segunda-feira, 23 de junho de 2008

Heroínas Anônimas


No início do meu ministério pastoral na congregação da Assembléia de Deus no Palmital em Rio das Ostras, sempre que tinha o dever de ministrar no culto de ensino doutrinário as sextas-feiras, ficava meio que triste e desanimado, pela freqüência reduzida dos crentes locais. Quem nunca perdia um estudo bíblico, mesmo estando chovendo torrencialmente, era a irmã Maria Pinheiro, com sua cabeça branca e as tranças compridas, viúva de idade avançada, que morava bem longe da congregação, porém nunca desanimava em estar na Casa de Deus, sua companheira de caminhada de fé, era outra anciã de mais de 80 anos, a irmã Antônia Pinto, também viúva, membro fundadora do trabalho pentecostal com 40 anos de orações ininterruptas como se fosse Ana no templo de Jerusalém.
Aquelas mulheres, com sua perseverança me ensinaram muito com seus exemplos de vida, como verdadeiras heroínas da fé cristã, coisas que você não aprende no Seminário Teológico. Quando dobravam os joelhos atrás do púlpito, pedindo graça e sabedoria a Deus para continuar cuidando do pequeno rebanho, ficava imaginando, quantos pastores naquele exato momento, também não estavam suplicando ao Senhor da Igreja, meios para atrair o povo para os cultos.
No período em que estive naquela humilde congregação, “Escola de Profetas” para muitos que por ali passaram, descobri que os verdadeiros heróis da fé, não possuem livros escritos. Não possuem seus nomes como manchetes de jornais. Não gravaram CDs e DVDs, tão pouco atraem multidões. Muitos não possuem o doutorado em Teologia. Muitos não tem conhecimento pleno da Palavra do Senhor, por não saberem ler, mas quando oram, o Senhor responde. Sabe por quê? Pois essas heroínas, conhecem e possuem intimidade com o Senhor da Palavra. Conta-se que na História do Cristianismo que um reavivamento começou com um sermão.
A história o comprova. John Egglen jamais pregara um sermão em sua vida. Nunca.
Não significa que ele não o quisesse fazer, apenas nunca precisara. Mas, certa manhã o fez. A neve deixou sua cidade, Colchester, na Inglaterra, completamente branca. Ao acordar naquele domingo, em janeiro de 1850, pensou em ficar em casa. Quem iria à igreja com aquele tempo?
Então, reconsiderou. Além dos mais, ele era o diácono. E se os diáconos não fossem, quem iria? Então, calçou as botas, colocou o chapéu e andou quase dez quilômetros até à Igreja Metodista. Ele não foi o único membro que pensou em ficar dentro de casa. Apenas 13 pessoas compareceram. Doze membros e um visitante. Até o pastor ficou impedido pela neve. Alguém sugeriu que voltassem para suas casas. Egglen não lhe deu ouvidos. Eles vieram de tão longe, então realizariam o culto. Além do mais, havia um visitante. Um garoto de 13 anos.
Quem pregaria? Pelo fato de Egglen ser o único diácono, estava com a palavra.
E assim pregou. Seu sermão durou apenas dez minutos. Ele vagueou e não foi o objetivo na tentativa de abordar os vários pontos. Mas, ao final, uma coragem não característica de sua personalidade aflorou. Egglen dirigiu seu olhar diretamente para o garoto e o desafiou.
- Jovem, olhe para Jesus! Olhe! Olhe! Olhe!
O desafio causou alguma diferença? Deixe que o garoto, agora um homem, responda.
- Olhei, e então a nuvem do meu coração se dissipou, as trevas foram embora e naquele momento pude ver o Sol.
O nome do garoto? Charles Haddon Spurgeon. Príncipe inglês dos pregadores.
Egglen sabia o que estava fazendo? Não.
Os heróis sabem quando agem de maneira heróica? Raramente.
Os momentos históricos são reconhecidos quando acontecem?
Você sabe a resposta. (Caso não saiba, uma visita à manjedoura refrescará sua memória).
Raramente reconhecemos a História quando ela está ocorrendo, e igualmente os heróis. O que pode também acontecer é confundirmos ambos.
Mas façamos o possível para manter nossos olhos abertos. O Spurgeon de amanhã pode estar cortando a sua grama. E o herói que o inspirará pode estar mais próximo do que imagina.
Ele pode estar em seu espelho.

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