sábado, 24 de maio de 2008

Eu, também tenho um sonho


A ciência explica que o homem e o único ser que sonha. A Bíblia afirma que um escravo chamado José sonhou e chegou a posição de governador do Egito, tornando-se o segundo de Faraó. Na História da Igreja Cristã, aprendemos que todos os homens usados poderosamente por Deus, também sonharam e tiveram seus sonhos concretizados, mesmo sendo após suas mortes. Martin Luther King um ícone da cultura americana na luta pelos direitos civis, começou a sonhar no púlpito da Igreja Batista Ebenézer na Geórgia e como legado, para a História da Humanidade, declarou: "Eu tenho um sonho". Em nossa humilde congregação no bairro rural do Palmital, desde o dia 22 de outubro se 2004, também acalentamos um sonho. Em nossa simples Associação de Pastores Pentecostais, formada na sua essência de pastores simples, sem grandes formação acadêmica e teológica, contudo, com os corações cheios de amor pelas almas perdidas, e os olhos repletos de brilho do Espírito Santo, também sonhamos alto. Contudo, quando olho para a novel igreja evangélica riostrense e seu povo tenho um sentimento às vezes contraditoriais, as vezes de alegrias pelas vitórias, e acertos e em outros momentos de tristeza, e pelos desacertos e divisões, que compõem também o fundo histórico dos evangélico em nossa região.

Nestes momentos, alguns referencias vêem a minha mente e uma pergunta objetiva se apresenta: como deveria ser o povo evangélico riostrense ? Na seqüência, gostaria de falar um pouco de como sonho ver este povo.

1) Comprometido com a Palavra de Deus

O povo evangélico riostrense, deveria ter seu primeiro compromisso com a Palavra. A Palavra encarnada na pessoa de Jesus Cristo. Ele é a Palavra viva, eficaz e transformadora. Esta Palavra cria vida e transforma a morte em vida.

O que tenho notado muito, é que reina uma confusão entre Palavra e letra é o meio através do qual encontramos a Palavra. Mas ela não é a Palavra. A letra pode matar. Jesus não poupou críticas e censuras aos que "jeitosamente" distorciam a Palavra a favor de sua letra. A letra como determinantes ou condicionante cultural, época da Palavra (Veja Mc 7; Mt 15;23) tem causado confusão, distorção e levado à hipocrisia.

O Sermão da Montanha (Mt5-7) mostra como Jesus extrai a verdadeira Palavra escondida nas letras antigas. Do embrulho das tradições passadas, Jesus extrai o verdadeiro ensinamento de Deus.

Assim como Jesus, o povo evangélico tem a responsabilidade de distinguir entre Palavra e letra. Urge darmos mais atenção à Palavra do que as letras. As letras constróem denominações; a Palavra edifica a Igreja. As letras estão eivadas de ideologias e "teologia", a Palavra compromete com o Reino de Deus. As letras constróem monumentos e heróis; a Palavra cria comunidades. A letra projeta o futuro do Reino para o Além; a Palavra almeja pelo futuro do Reino no momento presente. A letra espera pelo futuro; a Palavra encarna e celebra o futuro com gemidos e ações de graças...

2) Compromisso com as ações de Jesus

Há muitas maneiras de ler e estudar o Evangelho de Jesus. Pessoalmente tenho experimentado várias delas. Hoje, porém, tenho diante de mim que toda ação de Jesus, leva em conta três aspectos fundamentais:

-Jesus chama pecadores ao arrependimento e conversão. Para experimentar o Reino de Deus, a pessoa precisa passar por uma profunda transformação interior. Seus fundamentos e valores precisam ser convertidos para a sua vida, a paz, a liberdade, a justiça, o amor.

A nova vida tem como conseqüência a participação comunitária. Quem nasceu de novo é capaz de partilhar. Em suas cartas, o apóstolo João mostra que a característica primeira de um convertido ou nascido de Deus é a prática do amor. Amor é viver a solidariedade e praticar a justiça decorrente do Reino de Deus.

-Jesus integra os excluídos da sociedade. Jesus como caminheiro alcança cidades e aldeias. Ao seu encontro vem doentes de toda sorte, crianças mulheres, publicanos e pecadores. O agir de Jesus testemunha que o coração de Deus está aberto para reintegrar os que a sociedade tem excluído. Os pequeninos, os fracos, os pobres, as mulheres e as crianças experimentam a libertação da culpa, da dor e da rejeição.

O Reino de Deus é mostrado naquilo que Deus fez em suas vidas. João Batista ao ser assaltado por dúvidas manda mensageiros a Jesus para se certificar da vinda do Reino. A resposta que Jesus lhe manda é esta: Os cegos vêem, os coxos andam, os doentes são curados e os pobres são evangelizados.

-Jesus conjuga nova vida com nova ordem social. É difícil aceitar que Jesus tenha pretendido fundar uma nova religião. Ele veio trazer o Reino de Deus. Ora, o Reino não se limita à religião ou a Igreja. O evangelho exige uma transformação profunda, total, holística. Se assim não fosse Jesus não seria chamado de Senhor e Cristo.

Nós como povo evangélico riostrense não podemos esquecer que a Igreja é passageira. Ela só se justifica a medida que serve ao Reino de Deus. Ela como cada cristão é um vaso de barro que contém o Evangelho da salvação das criaturas e da criação de Deus. Por esta razão, nós como comunidade, podemos e devemos conjugar forças e esforços com aquelas iniciativas que buscam por vida mais justa e digna para pessoas e natureza.

Como deveria ser o povo evangélico afinal? Um povo onde cada um é verdadeiro cristão e verdadeiro cidadão. Um povo que deseja que os valores do Reino não alcancem apenas o dízimo, mas a totalidade de nossos recursos e padrões éticos. Um povo que testemunha na Igreja e na profissão. Que aposta na salvação pessoal e se empenha na salvação coletiva, nacional. Um povo que não aceita os favores e benesses da justiça, mas que empresta voz e gesto na busca por vida digna e plena. Um povo que apenas espera um futuro melhor, mas que está comprometido com a construção dos sinais do futuro Reino aqui, nesta Pátria que vive em um caos governamental e social. "... buscamos a cidade que há de vir" (Hebreus 13.14).

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