sábado, 3 de maio de 2008

Um contra todos e todos contra um


Os três mosqueteiros que lutavam contra os desmandos do cardeal Richelieu na França, tornando-se personagens da literatura universal, tinham uma frase em comum no brandir de sua esgrima: “Um por todos e todos por um”.Assisti aos filmes de capa e espada, com a demonstração de amizade e união de Dartagnan para com seus companheiros de aventuras, me emocionava enquanto adolescente, porém, ao chegar a fase adulta e ingressar no ministério pastoral acreditando na unidade da Igreja, preconizada nas Sagradas Escrituras, descobri que a frase mais pronunciada no clero evangélico é: “Um contra todos e todos contra um”. Certa vez, fui convidado a participar de um culto evangelístico em uma Catedral Pentecostal, onde o pregador eloqüente e profundo conhecedor da Palavra foi rejeitado pelo ministério local, por ser considerado muito jovem, portanto inexperiente. Já, em outra igreja, um pastor de idade avançada, assumiu a presidência da Igreja com bastante rigidez na aplicação de costumes, sendo também rechaçado pela a juventude, por considerá-lo antiquado. Esta é a nossa postura mais comum. Um contra todos e todos contra um.
Peter Meiderlin, teólogo luterano da cidade de Augsburg, na Alemanha, escreveu, em 1627, um livrete, descrevendo um sonho em que Cristo lhe aparece pedindo que vigie, pois será tentado. Logo depois o diabo, vestido de anjo de luz, aparece dizendo que vem da parte de Deus e começa a profetizar a respeito da necessidade de os eleitos se manterem puros na sã doutrina. A verdade que eles herdaram deve ser preservada numa nova denominação doutrinária, livre da contaminação de heresias. Quando o teólogo ora sobre o que deverá fazer, imediatamente o diabo some e Cristo reaparece, encorajando-o a permanecer fiel à simplicidade e humildade de coração. Ele acorda do sonho e escreve o tratado que termina com esta frase: “Si nos servaremus In necessariis Unitatem, In non-necessariis Libertatem, In utrisque Charitatem, optimo certe loco essent res nostrae” (No essencial, unidade; no não essencial, liberdade; e em ambas as coisas, a caridade).
Como diria a missionária Braulia Ribeiro, atual presidente da Jocum: “Parece-me que o cenário cristão da Europa do século 17 não é muito diferente do cristianismo de hoje. O diabo continua usando a mesma estratégia para impedir que a oração de Jesus por nós (João 17) seja respondida. Ele se especializou em nos manter afastados uns dos outros, em nome da própria verdade que deveria nos unir. Distanciamo-nos por causa da pureza doutrinária. Acreditamos que nosso “logos” é melhor que o dos outros, esquecendo que o logos é a encarnação do perdão e da humildade e a razão principal por que deveríamos buscar a unidade e não a exclusão. Rotulamos pastores, igrejas, correntes doutrinárias, grupos inteiros de cristãos, desprezando-nos mutuamente, com ironias e sarcasmo.”

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