, um pavilhão em forma de concha que recebe os sons, e do ouvido médio, do qual fazem parte o tímpano e a trompa de Eustáquio. Estes transmitem vibrações sonoras para três ossinhos: o martelo, a bigorna e o estribo que, por sua vez, vibram e transmitem essa mensagem para o labirinto ósseo e membranoso, cuja função é manter o equilíbrio do corpo. Aí estão, também, milhares de células sintonizadas em diferentes sons que são amplificados e enviados ao cérebro através de uma pulsação elétrica. O cérebro descodifica e interpreta, e assim podemos ouvir.
Vivemos imersos no ativismo, na agitação e somos falastrões compulsivos. O temor de nos sentirmos abandonados nos aterroriza e assim nos cercamos de muitos ruídos e de muitos estímulos nos quais nos refugiamos. Há pouco espaço para o silêncio nas nossas igrejas e em nossas casas. Nossa capacidade de escuta é afetada pelo constante barulho ao nosso redor. Quanto mais tagarelice e barulho menos podemos ouvir.

A quem devemos ouvir?
Em primeiro lugar, a Deus. Dar ouvidos à voz de Deus, é um tema constante nas Escrituras, e a dureza de coração significa a incapacidade de ouvir a Palavra. Ouvir a Deus com a mente e o coração, com razão e os sentimentos. Deixar-se penetrar pela Palavra transformadora. Qual a semente que cai no solo para fertilizar-se e dar fruto, tal é a Palavra de Deus que cai no nosso coração. A terra é húmus que deu a palavra humildade. Quieta, sem chamar a atenção, pisada, não notada, mas pronta para acolher no profundo e no escuro, e no devido tempo dar o seu fruto. Quando foi a última vez que escolhemos acolher a Palavra e, como Maria, nos colocamos silenciosamente aos pés de Cristo para ouvi-lo? A capacidade de ouvir a Deus está relacionada com a qualidade da nossa vida devocional. Ler a Palavra, recebe-la e aplica-la na vida cotidiana é uma graça, um favor imerecido e ao mesmo tempo uma disciplina a ser desenvolvida. Uma graça, pois depende da revelação de Deus e não pode se tornar uma técnica. Uma disciplina, pois requer de nós uma escolha, um exercício no tempo (horário predeterminado) e no espaço (lugar propício).
Em segundo lugar, devemos ouvir uns aos outros. A comunhão depende de comunicação. Ouvir e ser ouvido cria a comunidade. Os legítimos conflitos surgem quando não ouço e não sou ouvido. Os relacionamentos desmoronam pela nossa incapacidade de escuta uns dos outros. Esta é uma queixa comum na família, de esposas, maridos e filhos: “Não sou ouvido, na sou compreendido, não sou respeitado.” Ouvir negligentemente gera mal-entendido. Em vez de acolher, debatemos; em vês de ouvir, discutimos. Alteramos nosso tom de voz, gritamos. Enquanto o outro fala, pensamos na resposta, e uma conversa vira bate-boca. Reconciliar e pacificar significa levar duas pessoas a ouvirem uma à outra. Quando realmente ouvimos a narrativa do outro com nossas entranhas não podemos deixar de nos identificar com a sua humanidade, passamos a entender o seu mundo e então podemos chorar com os que choram e nos alegrar com os que se alegram. Onde há escuta podemos nos expor e contar quem somos na certeza de que o outro nos ouve empaticamente e se identifica conosco. A controvérsias teológica e a maledicência revelam mentes estereotipadas, fechadas, avessas ao diálogo e a transparência, o medo de chegar perto do outro, a dificuldade de discernir a fraternidade, enfim, de encontrar o irmão e perceber que somos membros do mesmo corpo. Quando existe um contexto de escuta, as máscaras caem, aprendemos a nos respeitar mutuamente validando e considerando a história e a singularidade de cada um.
Finalmente, somos chamados a ouvir o mundo lá fora. Comecemos por reconhecer que muitos de nós, crentes, vivemos alienados numa bolha protetora. Não ouvimos o clamor do mundo, ao contrário, ouvimos passivamente a mídia com sua mensagem consumista que nos acomoda e anestesia. Nós nos tornamos surdos aos inúmeros clamores do mundo. Só quando ouvimos entramos em contato com o mundo tal qual ele é, nos identificamos e compreendemos o drama do homem e da mulher sem Deus, ouvimos suas indagações, suas dores e então podemos falar de um Evangelho que vão ao encontro de suas necessidades. Esse é o princípio da Encarnação. Ouvimos não somente o clamor dos perdidos, mas também o clamor dos pobres.
Só há uma pessoa a quem devemos recusar ouvir: o diabo. Este foi erro de Adão e Eva: em vez de ouvir a Deus ouviram o diabo. Para terminar eu diria que, para cumprir o grande mandamento, precisamos aprender a melhor ouvir a Deus e uns aos outros, pois ouvir enfaticamente é uma profunda expressão de amor. Baruch Há Shem!

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