Durante dois anos estive pastoreando uma pequena congregação em um bairro de Rio das Ostras, chamado Palmital, porem nunca encontrei nenhum palmito. Semana após semana, saia correndo do meu trabalho secular, para assumir o púlpito e levar o povo a adorar o Senhor Deus. Muitas vezes, estudava os textos Bíblicos na condução e dobrava os joelhos pedindo graça e misericórdia quando chegava ao templo. Aprendi no seminário teológico, que a uma distinção entre o que os pastores fazem aos domingos e o que nos fazemos no intervalo entre os domingos.
O que fazemos aos domingos não mudou realmente através dos séculos: proclamar o Evangelho, ensinar as Escrituras, celebrar os Sacramentos, oferecer orações. Contudo, percebo que algo mudou radicalmente e para alguns, o pleno exercício do púlpito, tornou-se uma deserção ou ate mesmo uma provação. Tem contemplado em inúmeras congregações por onde tenho passado para pregar a Palavra de Deus, que diversos pastores não permanecem muito tempo no púlpito, e geralmente gastam todo seu tempo pastoral nos cultos de domingo no gabinete, resolvendo problemas administrativos, buscando e estudando técnicas de crescimento do rebanho, aumento de receita, convite para cantores e pregadores famosos etc...
O que mudou na historia da igreja? Antes a congregação se reunia para adorar ao Senhor e o pastor buscava descobrir o significado da Palavra, desenvolvendo uma vida de oração em santidade e crescendo na comunhão. Havia proclamação das Boas Novas com a simplicidade do evangelho puro, sem técnicas de marketing. O objetivo final de cada culto alem da adoração a Deus estava na cura de almas, por ser a essência da personalidade humana. Porem , neste século nossa função, de maneira apressada, como se fossemos pastores Fast- food, tem sido apenas dirigir uma igreja- enquanto pernamecermos com um Espírito de competitividade, alimentando o rebanho com sermões pré-fabricados, pelo que recebemos da igreja e não por amor as almas perdidas, estaremos personificando pastores se sermos verdadeiros pastores, mesmo você recebendo os aplausos, admiração e respeito de suas ovelhas. Existe no meio evangélico, muitos pastores que estão fingindo serem pastores, por conta do status, prestigio na sociedade, ganhos financeiros, vantagens políticas quando negociam os votos das ovelhas, entre outras coisas. Existe aqueles, que também não possuem certeza de sua chamada pastoral, e sentem-se ameaçados por outros obreiros mais jovens e preparados, e adquirem a síndrome de Saul, alimentada pelo ciúme, inveja e ódio, como também, existem aqueles que se adaptam as necessidades da comunidade local, preenchendo o papel de maneira circunstancial. A escritora inglesa Anne Tyler, escreveu o romance chamado “ A Passagem de Morgan” onde ela conta a historia de um homem de meia idade que passava pela vida das pessoas com extraordinária auto-confiança e habilidade para assumir papeis e satisfazer as expectativas. O romance começa com Morgan observando um espetáculo de marionete no gramado de uma igreja na tarde de domingo. Alguns minutos depois de iniciado o espetáculo, um jovem surge de traz do palco e pergunta: “ Há um medico aqui?” . Após 30 segundos sem que houvesse uma resposta da audiência, Morgan se levante devagar, e deliberadamente aproxima-se do jovem e pergunta “ Qual o problema?”. A esposa grávida do encarregado, esta em trabalho de parto; o nascimento parece iminente. Morgan coloca o jovem casal na parte de traz de sua caminhonete e vai para o hospital. Na metade do caminho, o marido exclama: o neném esta chegando!
Morgan, calmo e confiante para junto a calçada, manda o futuro pai comprar um jornal de domingo na banca, como substituto das toalhas e lençóis, e faz o parto. Depois vai ate o pronto socorro do hospital, vê a mão e a criança colocadas com segurança numa maca e desaparece. Quando o alvoroço diminui, o casal pergunta pelo Dr.Morgan para agradecer, mais ninguém ouviu falar dele. Os dois ficam perplexos e frustrados por não poderem expressar a sua gratidão. Vários meses mais tarde, enquanto empurravam o carinho da criança, viram Dr.Morgam do outro lado da rua. Os dois correm para complementá-los mostrando-lhe a criança sadia que ele trouxe ao mundo. Contam como tinham feito tudo para encontrá-lo e falam da incompetência burocrática em descobri-lo. Num surto pouco costumeiro de sinceridade, ele admite que não é verdadeiramente um medico. Na verdade, e dono de uma mercearia. Mais, eles precisavam de um medico e fazer esse papel naquelas circunstâncias não foi nada difícil. É uma imagem, diz ele: Você discerne o que as pessoas esperam e se ajusta ao papel. Pode fazer isso com todas as profissões. A seguir confidencia: “ Vocês sabem, eu nunca me prestaria a me fingir de encanador ou açougueiro, seria apanhado em 20 minutos.
Essa historia nos ensina que podemos personificar um pastor sem ser pastor, um cristão sem ser cristão. Porem nunca conseguiremos enganar a Deus.
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