sábado, 21 de junho de 2008

Expulso de casa


Um líder que não precisa prestar contas a ninguém, caminha perto demais da beira do precipício - Charles Swindoll

Minha rotina de trabalho na redação dos jornais Agora e Folha Evangélica começa com a leitura dos e-mails a cada manhã. Foi onde recebi um convite de um jovem entusiasta pelo evangelismo, que tinha o desejo latente de ganhar sua comunidade para Cristo. Durante meses, ele havia planejado uma festividade que atraísse a juventude para ouvir a mensagem do amor de Deus. Foram muitos os preparativos em comum acordo com o dirigente da congregação, jovem como ele, e também um apaixonado pelo Evangelho de Cristo. O grande dia chegou, nosso discípulo de Billy Graham, fez tudo como manda os manuais para organização, partilhou a visão com os demais jovens, levantou patrocínio no comércio, pediu ajuda ao corpo de obreiros locais, convidou pregadores e grupos musicais, escolheu o tema depois de muito orar, enfim, estava tudo preparado para cumprir a grande comissão determinada pelo Senhor da Igreja, aquele que derramou seu sangue no madeiro. Enfim, o dia de, teve início, com o desembarque das tropas celestiais na praça. Os instrumentos da guerra espiritual foram preparados. A espada penetrante foi apresentada e mais uma batalha não contra a carne, tão pouco contra o sangue foi vencida para a Glória do Nome que é sobre todos os nomes. Após a luta vitoriosa, veio o momento de agradecimento para o Senhor dos Exércitos. A Ele toda honra e glória. Passado algum tempo, nosso novel evangelista, foi convocado para uma nova reunião com o sumo sacerdote, onde literalmente foi expulso da Casa de Deus, por questionar a falta de transparência na aplicação dos dízimos e ofertas na Obra do Senhor. O Sumo Sacerdote com arrogância despótica declarou: Não tenho que prestar contra a ninguém, a porta da rua é a serventia da casa, para quem não estiver satisfeito. Machucado, vulnerável e sem esperança, nosso jovem evangelista foi expulso de sua própria casa. Ele que veio do mundo para a Igreja, do pecado para a graça, das trevas para a luz.Aquele jovem idealista não foi vítima de um grupo ocultista ou satanista. Ele se tornou mais uma vítima de uma igreja. Uma igreja cristã, onde o tratamento dado pelo líder e seus discípulos, era de arrepiar os cabelos. Aquele jovem fora vítima de abuso emocional e espiritual muito sério.
Seu desejo de transparência fora violada, sua personalidade ultrajada, seu relacionamento abalado, seu ministério evangelístico destruído. A autoridade espiritual tinha sido usada para intimida-lo e ele tinha sido tratado como rebelde porque não fizera o que lhe fora ordenado, entregar o dízimo sem questionamento quanto a sua real e verdadeira aplicação. Ele havia desistido de tudo para servir a Deus que ele amava e terminou sendo expulso da casa que ele mesmo ajudara a construir. Tudo em nome de um Deus que enviou seu filho para que seu povo pudesse desfrutar de liberdade.
Conta-se que certa vez, um jornalista ao entrevistar Gandhi, perguntou-lhe qual seria o maior inimigo do cristianismo na Índia e calmamente ele respondeu: os cristãos.
Infelizmente, o mesmo pode ser dito de muitos outros líderes de igrejas, que se consideram os donos da Igreja de Cristo e as ovelhas suas propriedades. Há fatos que comprovam que muitos jovens tem sido esmagados, maltratados e ignorados, na frenética corrida para ver o Reino de Deus sendo implantado, como bem declarou o jornalista inglês Clelard Thom, em seu livro: “Moisés, a formação de um líder”.
Podemos ser pastores, líderes de departamentos, professores da Escola Dominical e nos Seminários Teológicos, mas Deus é o pastor do seu povo.
Hoje em dia, tornou-se comum, pastores se referirem a “minha igreja” ou “eu tenho 200 pessoas na minha igreja”. O povo de Deus, pertence a Deus, e somente a Deus. Se reconhecermos que as ovelhas pertencem a Deus, desenvolveremos o senso de responsabilidade, precaução e segurança, que nunca atropelará a vontade das pessoas, nem negará a sua liberdade de escolha.
Gene Edwards declara em seu famoso livro O Perfil de Três Reis: “Homens que defendem arduamente sua autoridade não tem autoridade nenhuma. Pastores que fazem discursos sobre submissão carina das ovelhas, revelam um duplo temor em seus corações: eles não tem certeza de serem verdadeiros líderes, enviados por Deus para apascentar o rebanho.
O saudoso pastor Enock Alberto da Silva, durante mais de 40 anos estabeleceu cerca de 105 templos na Região dos Lagos. Alagoano de origem e barbeiro de profissão, nunca foi um pregador eloqüente e tão pouco um mestre no ensino da Palavra. Contudo, uma característica marcante do seu ministério pastoral, estava na autoridade espiritual. Todas as vezes, que ele adentrava em um templo para cultuar a Deus, o povo se levantava em respeito a sua autoridade e unção. Ele não precisava dizer para ninguém, que ele era o anjo da Igreja de maneira autoritária. As ovelhas conheciam a voz do seu pastor e lhe respeitavam e amavam, pois ele reconhecia que as ovelhas pertenciam a Deus, assim como Jesus, declarou: “Eram teus, tu nos confiaste” (Jo 17).

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