sexta-feira, 30 de maio de 2008

Maiores abandonados


A visita a qualquer hospital psiquiátrico causa-nos profunda tristeza. No Hospital Nossa Senhora da Vitória em São Gonçalo – Rio de Janeiro/RJ, não foi diferente naquela terça-feira cheia de angústia e ansiedade, acompanhando a diaconisa Arinda da Costa Silva, que estava em uma missão especial de mãe, para externar e praticar com intensidade do coração, seu amor pela paciente Raquel, sua filha mais velha, que há treze anos percorre os labirintos do mundo da insanidade. Raquel, foi trazida ao pátio juntamente com as outras pacientes na hora do lanche da tarde. Com os cabelos desgrenhados, ela expressou uma felicidade de criança, do tipo, quando sua mãe chega do trabalho, trazendo na bolsa um presente, doce ou biscoito. Aquela clínica possui 420 pacientes, que buscam a cura para sua enfermidade mental. Muitos foram abandonados pelos familiares há anos, sem visitas até mesmo no Natal. Nem mesmo no dia do aniversário, a maioria dos internos não recebem presentes. No quarto de Raquel no pavilhão feminino, não existe um quadro com a foto do marido falecido, da filha noiva prestes a se casar ou do filho menor que se parece com um índio Curumim. Na entrada do sanatório, existe uma capela com uma imagem de gesso chamada de Vitória, contudo quando perguntada onde está sua vitória, Raquel responde de imediato: minha vitória está em Cristo! Naquele confinamento psiquiátrico, muitos vão terminar seus dias com a falta de senilidade, porém o diagnóstico médico para o agravamento da enfermidade, não é o câncer, problemas cardíacos, tão pouco pulmonares. A “doença” que mais atinge os pacientes psiquiátricos é a rejeição acompanhada da falta de amor dos familiares. O remédio para a cura de Raquel está no abraço de sua mãe, cansada pelas lutas da vida, no sorriso de seu único filho, no beijo da filha, chamada por muitos de Aline, mas acima de tudo na fé no amor incondicional de Jesus Cristo. Durante um momento de lucidez, Raquel foi interrogada o motivo dela freqüentar os cultos na Igreja e sem titubear respondeu com firmeza: “Por que nem os loucos erram o caminho do Céu”. O índice de abandono dos pacientes psiquiátricos na escuridão da loucura é assombroso, porém com dedicação e amor cristão essa chaga que tem assolado milhares de famílias no Brasil, poderá ser sarada. Nos últimos minutos da visita, quando Raquel entretida com a contagem dos biscoitos e balas, que ela ganhara de suas irmãs Ruth e Andréa, a direção da Clínica abriu uma exceção para outras visitas durante a semana, com a recomendação: “Não a abandonem”. O espírito cristão que prevalece no coração materno daquela mulher franzina, de cabelos embranquecidos e mãos calejadas de sofrimento, olhos embaçados pela dor, reafirmou o compromisso declarado a cerca de dois mil anos atrás pelo Senhor Jesus para todos os seus filhos: “Jamais te abandonarei”. “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb.13:5)

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