domingo, 8 de junho de 2008

Santos Evangélicos



Recentemente ao sair de um templo após participar de um culto de posse, recebi o título de Pastor da Câmara, em referência aos cultos realizados nas dependências da Câmara Municipal pela Associação de Pastores Pentecostais. A titulação em caráter pejorativo, me fez refletir sobre o preconceito em relação aos políticos e a objeção por parte de alguns líderes em realizar cultos especiais no parlamento municipal, como se os homens públicos não pudessem ser alcançados pela Graça e misericórdia de Deus.
Meditando na Palavra ao chegar em casa, descobri a respeito do fato de que muitas vezes as maiores expressões de fé, solidariedade humana, sede de Deus e sensibilidade à Palavra, vêm daqueles que não estão "dentro" das catedrais. Observamos também que os mais fortes exemplos relacionados no Novo Testamento foram aqueles cujos principais testemunhos de fé foram manifestos por "pessoas de fora", ou seja os gentios.
Ao pregar a Palavra em uma congregação Pentecostal recém fundada, também fui procurado por líderes do meu segmento, que lançaram acusações aleivosas sobre a congregação e sua liderança, por não possuírem uma carteira pastoral, como se um cartão ou Diploma desse autoridade do Espírito para alguém pregar a Palavra. Ao final desse diálogo, o irmão me perguntou: "Porque será que Deus abençoa o trabalho desses líderes? Algumas pessoas ficam realmente agitadas e incomodadas com o fato de que certos obreiros sem formação teológica ortodoxas prósperas mais do que os de outros tidos como teólogos. Analisando os Evangelhos, percebemos que o preconceito existia também em relação a Cristo: "Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não estão aqui conosco, as sua irmãs? E escandalizavam-se nele". Marcos 6.3.
Natanael também perguntou se havia alguma coisa boa de Nazaré? João 1.46.
Não há dúvida de que este é um assunto bastante interessante e que merece nossa reflexão. O que eu tenho dito basicamente as pessoas que me questionam a esse respeito é o seguinte:
1- Eu não me sinto nem um pouco a vontade para julgar quem quer que seja. Paulo nos recomenda a não julgar o servo de outro. Ele diz que cada um será julgado pelo Senhor e só por Ele. Ora, diante disso eu evito o máximo possível emitir julgamentos contra quem quer que seja. Há muita coisa má, vestida com aparência de piedade. Do mesmo modo, há muita coisa essencialmente boa mais que está por ingenuídade ou circunstâncias adversas coberta pela aparência de algo mal. A vida de Jesus esteve sempre repleta dessa ambigüidade. É por isso que ele é chamado muito freqüentemente dos nomes os mais variados e comprometedores: "endemoniado", "samaritano possesso", "glutão e bebedor de vinho", "embusteiro", etc... Sendo assim, quando o comportamento de alguém é escandaloso, o que faço é obedecer o critério dos evangelhos de conversar com um irmão sobre o assunto pessoalmente. Caso isso me seja impossível, prefiro me recolher em oração em favor da "volta daquele irmão a sensatez"
2- Quando vejo pessoas controvertidas moral e eticamente falando sendo aparentemente "usadas" por Deus, sempre tento fazer as seguintes distinções:
2.1- Faço distinção entre o manifestador do Dom daquele que é o seu beneficiário. Ou seja, se o senhor X do H prega e dona M do Y é salva, eu nunca relaciono isso ao fato de que o senhor X do H pregou com poder, mais sim, ao fato de que Deus ama dona M do Y e usou a palavra da salvação para alcança-la. Neste caso, o senhor X do H não tem nada a ver com o fato da salvação, o qual, aconteceu, entre o Espírito Santo e dona M do Y.
2.2- Faço distinção entre o pregador da palavra e a palavra pregada. digo isto porque uma leitura superficial da Bíblia nos mostra que mesmo os mais estranhos, esquisitos e heterodoxos indivíduos, foram usados por Deus. Assim é que Balaão não tinha uma teologia correta e nem práticas espirituais sadias, no entanto foi portador da Palavra de Deus para Abalaque. O mesmo se pode dizer de vários outros, inclusive no contexto do Novo Testamento.
2.3- Faço distinção entre o Dom e operador humano do milagre. Na mente da maioria de nós a lógica é mais ou menos a seguinte: "Ora, se o senhor X do H prega ou ora e milagres acontece, ou profetiza e as coisas acontece então é porque autenticam a vida moral do senhor X do H e, conseqüentemente, devem fazer com que eu creia nele como sendo homem santo de Deus". Minha lógica, no entanto, é diferente. Eu sempre penso que se o sr. X do H está pregando o Nome daquele que é o Deus que De-fato-Existe e que ele (o sr. X do H) está comunicando isso de tal maneira que muita gente está podendo entender e crer. Assim, minha conclusão é: "O sr. X do H comunica bem e faz isso com intensidade e clareza. Quanto aos milagres são resultados do fato de que o Nome tem poder em si mesmo".
Ora, todas essas distinções têm suporte bíblico. Afinal, foi Jesus quem nos ensinou a tê-las em mente quando disse:
"Nem todo aquele que me diz "Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus, mas sim, aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres? Então, sem rodeios, eu lhes direi: "Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, cós que praticais a iniquidade".
Nesta passagem tais distinções são mais que claras. Se não observe:
a) pode-se Ter teologia ortodoxo ("Senhor, Senhor") e não se Ter vida limpa e de acordo com a vontade de Deus;
b) pode-se Ter ministério carismáticamente poderoso e não se Ter vida pautada na vontade santa de Deus;
c) pode-se conhecer o poder do Nome de Jesus e pregar com ousadia neste Nome, sem que, todavia, o Senhor a quem se prega.
3. pelo fato de eu mesmo ser uma pessoa que muita gente vê com certa admiração e pelo fato de que eu me vejo a mim mesmo sem muita admiração, isso me ajuda imensamente a não Ter mitos humanos ou santos especiais nos meus altares psicológicos. Em outras palavras: se há muita gente que tem a tendência de me "ver além do que sou e de me considerar além do devido" então, o mesmo é verdade com muitas outras pessoas também consideradas especialíssimas. A diferença, talvez, esteja no fato de que eu me preocupo com o fato de "expor" afim de tentar fazer com que ninguém me super-estime, ao passo que outros que se ocupam em se esconder a fim de que sejam super-estimados ou mesmo idolatrados. Mas como para mim mesmo, eu, você, ou qualquer outro santo, sejamos todos feitos do mesmo barro, então, em geral, eu nunca fico muito impressionado com ninguém ou com coisa alguma. Eu tento guardar todas as minhas impressões para Jesus e sua misericórdia. Não tenho santos de devoção.
Minha esperança ao escrever estas coisas é no sentido de encorajar você a Ter sua mente bem fixa no Senhor Jesus. Se assim acontecer, você jamais será do tipo que desenvolve devoção pessoal por certos santos evangélicos, bem como, também não será daqueles que ficam perplexos pelo fato de que certas pessoas de conduta questionável possam estar sendo "usadas" por Deus.
Deus usa a quem quer e como quer. Quanto a mim, fico silencioso diante do inexcrutável mistério de sua insondável vontade.

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