Um dia antes de ser enforcado pelo Governo Nazista em 1945, quase já no fim da Segunda Guerra Mundial, o pastor luterano que encarou o lobo austríaco vestido de alemão, declarou suavemente: “Este é o fim = para mim. O começo da vida.” No ano que o Estado de Israel completa 60 anos de fundação, aquele que lutou contra o exterminador dos judeus, tem 63 anos de morte relembrada pelos cristãos que não querem uma “graça barata”, mas aceitam e precisam da misericórdia do Deus Vivo. Dietrich Bonhoeffer, o filho de um professor de psiquiatria, que estudou teologia em Berlim e em Nova York. Que aos 27 anos, tornou-se capelão dos estudantes da Universidade de Berlim, no ano em que Hitler subiu ao poder. Que dirigiu um Seminário ilegal da Igreja Confessante, onde pregava que o verdadeiro crente, para preservar a verdade do cristianismo, deve sofrer e, se necessário, até morrer, se estivesse vivo, certamente se envolveria com o movimento de resistência a graça barata vendida nos supermercados religiosos em cada esquina de nossas cidades, ou na mídia eletrônica. No fatídico dia 8 de abril, ele havia profetizado o gênesis de sua vida com a lucidez dos homens que possuem o coração apaixonado por Deus. Bonhoeffer foi proibido de publicar livros, falar em público e ensinar, como fizeram com o profeta Jeremias quando prenderam seu corpo. Porém, sua mente e seu espírito continuavam livres. No século onde se cometem inúmeras injustiças e onde muitos das vezes, a Igreja se cala, Bonhoeffer, mesmo com seu curto período de vida e ministério pastoral, não deixou de impactar e influenciar pessoas com sua prática de fé e amor à Cristo, levando-nos a questionar a postura diante das injustiças e a sedução do cristianismo de mercado. Outro aspecto importante da teologia de Bonhoeffer que aprendemos, é que viver é uma questão de morrer, onde o mais profundo significado da vida, está não no tempo de vida, mas como você gastou sua vida. O escritor Martim Buber em “Contos de Hasidim” revela a História do Rabino Baumann que, no leito de morte, viu sua esposa chorando em conseqüência de sua morte eminente. Ele lhe perguntou: “Pelo que você está chorando? Toda a minha vida serviu apenas para que eu aprendesse como morrer. O salmista também com muita propriedade orou a Deus para que nos ensine a “contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria”. (Sl 90:12). Para muitos Bonhoeffer foi um louco, traidor da nação alemã, para outros ele foi um Martin de face serena e compassiva. Já para mim, ele foi um agente da graça de Deus. E para você? Quem sou eu? Dietrich Bonhoeffer Seguidamente me dizem que saio da minha cela tão sereno, alegre e firme qual dono de um castelo. Quem sou eu? Seguidamente me dizem que da maneira como falo aos guardas, tão livremente, como amigo e com clareza parece que eu esteja mandando. Quem sou eu? Também me dizem que suposto os dias de infortúnio impassível, sorridente e com orgulho como um que se acostumou a vencer. Sou mesmo o que os outros dizem de mim? Ou apenas sou o que sei de mim mesmo? Inquieto, saudoso, doente, como um passarinho na gaiola, sempre lutando por ar, como se me sufocassem, faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros. Sedento por palavras boas, por proximidades humana, tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha. Nervoso na espera de grandes coisas, em angústia impotente pela sorte de amigos distantes, cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir, desanimado e pronto para me despedir de tudo? Quem sou eu? Este ou aquele? Sou hoje este e amanhã um outro? Sou porventura tudo ao mesmo tempo? Perante os homens um hipócrita? E um covarde, miserável diante de mim mesmo? Ou será que aquilo que em mim perdura, seja como um exército em derradeira fuga, à vista da vitória já ganha? Quem sou eu? A própria pergunta nesta solidão, de mim parece pretender zombar. Quem quer que sempre eu seja, tu me conheces, Oh, meu Deus, SOU TEU.
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